Fundado em 16/07/1996 publicado 02/02/2006 |
A reencarnação é tão simples como mudar de roupa, sem mudar a essência, onde em cada existência, se bem aproveitada, poderá trajar uma vestimenta cada vez mais brilhante e transparente. Ambrósio ./ Otacir Amaral Nunes. |
LIÇÃO PLENA O benfeitor não sabia o que fazer com aquele homem que reclamava de tudo. Nada estava bom, reclamava do governo, dos vizinhos, dos companheiros de trabalho, da família, da chuva, do sol, do frio. O vizinho da direita era um idiota não sabia do que fazia da vida; o dirigente religioso de sua fé era um hipócrita, pois que pregava uma coisa e fazia outra; o colega de trabalho não tinha noção da realidade, e considerações descabidas, até que um dia num encontro em sonho, sem se abalar com o natural destempero verbal do seu protegido, disse-lhe. - A base de todo o fundamento moral está personificado em Jesus Cristo, a quem nós nos dispomos a servir, sendo modelo de tudo que há mais completo no que se refere à evolução moral no mundo não é verdade, Cassiano? - Claro, claro, ele nosso Mestre e Guia mais ainda um Pai amoroso e justo. - Pois bem. Nasceu Jesus numa manjedoura num dia frio de inverno, por não ter outra opção. Era tão pobre que “não tinha uma pedra para recostar a cabeça”. Também o menosprezaram os poderosos: “Mas este não é o filho do carpinteiro?” Bastando lembrar que os escribas e os fariseus perseguiram-no tenazmente, além do mais reprovavam a sua conduta, porque se alimentava com publicanos e pecadores e sem fazer acepção de ninguém. Acolheu a Maria Madalena que estava preste a ser apedrejada em praça pública, julgada de má vida; visitou Zaqueu, publicano odiado; chamou à vida os quase mortos, restituiu a visão a cegos, recompôs o corpo de leprosos, paralíticos andaram, enfim curou enfermos de todos os matizes, não pedindo a ninguém um atestado de conduta. Mais ainda, fora traído por Judas por trinta moedas de prata, Pôncio Pilatos lavou as mãos para fugir a responsabilidade de libertá-lo, Pedro o negou três vezes, embora poucas horas antes lhe hipotecasse fidelidade, foi julgado por Caifás e por Anás - juízes iníquos, trocado por um malfeitor pertinaz, chamado Barrabás, no derradeiro instante pediu ao Pai que perdoasse aqueles assassinos que o crucificavam, morreu numa cruz sob o escárnio da turba enlouquecida, foi humilhado, chicoteado, e depois ainda saiu daqui acompanhado de dois ladrões... No entanto, vejo que reclamando de todos, parece que não escapa ninguém de seu julgamento, embora Jesus recomendasse para que não julgasse. Nessa história que tanto reclama é importante fixar os seus princípios: a quem deseja servir? Porque da maneira como se apresenta, é difícil avaliar a quem tem por modelo e guia, pois que não se pode fazer a distinção entre aqueles que abraçaram a grande causa do Cristo e aqueles que o maltrataram de todas as formas. É bom decidir de que lado deseja ficar, dos zombadores e escarnecedores ou daquele que veio libertar o homem do jugo da ignorância, cada um pode fazer a sua escolha, o que não pode é falar uma coisa e fazer outra, inclusive, conforme classificam alguns dos seus companheiros de jornada, como hipócritas, velhacos, perdulários, e outros adjetivos ainda mais vis. Ponderou ainda o amigo espiritual, após alguns segundo em silêncio e perguntou-lhe: - o que lhe parece esses exemplos? A autoridade moral daquele Espírito era tão incisiva, como fino punhal a revolver as suas entranhas. Ficando sem palavras, fazia gestos desconexos, sem responder, não sabia se ria ou se chorava, por fim, pediu licença para se retirar. O benfeitor ainda ficou acompanhando com o olhar o seu tutelado até desaparecer na curva do caminho, como se já esperasse essa reação, mas tinha necessidade de fixar certas lições esse tutelado que tem lhe dado muito trabalho. Áulus
REENCARNAÇÃO A VISTA Ao descrever a alma humana em sua trajetória evolutiva observarão que muitas tiveram origem há muitos milênios, no entanto, por ser a terapia da reencarnação que permite se recapitulem certas lições mal assimiladas e assim em cada existência o espírito possa estar mais seguro da liberdade e com a sua própria consciência, pois que corrigindo em cada uma delas algumas imperfeições, é certo que um dia se tornará livre para ser feliz. Mas ao longo do caminho nem sempre conseguirá de uma feita superar certos obstáculos, porque os apelos da matéria ainda são muito fortes e nem sempre é possível corrigir certos deslizes do passado que se inscreveram na ficha reencarnatória como contas a pagar. Assim, que na contabilidade da vida, o esforço do interessado é imprescindível para superar as deficiências que traz consigo de outras existências mal vividas. Como também a reencarnação surge com a possibilidade de colocar frente a frente os adversários do pretérito para que a reconciliação seja possível, que da inimizade de ontem, seja transformada em convivência pacifica. Assim que é bom aproveitar cada oportunidade de ser útil, portanto, se valham dos momentos aqui vividos para se reescrever outros capítulos da sua história, esclarecendo muitos pormenores que constam de sua trajetória evolutiva, como também os esforços que aplique em vencer os seus desafios e superar as suas mazelas naqueles dias de amargas provações, de maneira que nada fiquem em suspenso. É lógico que constará todo o histórico que fizera para superá-las. Como se estivesse em demonstração os comprovantes que pagou toda divida e muitas vezes pelos sofrimentos que conseguiu superar e como também a lição que extraiu do melhor, para de futuro não repetir os mesmos erros. Pelas anotações evangélicas se tem conhecimento da parábola do Filho Pródigo, em que depois de incontáveis dias de sofrimento este filho amado lembrou-se com saudade que na casa do Pai onde havia tanta abundância de alimentos para o corpo e para espírito, porque haveria ele de viver distante e na miséria? Alimentando-se de coisas impróprias à vida. O Pai de família muito se alegrou com a notícia que o filho amado retornaria ao seu verdadeiro lar, inclusive mandou preparar uma festa para que ele fosse acolhido com carinho e atenção. E o filho amado que estivera por tanto tempo ausente, finalmente um dia deu um grande passo e no limiar do solar paterno, revestiu-se de humildade e discernimento, e disse-lhe: Pai, eu pequei contra ti e contra os Céus, permita volte ao lar? E que muito gostaria que fosse admitido como um dos menores servos de sua casa. Somente com um pai generoso que é o nosso Criador é que permite que o filho reconheça os seus erros e decida corrigi-los mediante a sua decisão e para retornar a casa do Pai ainda que fosse o filho rebelde. Assim é o beneficio que a reencarnação proporciona para que aquele filho que por momento não entendeu direito a lei do amor e retirou-se dos domínios da casa paterna para viver o seu mundo, depois que as desilusões bateram a sua porta, compreendeu finalmente que havia deixada para traz o que havia de mais precioso em sua vida. O senhor muito se alegrou com aquela decisão e mandou preparar uma festa para receber o filho amado que retornava ao lar. No entanto, o filho mais velho ficou enciumado pela preferência ao mais moço e foi ter com o seu genitor, dizendo: Pai, eu que sempre estive contigo e nunca me concedeu a mínima possibilidade para me alegrasse com os meus amigos, quando tudo faz por esse que dissipou parte de sua fortuna. Meu filho! É verdade que sempre esteve comigo. E sempre teve a melhor acolhida. Mas hoje o seu irmão retornou ao lar, por isso se alegre também porque ele voltou, pois que representa como se fosse uma ovelha preciosa a nossa convivência e estava perdida e hoje retornou para casa de onde nunca deveria ter saído, por isso não se entristeça, mas pelo contrário se alegre muito, meu filho, porque de sua parte também nunca não teve que enfrentar os vendavais da vida, pois que tinha a proteção do seu lar estruturado no amor e na caridade. Áulus
ANJOS E DEMÔNIOS Durmam com os anjos meus filhos, tenham bons sonhos e Deus os abençoe... frase frequentemente repetida pelos pais que ninam seus pequeninos filhos. A quais anjos os pais se referem? Aos anjos bons, é claro, porque os pais desejam tudo de bom para os seus filhos amados. Mas, será então que existem anjos maus ou demônios como diz a igreja? A sociedade religiosa desde há muito fala e define uma hierarquia dos anjos, classificada e apregoada pela igreja mais antiga. Essa hierarquia angelical nos fala de anjos, arcanjos, serafins e em nível inferior, uma hierarquia infernal: abadon, abigor, abramelec, agrarés, amaiomon, anduscias, andrialfo, asmodeu, astarote, azazel, behemot, belfegor, belial, belzebu, cimério, dagon, eurínomo, exael, furcas, gamigin, iblis, Leviatã, licas, lilith, satã, satanás, lúcifer e outros nomes da mesma criatura devotada ao mal perene. Anjo em hebraico é mal'akh e em grego é anggelos e que dizer “mensageiro”. Na Bíblia sagrada os anjos surgem inúmeras vezes auxiliando os homens com seus bons conselhos, com adivinhações e premonições, trazendo a vontade de Deus pela voz dos profetas e até mesmo com auxílio material como no caso da libertação do apóstolo Pedro da prisão. A igreja tem na mais alta hierarquia os arcanjos, verdadeiros líderes dos anjos, e ligam o homem a Deus pela profecia, que hoje, pelo Espiritismo, é chamada de mediunidade, sendo Miguel o maior deles. Já os serafins rodeiam o Trono do Todo-Poderoso representando intenso amor e luz de luminosidade maior que a do Sol; são os mais velhos e têm seus pensamentos superados apenas pelo pensamento do Criador. Nem sempre a palavra demônio significou anjo mau, satã, satanás ou lúcifer, pois o termo grego daimon significa gênio, inteligência e é aplicado aos seres sem corpos materiais. A luta entre o bem e o mal, a base das crenças religiosas por muito tempo, como Oromas e Arimane nos persas, em Jeová e Satã entre os hebreus gerou essa falsa doutrina dos dois princípios (bem e mal). A doutrina Espírita trouxe luz sobre esse assunto e analisando os apanágios, isto é, os atributos da divindade, que tudo criou, demonstra a falsidade desses conceitos implantados pela ignorância dos povos atrasados que desconheciam esses atributos. Se existisse satanás, não como a personificação do mal e sim como uma entidade real, conforme a igreja, ele seria obra, seria criação de Deus. Ora, tendo Ele a onisciência, que tudo sabe, a fonte inesgotável do amor absoluto, como poderia ter criado seres destinados ao mal e fazerem o mal eternamente? Se não fosse criação de Deus, então existiriam duas potências criadoras e opostas e Deus não seria único. Se Deus é infalível, como poderia criar um ser perfeito, como fala a igreja, e esse ser, criado perfeito, pela vontade Dele, ter se rebelado contra seu Criador? Em sendo assim, a igreja admite que Deus erra, que Ele é falível como suas criaturas. A doutrina Espírita com sua lógica impecável, irrefutável, não aceita a diminuição dos atributos de Deus e entende, através do Cristianismo, que Deus é a suprema e soberana inteligência, eterno, imutável, imaterial, Todo-Poderoso, soberanamente justo e bom, infinitamente perfeito e único. Garantindo todos os atributos do foco criador e mantenedor do Universo, afirma a salutar doutrina que Deus cria de toda eternidade, conforme explicitou Jesus, e nos criou todos iguais, espíritos simples e ignorantes do bem e do mal, ignorantes de suas leis, mas deu-nos a perfectibilidade, a capacidade de chegarmos à perfeição por nossos próprios esforços, garantindo assim o mesmo destino a todos, que é a perfeição, a mesma perfeição que nos incitou Jesus a atingir. É claro que o mal e os malfeitores existem em níveis tão altos que sequer conseguimos imaginar. Esses espíritos que o executam, sejam encarnados ou não, por apatia, negligência, obstinação ou má vontade, permanecem por mais tempo nas classes inferiores, e o próprio hábito de praticar o mal lhes dificulta a regeneração. Porém, chega o dia em que se cansam do próprio mal e do sofrimento que lhe é inerente e vislumbram a vida serena e feliz dos bons espíritos; tomam então a boa resolução de se melhorarem, e Deus, que é a suprema bondade, nunca lhes negará a oportunidade de no renascimento na vida corporal (reencarnação) executarem suas boas resoluções, ou falirem novamente nos seus propósitos de melhoria, se não fizerem bom uso do livre-arbítrio, que Deus respeita. Todos os Espíritos percorrem o mesmo caminho da evolução, saindo da ignorância para o conhecimento das leis de Deus e quando aprendem tudo, chegando à última classe, à classe dos Espíritos puros, não mais necessitarão de se reencarnar em corpos materiais e passam a auxiliar Deus na manutenção da harmonia do Universo. Aí então, poderão ser chamados de anjos, mas anjos que fizeram por merecer e não porque tiveram predileção especial por parte de Deus. Tudo o que Deus faz é útil e bom. Suas leis só traduzem o bem, e o mal é por nossa conta. Allan Kardec ao inquirir os imortais em O Livro dos Espíritos sobre como distinguir o bem do mal, recebeu como resposta que “O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la.” Que os anjos nos amparem a todos. Crispim. Referências bibliográficas:
DIMENSÕES ESPIRITUAIS DO CENTRO ESPÍRITA
Parte I Introdução: Costumamos freqüentar o Centro Espírita durante anos sem atentarmos para aspectos mais profundos da sua importância, pois o vemos apenas como o local onde vamos buscar ajuda, consolo, amparo e esclarecimento, e onde se tem um bom ambiente espiritual, apropriado para as reuniões espíritas. Não nos damos conta de toda a complexa estrutura espiritual que mantém uma sede de atividades espíritas, no âmbito dos encarnados, para que ela possa atuar nos dois planos da vida. Entretanto, há alguns anos, estamos sendo conscientizados, principalmente através de mensagens dos Instrutores Espirituais, do que é, na realidade, o Centro Espírita e a premente necessidade que temos de adequá-lo e preservá-lo de acordo com as diretrizes da Codificação, bem como dos cuidados com que a Espiritualidade Maior cerca e dispensa, ao longo do tempo, aos núcleos espíritas que estão incluídos entre os que são merecedores dessas providências, pelo trabalho sério, nobre e edificante que realizam. O Espírito Manoel Philomeno de Miranda relata no capítulo 21 do livro Tramas do Destino, como são os planejamentos espirituais de um Centro Espírita, inclusive relatando os compromissos assumidos pela equipe espiritual que trabalharia diretamente com os encarnados, junto àquele que seria o seu patrono, no caso o Espírito Francisco Xavier, que foi abnegado trabalhador do Cristianismo no século XVI. Iremos enfocar aqui alguns desses planejamentos do plano extrafísico, e como são efetuados na prática pelos Benfeitores Espirituais, fazendo uma reflexão em torno da participação dos encarnados, enquanto tarefeiros da seara espírita.
Alicerces espirituais O Centro Espírita é muito mais do que a casa física que lhe serve de sede. Transcende às paredes, aos muros que o circundam e ao teto que o cobre. Em verdade, o Centro Espírita é um complexo espiritual em que se labora nos dois planos da vida, a física e a extrafísica, e com as duas humanidades, a dos encarnados e a dos Espíritos desencarnados. Em razão disso, as providências e cuidados da Espiritualidade Maior são imensos quanto ao planejamento e a organização de uma instituição espírita. Já há muito sabemos que as planificações espirituais antecedem as dos encarnados, por isso se diz, comumente, quando se pensa e projeta uma obra espírita, que esta já estava edificada na Espiritualidade. O que é real e verdadeiro. Os alicerces espirituais, portanto, são “levantados” bem antes, servindo de modelo para a obra que se pretende edificar no plano terreno. O Centro Espírita não é a casa onde ele se abriga, mas, sim, o labor que ali se desenvolve, o ambiente que se cultiva e preserva, a organização intemporal que o orienta e assessora, os objetivos e finalidades que o norteiam, o ideal e o sentimento com que o conduzem. Por isso prescinde a obra espírita do luxo e do supérfluo para atender à simplicidade e ao conforto que a tornem acolhedora. As suas bases, os seus alicerces espirituais assim argamassados farão com que a obra se erga firme na Terra e permaneça de pé vencendo as tormentas e vicissitudes humanas. É “a casa edificada sobre a rocha”, de que nos fala Jesus, capaz de resistir através dos tempos. Mas que só se materializará se a equipe encarnada colocar dia a dia os tijolos do amor e o cimento da perseverança; se os labores ali efetuados levarem o sinete da caridade e do desinteresse pessoal, transformando-se assim em templo e lar, hospital e escola. Reafirmamos: para isto não há necessidade de que a obra seja luxuosa ou grandiosa; ela poderá ser uma casinha simples, despojada, de acordo com a realidade local, e ter uma atmosfera espiritual resplandecente, resultante do trabalho que ali se realiza, pois no dizer de Léon Denis “no mais miserável tugúrio há frestas para Deus e para o Infinito”.
A direção espiritual Os planos iniciais para a fundação de um Centro Espírita ocorrem na Espiritualidade com antecedência de muitos anos, quando a equipe espiritual assume a responsabilidade de orientar e assessorar as futuras atividades que ali serão desenvolvidas. Isto é feito em sintonia com aqueles que irão reencarnar com tais programações. Para chegar-se a estabelecer esses compromissos são estudadas as fichas cármicas daqueles que estarão à frente da obra no plano material, convites são feitos, planos são delineados e projetados para o futuro. Não podemos nos esquecer que aqueles que se reúnem para um labor dessa ordem não o fazem por casualidade. Existem planificações da Espiritualidade que antecedem, portanto, à reencarnação dos que irão laborar no plano físico. O projeto visa essencialmente a atender aos encarnados, pois através desse labor são concedidas oportunidades de crescimento espiritual, ensejos de resgate e redenção; reencontros de almas afins, de companheiros do passado ou, quem sabe, desafetos no caminho da tolerância e do perdão que a diretriz clarificadora do Espiritismo e a atmosfera balsâmica do Centro propiciarão. Para que isto seja alcançado, a Casa Espírita apresenta um leque de opções variadas de aprendizado e trabalho, onde se favorece a transformação moral, que deve ser o apanágio do verdadeiro espírita, através do exercício da caridade legítima a encarnados e desencarnados, da tolerância e da fraternidade no convívio com os companheiros – o que, em última análise, é a vivência espírita, que traz nos seus fundamentos a mensagem legada por Jesus. Todavia, muitos desses ensejos de reconciliação, de harmonia, de progresso espiritual; muitas das esperanças e expectativas dos Benfeitores Espirituais são desdenhadas por nós, os encarnados, que esquecidos dos compromissos assumidos deixamo-nos envolver pelo personalismo, pela vaidade, pela disputa de cargos e deferências, pelo ciúme e inveja, por nos acreditarmos melhor que os outros, que somente nós sabemos e somos espíritas de verdade, que temos missão especial, quando não enveredamos por esse novo prisma de considerarmos a Casa Espírita como uma empresa, que deve ser dirigida friamente e dar constantes lucros, não importando que a Causa seja postergada e colocada em segundo plano para que tais resultados sejam alcançados, enfim, todos esses desvios de curso, todas essas idiossincrasias que abrem campo às dissidências e à sintonia com espíritos interessados em retardar a marcha do bem quanto a de nós próprios. Quando, porém, sentimos e vivemos as diretrizes espíritas, é mais fácil compreender o nosso companheiro difícil e com ele conviver, aprendendo a estimá-lo realmente. Porque é mais fácil amar aquele que vem pedir socorro e que nos estende a mão do que o companheiro ao nosso lado, investido, muita vez, da posição de “fiscal” de nossas atitudes. Os Amigos Espirituais muito esperam de nós nesse campo da rearmonização com o nosso passado, porque, talvez, pela primeira vez já sabemos quanto às implicações do passado e responsabilidades no presente. Por isto é essencial que nos esforcemos para viver as diretrizes espíritas, a fim de que honremos o Espiritismo não somente “com os lábios”, mas essencialmente com o coração, com o melhor de nós mesmos. Os recursos magnéticos de defesa Vejamos como Manoel Philomeno de Miranda explica quais as providências adotadas com relação à fundação do Centro Espírita Francisco Xavier: “(...) antes mesmo que se definissem os planos da edificação material da Casa, foram tomadas medidas no que dizia respeito aos contingentes magnéticos no local e outras providências especiais. Ergueu-se, posteriormente, o Núcleo, em cuja construção se observaram os cuidados de zelar pela aeração, conforto sem excesso, preservando-se a simplicidade e a total ausência de objetos e enfeites que não os mínimos indispensáveis móveis e utensílios para o seu funcionamento... Todavia, nos respectivos departamentos reservados à câmara de passes, recinto mediúnico e sala de exposições doutrinárias, foram providenciadas aparelhagens complexas e com finalidades específicas, para cada mister apropriadas, no plano espiritual. Esses recursos magnéticos que constituem as defesas espirituais de um Centro Espírita fiel aos princípios da Codificação Kardequiana, conforme as circunstâncias o exigem, podem ser intensificados tal como é relatado no notável livro da querida médium Yvonne Pereira, Memórias de um Suicida, quando é mencionada a instituição na qual seriam realizadas algumas sessões mediúnicas especiais para atendimento de um grupo de suicidas.
Suely Caldas Schubert
TERCEIRA REVELAÇÃO “O simples fato de poder o homem comunicar-se com os seres do Mundo Espiritual traz conseqüências incalculáveis da mais alta gravidade; é todo um mundo novo que se revela e que tem tanto mais importância, quanto a ele hão de voltar todos os homens, sem exceção. O conhecimento de tal fato não pode deixar de acarretar, generalizando-se, profunda modificação nos costumes, caráter, hábitos, assim como nas crenças, que tão grande influência exercem sobre as relações sociais. É uma revolução completa a operar-se nas idéias, revolução tanto maior, tanto mais poderosa, quanto não se circunscreve a um povo nem a uma casta, visto que atinge, simultaneamente, pelo coração, todas as classes, todas as nacionalidades, todos os cultos. Razão há, pois, para que o Espiritismo seja considerado a terceira das grandes revelações”. Extraído do livro“ A Gênese ” Item 20, de Allan Kardec .
ESPIRITISMO E DIVULGAÇÃO O excelente advogado Joaquim Mota, espírita de convicção desde a primeira mocidade, possuía ideias muito próprias acerca do pensamento religioso. Extremamente sensível, julgava um erro expor qualquer definição pessoal, em matéria de fé. “Religião – costumava dizer – é assunto exclusivo de consciência”. E fechava-se. Na biblioteca franqueada aos amigos, descansavam todos em percalina e dourados, reunindo escritores clássicos e modernos, em ciência e literatura. Conservava, porém, os livros espíritas isolados em velha cômoda do espaçoso quarto de dormir. Não agia assim, contudo, por maldade. Era, na essência, um homem sincero e respeitável, conquanto espírita à moda dele, sem a menor preocupação de militância. Espécie de ilha amena, cercada pelas correntes do comodismo. Encasquetara na cabeça o ponto de vista de que ninguém devia, a título algum, falar a outrem de princípios religiosos que abraçasse, e prosseguiu, vida a fora, repelindo qualquer palpite que o induzisse à renovação. Era justamente a esse homem que fôramos confortar, dentro da noite. Mota vinha de perder a companhia de Licínio Fonseca, recentemente desencarnado, o amigo que lhe partilhara vinte e seis anos de serviço no foro. Ambos amadurecidos na existência e na profissão, após os sessenta de idade, eram associados invariáveis de trabalho e de luta. Juntos sempre nos atos jurídicos, negócios, interesses, férias e excursões. Sem o colega ideal, baqueara Mota em terrível angústia. Trancava-se em lágrimas, no aposento íntimo, ansiando vê-lo em espírito... E tanto rogou a concessão, em preces ocultas, que ali nos achávamos, em comissão de quatro cooperadores, com instruções para levá-lo ao companheiro. Desligado cautelosamente do corpo, que se acomodara sob a influência do sono, embora não nos percebesse o apoio direto, foi Joaquim transportado à presença do amigo que a morte arrebatara. No leito de recuperação do grande instituto beneficente a que fora recolhido, no Mundo Espiritual, Licínio chorou de alegria ao revê-lo, e nós, enternecidos, seguimos, frase a frase, o diálogo empolgante que se articulou, após o júbilo extrovertido das saudações. - Mota, meu caro Mota – soluçou o desencarnado, com impressionante inflexão -, a morte é apenas mudança... Cuidado, meu amigo! Muito cuidado!... Quanto tempo perdi, em razão de minha ignorância espiritual!!... Saiba você que a vida continua!... - Mas eu sei disso, meu amigo – ajuntou o visitante, no intuito de consolá-lo -, desde muito cedo entrei no conhecimento da imortalidade da alma. O sepulcro nada mais é que a passagem de um plano para outro... Ninguém morre, ninguém... - Ah! você sabe então que o homem na Terra é um Espírito habitando provisoriamente um engenho constituído de carne? Que somos no mundo inquilinos do corpo? – indagou Licínio, positivamente aterrado. - Sei, sim... - E você já foi informado de que quando nascemos, entre os homens, conduzimos ao berço as dívidas do passado, com determinadas obrigações a cumprir? - De modo perfeito. Muito jovem ainda, aceitei o ensinamento e a lógica da reencarnação... - Mota!... Mota!... – gritou o outro visivelmente alterado – você já consegue admitir que nossas esposas e filhos, parentes e amigos, quase sempre são pessoas que conviveram conosco em outras existências terrestres? Que terrestres? Que estamos enleados a eles, frequentemente, para o resgate de antigos débitos? - Sim, sim, meu caro, não apenas creio... Sei que tudo isso é a verdade. - E você crê nas ligações entre os que voltam para cá e os que ficam? Você já percebe que uma pessoa na Terra vive e respira com criaturas encarnadas de obsessão, entre os chamados vivos e mortos, raiando na loucura e no crime?!... - Claramente, sei disso... O interlocutor agarrou-lhe a destra e continuou, espantado: - Mota! Mota! Ouça!... Você está certo de que a vida aqui é a continuação do que deixamos e fazemos? já se convenceu de que todos os recursos do plano físico são empréstimos do Senhor, para que venhamos a fazer todo o bem possível e que ninguém, depois da morte, consegue fugir de si mesmo?... - Sim, sim... Nesse instante, porém, Licínio desvairou-se. Passeou pelo recinto o olhar repentinamente esgazeado, fez instintivo movimento de recuo e bradou: - Fora daqui, embusteiro, fora daqui!... O visitante, dolorosamente surpreendido, tentou apaziguá-lo: - Licínio, meu amigo, que vem a ser isso? acalme-se, acalme-se... – Sou eu, Joaquim , seu companheiro do dia-a-dia... - Nunca! Embusteiro, mistificador!... Se ele conhecesse as realidades que você confirma, jamais me teria deixado no suplício da ignorância... Meu amigo Joaquim Mota é como eu, enganado nas sombras do mundo... Ele foi sempre o meu melhor irmão!... Nunca, nunca permitiria que eu chegasse aqui, mergulhado em trevas!... Mota, em pranto, intentava redarguir, mas interferimos, a fim de sustar o desequilíbrio e, para isso, era preciso afastá-lo de imediato. Mais alguns minutos e o advogado reapossou-se do corpo físico. Nada de insegurança que o impelisse à idéia de sonho ou pesadelo. Guardava a certeza absoluta do reencontro espiritual. Estremunhado, ergueu-se em lágrimas e, sequioso de ar puro que lhe refrigerasse o cérebro em fogo, abriu uma das janelas do alto apartamento que lhe configurava o ninho doméstico. Mota contemplou o casario compacto, onde, talvez, naquela hora, dezenas de pessoas estivessem partindo da experiência passageira do mundo para as experiências superiores da Vida Maior e, naquele mesmo instante da madrugada, começou a pensar, de modo diferente, em torno do Espiritismo e da sua divulgação. Irmão X
“ É preciso que nós, os espíritas, compreendamos que não podemos nos distanciar do povo, porque o Espiritismo veio para o povo e com ele dialogar. É com as massas, que amemos todos os companheiros, mas sobretudo, aos mais humildes social e intelectualmente falando e deles nos aproximemos com real espírito de compreensão e fraternidade. É preciso fugir da elitização que ameaça o movimento espírita” Indagado sobre os responsáveis por isso, afirmou: “Não, o problema não é de direção ou administração em si, pois precisamos administrar a nós mesmos, mas a maneira como a conduzem, isto é, a falta de aproximação com os irmãos socialmente menos favorecidos, que equivale à ausência de amor, presente no excesso de rigorismo, de suposta pureza doutrinária, de formalismo por parte daqueles que são responsáveis pelas nossas instituições; é a preocupação excessiva com a parte material das instituições...” Mensagem do livro “Chico, de Francisco” de Adelino da Silveira Ed. CEU.
MISSÃO DOS PAIS ESPÍRITAS
" A melhor escola ainda é o lar, onde a criatura deve receber as bases do sentimento e do caráter ”. Emmanuel - Consolador – questão 110. Vivemos uma época de profundas transformações, em que os valores que regem a sociedade estão sendo profundamente questionados. Nunca se buscou tanto o prazer e a satisfação doentia das paixões e, ao mesmo tempo, nunca se sentiu tanta falta de orientação e amparo à família que possam amparar o homem para a modernidade, sem levá-lo à bancarrota moral. Sem dúvida, as mudanças fazem parte do processo de evolução. Mas somente com a luz viva da verdade espiritual da reencarnação, com o entendimento da destinação evolutiva do homem, com a compreensão da lei de ação e reação o ser humano conseguirá captar a importância da busca pela riqueza espiritual, cumprindo o mister de renovar a sociedade, renovar os homens.
Os Pais e a Educação A renovação das criaturas se fará através da educação. A educação se inicia na infância, desde os primeiros momentos do espírito encarnado. E a responsabilidade de educar estas almas que retomam compete aos Pais. Se há grande importância em dirigir um carro, dirigir uma empresa, maior ainda é a importância de dirigirmos um espírito eterno em seus primeiros passos na presente encarnação. As situações meramente humanas passam, mas o moral, o caráter, os sentimentos são elementos divinos que caracterizam a alma que, na infância se encontra fragilizada pelas Leis Divinas, para que tenha a chance de se reajustar e aprender novas lições. Com Allan Kardec temos a magistral análise: "Pode considerar-se como missão a paternidade? É, sem contestação possível, uma verdadeira missão. É ao mesmo tempo grandíssimo dever e que envolve, mais do que pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro". O compromisso de sermos pais ou mães foram assumidos na Pátria Espiritual, e reafirmados por ocasião do nosso casamento, na formação da nova família. A responsabilidade dos pais é imensa na educação dos filhos. Não somente na preocupação de dar-lhes alimento, vestiário, brinquedos, lazer, escola, faculdade, conforto, mas principalmente na dedicação em colocar-lhes no coração os sentimentos e virtudes que os orientarão e lhes iluminarão os caminhos. Novamente Kardec elucida: "Os Espíritos dos pais têm por missão desenvolver os de seus filhos pela educação. Constitui-lhes isso uma tarefa. Tornar-se-ão culpados, se vierem a falir no seu desempenho." Assim, ninguém poderá tirar dos genitores a responsabilidade da tarefa Isto não significa, em hipótese alguma, que os pais devem realizar uma incrível "mágica" transformar seus filhos em "anjos" em alguns anos de convivência. O que Jesus nos pede é que sejamos sempre esforçados e dedicados a tão importante encargo, não desanimando ante as dificuldades ou desprezando o lar pela busca obsessiva dos fatores transitórios. O espírito não se modificará intensamente de um momento para outro. Mas todo bom exemplo, toda boa palavra, toda corrigenda sincera, todo diálogo, toda energia, todo carinho, toda disciplina e todo amor jamais se perderão, mesmo que tenham sido encaminhados a um coração endurecido pelo mal, pela preguiça, pelo orgulho e pelo egoísmo.
Joamar Zanolini Nazareth
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ANO IX - Nº 103– Campo Grande/MS -agosto de 2014.. |