"Luzes do Amanhecer"

Fundado em 16/07/1996 publicado 02/02/2006
JORNAL DE DIVULGAÇÃO ESPÍRITA - ANO XI - N. 132 * Campo Grande/MS * Janeiro de 2017.
EDIÇÃO DO CENTRO ESPÍRITA “VALE DA ESPERANÇA”
Rua Colorado n o 488, Bairro Jardim Canadá, CEP 79112-480, Campo Grande-MS.

Luzes_do_Amanhecer_132.pdf
Click Aqui - Para Baixar

 

A sua parte é importante, embora argumente: mas que valerá um grão de areia na vastidão do deserto, mas a imensidão do deserto compõe-se de minúsculos grãos de areia igual a você.

 

A GRANDE SURPRESA


  
            ”Se nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens”. ( I Coríntios15, 19).

            Quero beijar as suas mãos carinhosas que homenageiam a minha memória e ouvir em meu favor o doce murmurar de uma prece; com certeza será a maior felicidade neste dia de lembranças e saudades... Em muitos lugares há dúvida quanto à continuação da vida, porém, quero garantir a realidade consoladora de que a vida continua, isto é, que a vida é uma sequência, sem solução de continuidade.
            Naturalmente muitos já se perguntaram qual será a grande surpresa depois desses breves dias vividos neste mundo.
            Talvez a grande surpresa neste outro lado da vida, seja que tudo continua tão igual como sempre fora. Não encontrará paraíso que não tenha conquistado pelo duro labor de amar ao próximo como a si mesmo, nem um lugar abominável, como querem alguns menos avisados, porque neste caso, seria blasfemar, pois Deus criou o homem para a felicidade.
            Também é claro que aquele que porventura se extraviou ao longo do percurso, certamente terá o seu caminho infinitamente mais longo, em relação àquele que sempre pautou a vida pelo amor e pela caridade. Contudo, em absoluto, ninguém estará perdido em definitivo, porém, sofrerá com as naturais dificuldades de quem vivera à margem da lei.
            A felicidade tão sonhada será uma construção individual, porque hoje há, graças a Deus, o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo para orientar os seus passos no mundo. Por isso viva intensamente esse postulado de amor com todas as forças de seu coração, pois, com certeza, abrirá um caminho iluminado para seus pés. Especialmente como aqueles que tiverem a coragem de amar os infelizes, os excluídos, os reprovados nos duros testes da vida, sem nenhuma exigência, mas por dever de solidariedade e pela alegria de servir.
            E dizer que a grande surpresa aos que retornam ao grande lar será que a vida terá a exata dimensão de como a construíram: se com mais amor, bendita seja, porém, se esqueceram desse sagrado mandamento, por certo que viverão no clima que criaram, porque Jesus a ninguém prometeu privilégios ou vantagens sem merecimento, simplesmente recomendou que cada um tomasse a sua cruz e O seguisse.
  Por isso construa a felicidade na exata dimensão que sonha, enquanto há luz no horizonte para os seus olhos. Aconselha o Mestre Generoso que a maneira mais fácil é amando ao próximo, por estar exatamente mais perto, porque se não amar ao próximo, que o conhece, como poderá amar a Deus, que não conhece?  Na realidade, se não amar ao próximo, pode de repente não ter em que se apoiar naquele dia de sua maior aflição, porque o amor está na base da Doutrina cristã.
Porque é tão certo que um dia deverá deixar tudo neste mundo material. Logo, prepare-se amando sempre, pois  o maior tesouro carregará no cofre do coração e representará o bem que tenha feito. Trabalhe muito para que o retorno à pátria espiritual não o surpreenda sem luz para o caminho, porque são tantos os que aportam nesta outra vida na maior miséria moral, por terem esquecidos de viver esse  principal objetivo.
            Por fim, alerte o seu coração enquanto há tempo, porque os dias correm céleres, e de repente pode ser chamado para a sua casa de origem e estar despreparado para lá viver. E certamente que terá um destino compatível com o que construiu no mundo, por simples lei de justiça, pois a máxima do Cristo: “a cada um de acordo com as suas obras" é uma lição plena.
            Então, apresse-se em cumprir o que propôs Jesus: “amar ao próximo como a si mesmo”.

Áulus
                                                                                                           Otacir Amaral Nunes
Campo Grande//MS.

 

ARMANDO PINHO

 

DADOS BIOGRÁFCOS


            Armando Pinho, nascido em 28 de fevereiro de 1951, filho de Norma dos Santos Pinho e Zeferino Alvarez de Pinho, desencarnou em 21 de novembro de 1980, apenas dois meses antes que a mesma moléstia levasse seu avô materno, João dos Santos. Após um ano e dois meses, comunicou-se através de um recado dado por um amigo espiritual e, menos de um mês a seguir, ele próprio enviou mensagem a seus pais.

DEPOIMENTO

            Sua mãe, Da. Norma declara: “Foi uma noite maravilhosa. Havia um fundo musical e enquanto nosso Chico trabalhava, ouvi Armando Dizer:” Mãe, estou aqui “. Mantinha-me em prece, pois precisava dessa mensagem”.

MENSAGEM

            Querida Mãezinha Norma; estou aqui. A vovó Irene1 me trouxe a fim de solicitar-lhe tranquilidade e fé viva em Deus. As suas lágrimas, querida Mamãe, ainda me alcançam com que inflamando de sofrimento as minhas fibras mais íntimas do espírito e compreendo a sua angústia.
            Não se julgue culpada, em momento algum, quanto à situação difícil que se estabeleceu, em torno de seu filho doente.
            Creia que estimaria unir as suas mãos com as mãos do Papai Zeferino, para que estivéssemos todos juntos nos momentos em que a minha despedida do corpo se aproximava... Infelizmente, as energias me faltavam para tanto. Minha vontade era uma alavanca inerte, diante do meu pensamento que esmorecia cada vez mais por dentro de mim. Preço aos pais queridos para que continuem querendo bem a mim, criando a paz em derredor de nossas recordações.
            Transferido para a casa da tia Dalita2 era como se estivesse com a tia Esther3 com a tia Dora4 ou com a tia Wilma5 assim supunha eu, nos instantes em que somente me cabia obedecer. Meu pai sempre me desejou unicamente o bem e você Mãezinha Norma, foi sempre o meu refúgio de compreensão e de alívio. Entre um e outro, me reconhecia entre duas forças iguais no amor que nos reunia e ainda nos reúne uns com os outros.
            Peço-lhe, por isto, para que não se lastime e nem se conturbe. Aceite Mamãe, quando digam acerca dos fatos em que se nos desenrolaram os dias da vida e não se aborreça. As tias queridas sabem quanto amamos nós a todas elas e se venho até aqui, junto à vovó Irene, é o anseio de serenidade que me impulsiona. Serenidade para a nossa família que em ambos os lados é constituída de corações afetuosos e leais.
            Agora, temos conosco o vovô João6 que voltou à Vida Espiritual, logo depois de meu regresso. Naturalmente, ele se encontra qual me viu, a princípio, lutando de certo modo, a fim de se realizar no refazimento espiritual preciso, e esperamos tê-lo valoroso e calmo; amparando-nos a certeza de que nos pertencemos uns aos outros, sem desunião e sem desarmonia. Assim espero.
            Quanto a mim, pode estar na tranquilidade que lhe pedi, sempre. Sinto-me fortalecido e sei que melhorarei com as suas melhoras espirituais.
            Querida Mãezinha Norma; creia: não seria eu feliz sem vê-la igualmente feliz e penso que todos os nossos precisam saber quanto amor e quanta dedicação recebi sempre de seu carinho.
            Acalmemo-nos e entreguemos as nossas inquietações à fé em Deus. Minhas lembranças com o respeito de todos os dias ao Papai e a todos os nossos familiares. E, crendo haver dissipado qualquer nuvem que esteja pesando em nosso ambiente doméstico, beijo-lhe as mãos queridas, desejando paz a todos os corações queridos, ao mesmo tempo em que lhe rogo reter comigo todos os pensamentos de amor, carinho, gratidão e apreço do seu filho sempre mais seu.

Armando Santos de Pinho 12 de fevereiro de 1982


NOTAS:
1 – Irene: Avó desencarnada;
2 – Dalita: Tia paterna
3 – Esther: Tia materna
4 – Dora: Tia materna
5 – Wilma: Tia materna
6 – João dos Santos: Avô materno, desencarnado.

Livro: Correio do Além
Francisco Candido Xavier
Espírito Diversos

 

1. INDIVIDUALIDADE DO ESPÍRITO APÓS A DESENCARNAÇÃO

 

            Existem interpretações filosóficas e religiosas que defendem a hipótese de que, após a desencarnação, o Espírito perde a sua individualidade e se incorpora ao todo universal, por uns chamado de Deus; por outros, “Alma Universal”. O Espiritismo assim se pronuncia a respeito deste assunto: O conjunto dos Espíritos não forma um todo? Não constitui um mundo completo? Quando estás numa assembleia, és parte integrante dela; mas, não obstante, conservas sempre a tua individualidade. Os que pensam que, pela morte, a alma reingressa no todo universal estão em erro, se supõem que, semelhante à gota d’água que cai no Oceano, ela perde ali a sua individualidade. Estão certos, se por todo universal entendem o conjunto dos seres incorpóreos, conjunto de que cada alma ou Espírito é um elemento.
            Se as almas se confundissem num amálgama só teriam as qualidades do conjunto, nada as distinguiriam umas das outras.
            Careceriam de inteligência e de qualidades pessoais quando, ao contrário, em todas as comunicações [mediúnicas], denotam ter consciência do seu eu e vontade própria.
            [...] Se, após a morte, só houvesse o que se chama o grande Todo, a absorver todas as individualidades, esse Todo seria uniforme e, então, as comunicações que se recebessem do mundo invisível seriam idênticas. Desde que, porém, lá se nos deparam seres bons e maus, sábios e ignorantes, felizes e desgraçados; que lá os há de todos os caracteres: alegres e tristes, levianos e ponderados, etc., patente se faz que eles são seres distintos. A individualidade ainda mais evidente se torna, quando esses seres provam a sua identidade por indicações incontestáveis, particularidades individuais verificáveis, referentes às suas vidas terrestres. Também não pode ser posta em dúvida, quando se fazem visíveis nas aparições. A individualidade da alma nos era ensinada em teoria, como artigo de fé. O Espiritismo a torna manifesta e, de certo modo, material.

 

2. SEPARAÇÃO DA ALMA DO CORPO NA DESENCARNAÇÃO

 

            A separação entre a alma e o corpo não é, em geral, dolorosa. O corpo quase sempre sofre mais durante a vida do que no momento da morte; a alma nenhuma parte toma nisso. Os sofrimentos que algumas vezes se experimentam no instante da morte são um gozo para o Espírito, que vê chegar o termo do seu exílio. É importante considerar que, sendo a morte um fenômeno biológico natural, ocorrendo falência geral do sistema, a alma se liberta do corpo. Por ser exclusivamente material, o corpo sofre as vicissitudes da matéria. Depois de funcionar por algum tempo, ele se desorganiza e decompõe. O princípio vital [que animava os órgãos do corpo], não mais encontrando elemento para sua atividade, se extingue e o corpo morre. O Espírito, para quem, este, carente de vida, se torna inútil, deixa-o, como se deixa uma casa em ruínas, ou uma roupa imprestável.
            O fenômeno da desencarnação é oposto ao da encarnação. Assim, quando [...] o Espírito tem de encarnar num corpo humano em vias de formação, um laço fluídico, que mais não é do que uma expansão do seu perispírito, o liga ao gérmen que o atrai por uma força irresistível, desde o momento da concepção. [...] Sob a influência do princípio vito-material do gérmen, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une, molécula a molécula, ao corpo em formação, donde o poder dizer-se que o Espírito, por intermédio do seu perispírito, se enraíza, de certa maneira, nesse gérmen, como uma planta na terra. [...] Por um efeito contrário, a união do perispírito e da matéria carnal, que se efetuara sob a influência do princípio vital do gérmen, cessa, desde que esse princípio deixa de atuar, em consequência da desorganização do corpo. Mantida que era por uma força atuante, tal união se desfaz, logo que essa força deixa de atuar. Então, o perispírito se desprende, molécula a molécula, conforme se unira, e ao Espírito é restituída a liberdade. Assim, não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito. Dessa forma, durante a reencarnação o [...] Espírito se acha preso ao corpo pelo seu envoltório semimaterial ou perispírito. A morte é a destruição do corpo somente, não a desse outro invólucro, que do corpo se separa quando cessa neste a vida orgânica.

 

3. A DESENCARNAÇÃO


3.1- Separação da alma do corpo


            A desencarnação não provoca, em geral, sofrimento ao espírito desencarnante.
            A [...] alma se desprende gradualmente, não se escapa como um pássaro cativo a que se restitua subitamente a liberdade. Aqueles dois estados [vida e morte do corpo] se tocam e confundem, de sorte que o Espírito se solta pouco a pouco dos laços que o prendiam. Estes laços se desatam, não se quebram.
            A observação demonstra que, no instante da morte, o desprendimento do perispírito não se completa subitamente; que, ao contrário, se opera gradualmente e com uma lentidão muito variável conforme os indivíduos. Em uns é bastante rápido, podendo dizer-se que o momento da morte é mais ou menos o da libertação. Em outros, naqueles sobretudo cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito menos rápido, durando algumas vezes dias, semanas e até meses, o que não implica existir, no corpo, a menor vitalidade, nem a possibilidade de volver à vida, mas uma simples afinidade com o Espírito, afinidade que guarda sempre proporção com a preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. É, com efeito, racional conceber-se que, quanto mais o Espírito se haja identificado com a matéria, tanto mais penoso lhe seja separar-se dela; ao passo que a atividade intelectual e moral, a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida do corpo, de modo que, em chegando a morte, ele é quase instantâneo.
           Nos estertores da desencarnação, ou agonia, [...] a alma, algumas vezes, já tem deixado o corpo; nada mais há que a vida orgânica. O homem já não tem consciência de si mesmo; entretanto, ainda lhe resta um sopro de vida orgânica. O corpo é a máquina que o coração põe em movimento. Existe, enquanto o coração faz circular nas veias o sangue, para o que não necessita da alma. Nos instantes finais da separação, muitas [...] vezes a alma sente que se desfazem os laços que a prendem ao corpo. Emprega então todos os esforços para desfazê-los inteiramente. Já em parte desprendida da matéria, vê o futuro desdobrar-se diante de si e goza, por antecipação, do estado de Espírito.
            Vale a pena destacar que o [...] último alento quase nunca é doloroso, uma vez que ordinariamente ocorre em momento de inconsciência, mas a alma sofre antes dele a desagregação da matéria, nos estertores da agonia, e, depois, as angústias da perturbação. Demo-nos pressa em afirmar que esse estado não é geral, porquanto a intensidade e duração do sofrimento estão na razão direta da afinidade existente entre corpo e perispírito. Assim, quanto maior for essa afinidade, tanto mais penosos e prolongados serão os esforços da alma para desprender-se. Há pessoas nas quais a coesão é tão fraca que o desprendimento se opera por si mesmo, como que naturalmente; é como se um fruto maduro se desprendesse do seu caule, e é o caso das mortes calmas, de pacífico despertar.
            A causa principal da maior ou menor facilidade de desprendimento é o estado moral da alma. A afinidade entre o corpo e o perispírito é proporcional ao apego à matéria, que atinge o seu máximo no homem cujas preocupações dizem respeito exclusiva e unicamente à vida e gozos materiais. Ao contrário, nas almas puras, que antecipadamente se identificam com a vida espiritual, o apego é quase nulo. E desde que a lentidão e a dificuldade do desprendimento estão na razão do grau de pureza e desmaterialização da alma, de nós somente depende o tornar fácil ou penoso, agradável ou doloroso, esse desprendimento.

 

 

3.2- Separação da alma do corpo na morte natural


            Em se tratando de morte natural resultante da extinção das forças vitais por velhice ou doença, o desprendimento opera-se gradualmente; para o homem cuja alma se desmaterializou e cujos pensamentos se destacam das coisas terrenas, o desprendimento quase se completa antes da morte real, isto é, ao passo que o corpo ainda tem vida orgânica, já o Espírito penetra a vida espiritual, apenas ligado por elo tão frágil que se rompe com a última pancada do coração. Nesta contingência o Espírito pode ter já recuperado a sua lucidez, de molde a tornar-se testemunha consciente da extinção da vida do corpo, considerando-se feliz por tê-lo deixado. Para esse a perturbação é quase nula, ou antes, não passa de ligeiro sono calmo, do qual desperta com indizível impressão de esperança e ventura. Nesta situação, [...] o homem deixa a vida sem o perceber: é uma lâmpada que se apaga por falta de óleo.
            No homem materializado e sensual, que mais viveu do corpo que do Espírito, e para o qual a vida espiritual nada significa, nem sequer lhe toca o pensamento, tudo contribui para estreitar os laços materiais, e, quando a morte se aproxima, o desprendimento, conquanto se opere gradualmente também, demanda contínuos esforços. As convulsões da agonia são indícios da luta do Espírito, que às vezes procura romper os elos resistentes, e outra se agarra ao corpo do qual uma força irresistível o arrebata com violência, molécula por molécula.

 

3.3 - Separação da alma do corpo na morte súbita

           

            A morte súbita pode ou não estar associada a um ato de violência. São mortes violentas: homicídios, torturas, suicídios, desastres, calamidades naturais ou provocadas pelo homem, etc. Tais mortes provocam ao desencarnante sofrimento que varia ao infinito.
            Na morte violenta as sensações não são precisamente as mesmas. Nenhuma desagregação inicial há começado previamente a separação do perispírito; a vida orgânica em plena exuberância de força é subitamente aniquilada. Nestas condições, o desprendimento só começa depois da morte e não pode completar-se rapidamente. O Espírito, colhido de improviso, fica como que aturdido e sente, e pensa, e acredita-se vivo, prolongando-se esta ilusão até que compreenda o seu estado. Este estado intermediário entre a vida corporal e a espiritual é dos mais interessantes para ser estudado, porque apresenta o espetáculo singular de um Espírito que julga material o seu corpo fluídico, experimentando ao mesmo tempo todas as sensações da vida orgânica. Há, além disso, dentro desse caso, uma série infinita de modalidades que variam segundo os conhecimentos e progressos morais do Espírito. Para aqueles cuja alma está purificada, a situação pouco dura, porque já possuem em si como que um desprendimento antecipado, cujo termo a morte mais súbita não faz senão apressar. Outros há, para os quais a situação se prolonga por anos inteiros. É uma situação essa muito frequente até nos casos de morte comum, que nada tendo de penosa para Espíritos adiantados, se torna horrível para os atrasados. No suicida, principalmente, excede a toda expectativa. Preso ao corpo por todas as suas fibras, o perispírito faz repercutir na alma todas as sensações daquele, com sofrimentos cruciantes.
            O estado do Espírito por ocasião da morte pode ser assim resumido: Tanto maior é o sofrimento, quanto mais lento for o desprendimento do perispírito; a presteza deste desprendimento está na razão direta do adiantamento moral do Espírito; para o Espírito desmaterializado, de consciência pura, a morte é qual um sono breve, isento de agonia, e cujo despertar é suavíssimo.
            Para que cada qual trabalhe na sua purificação, reprima as más tendências e domine as paixões, preciso se faz que abdique das vantagens imediatas em prol do futuro, visto como, para identificar-se com a vida espiritual, encaminhando para ela todas as aspirações e preferindo-a à vida terrena, não basta crer, mas compreender. Devemos considerar essa vida debaixo de um ponto de vista que satisfaça ao mesmo tempo à razão, à lógica, ao bom senso e ao conceito em que temos a grandeza, a bondade e a justiça de Deus. Considerado deste ponto de vista, o Espiritismo, pela fé inabalável que proporciona, é, de quantas doutrinas filosóficas que conhecemos, a que exerce mais poderosa influência.
            O espírita sério não se limita a crer, porque compreende, e compreende, porque raciocina; a vida futura é uma realidade que se desenrola incessantemente a seus olhos; uma realidade que ele toca e vê, por assim dizer, a cada passo e de modo que a dúvida não pode empolgá-lo, ou ter guarida em sua alma. A vida corporal, tão limitada, amesquinha-se diante da vida espiritual, da verdadeira vida. Que lhe importam os incidentes da jornada se ele compreende a causa e utilidade das vicissitudes humanas, quando suportadas com resignação? A alma eleva-se-lhe nas relações com o mundo visível; os laços fluídicos que o ligam à matéria enfraquecem-se, operando-se por antecipação um desprendimento parcial que facilita a passagem para a outra vida. A perturbação consequente à transição pouco perdura, porque, uma vez franqueado o passo, para logo se reconhece, nada estranhando, antes compreendendo, a sua nova situação.

REFERÊNCIAS
1. KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 52.ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2007. Cap. 11, item 13, p.242.
2. ______. Item 18, p.245-246.
3. ______. O céu e o inferno. Tradução de Manuel Justiniano Quintão. 60.ed.
Rio de Janeiro: FEB, 2007. Segunda parte, cap. 1, item 7. p.182.
4. ______. Item 8 p.182-183.
5. ______. Item 9 p.183.
6. ______. Item 12 p.184-185.
7. ______. Item 13 p.185.
8. ______. Item 14 p.185-186.
9. ______. O livro dos espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 91.ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2007, questão 149, p. 112.
10. ______. Questão 150, item a, p. 133.
11. ______. Questão 150, item b, p. 133-134.
12. ______. Questão 151, p.134.
13. ______. Questão 152 - comentário, p. 134-135.
14. ______. Questão 154 - comentário, p. 135.
15. ______. Questão 155 - comentário, p. 135.
16. ______. Questão 155 - comentário, p. 136.
17. ______. Questão 156, p. 137.
18. ______. Questão 157, p. 137.

 

A BASE PERFEITA


            Por mais que dedique reconhecimentos aos  benfeitores de sua senda, o que é naturalmente muito  justo, mas na verdade o caminho que  trilha  é de sua responsabilidade.
            Por mais que não esqueça o sentido de gratidão aqueles mestres de seu caminho que lhes abriram os olhos a vida espiritual, por certo que é muito honesto e direito de sua parte esse gesto de seu coração generoso, agora lutar pelo pão de cada dia é de seu interesse exclusivo.   
            Por mais que guarde a grata lembrança daqueles que o ajudaram em determinado momento de sua vida, quando se sentia sem chão. Por certo que é uma divida de gratidão, logo pode fazer de bom e positivo ao próximo de todo o seu coração em memória daquelas mãos abençoadas que o ajudaram a atravessar aqueles momentos difíceis da caminhada.
            Por mais que se lembre com carinho daquelas pessoas que o auxiliaram a carregar a cruz naqueles momentos conturbados de sua existência, não a deixe mais sobre os ombros deles, afinal a cruz é sua e com sua natural honradez somente deve depô-la ao final da jornada.
            Por mais que até o tenha favorecido  alguém um dia, não o julgue com obrigação diante da vida, nem dele exija coisa alguma. Especialmente  diante daquele que não tenha com o que lhe retribuir. Afinal é obrigação do espírita cristão que faça alguma coisa a mais por aqueles que passam por provação difícil de suportar.
            Por mais que sonhe ser feliz com os recursos depositados em suas mãos. Lembre-se que recebeu talento precioso e deve  considerar como um acréscimo de misericórdia pelo privilégio desta experiência no mundo. Todavia, não faça como fizera o servo imprudente da parábola que o enterrou  com medo da responsabilidade. Lembre-se o Pai colocou a ferramenta em suas mãos e com isso  indica claramente o que deve fazer.
            Se tantos acréscimos de misericórdia têm recebido ao longo do percurso, é lógico  que tem responsabilidade correspondente com o próximo, porque pode Deus valer-se de suas mãos operosas para ajudar alguém que também necessita de amparo.
            Por certo que Jesus é a luz do mundo e por ordem do Pai veio estender amor e generosidade a todos os filhos amados do Pai. Todavia deve andar com os seus próprios pés, nem é justo que espere dele faça por você o que é de seu compromisso e  de sua responsabilidade.
            É certo que se não trabalha,  também não progride, isto é,  cada um deve ser o artífice de seu destino,  embora Jesus seja: "O caminho, a verdade e a vida".  Não se sabe em momento algum que Ele houvesse se negado  a carregar à própria  cruz.
            Embora na sua caminhada derradeira o Cirineu o tenha ajudado, mas adiante Ele a retomou e carregou até o fim. Logicamente também se tem esse bom Cirineu a sua frente, não o sobrecarregue com o seu fardo e não esqueça que a responsabilidade  é inteiramente sua e  somente deve depô-la senão no final da jornada.
            Portanto, preste atenção no caminho. Não espera demais da vida, mas faça alguma coisa pelo seu futuro, aliás, Ele  foi muito claro: “cada um tome a sua cruz e  siga-me”, mostrando que os problemas que carrega são seus. Lógico que  Ele pode até ajudá-lo, mas a responsabilidade é sua, logo não espere  que esse Espírito Santificado carregue a sua cruz, porque  Ele não o fará. Logo não espere isso, porque se não trabalho pelo seu burilamento intimo, não crescerá como espírito imortal que é.

O EVANGELHO E O FUTURO

      Um modesto escorço da História faz entrever os laços eternos que ligam todas as gerações nos surtos evolutivos do planeta. 
     Muita vez, o palco das civilizações foi modificado, sofrendo profundas renovações nos seus cenários, mas os atores são os mesmos, caminhando, nas lutas purificadoras, para a perfeição dAquele que é a Luz do princípio. 
     Nos primórdios da Humanidade, o homem terrestre foi naturalmente conduzido às atividades exteriores, desbravando o caminho da natureza para a solução do problema vital, mas houve um tempo em que a sua maioridade espiritual foi proclamada pela sabedoria da Grécia e pelas organizações romanas.
     Nessa época, a vinda do Cristo ao planeta assinalaria o maior acontecimento para o mundo, de vez que o Evangelho seria a eterna mensagem do Céu, ligando a Terra ao reino luminoso de Jesus, na hipótese da assimilação do homem espiritual, com respeito aos ensinamentos divinos. Mas a pureza do Cristianismo não conseguiu manter-se intacta, tão logo regressaram ao plano invisível os auxiliares do Senhor, reencarnados no globo terrestre para a glorificação dos tempos apostólicos. 
     O assédio das trevas avassalou o coração das criaturas. 
     Decorridos três séculos da lição santificante de Jesus, surgiram a falsidade e a má-fé adaptando-se às conveniências dos poderes políticos do mundo, desvirtuando-se-lhe todos os princípios, por favorecer doutrinas de violência oficializada. Debalde enviou o Divino Mestre seus emissários e discípulos mais queridos ao ambiente das lutas planetárias. Quando não foram trucidados pelas multidões delinqüentes ou pelos verdugos das consciências, foram obrigados a capitular diante da ignorância, esperando o juízo longínquo da posteridade. 
     Desde essa época, em que a mensagem evangélica dilatava a esfera da liberdade humana, em virtude da sua maturidade para o entendimento das grandes e consoladoras verdades da existência, estacionou o homem espiritual em seus surtos de progresso, impossibilitado de acompanhar o homem físico na sua marcha pelas estradas do conhecimento. 
     É por esse motivo que, ao lado dos aviões poderosos e da radiotelefonia, que ligam todos os continentes e países da atualidade, indicando os imperativos das leis da solidariedade humana, vemos o conceito de civilização insultado por todas as doutrinas de isolamento, enquanto os povos se preparam para o extermínio e para a destruição. É ainda por isso que, em nome do Evangelho, se perpetram todos os absurdos nos países ditos cristãos.       A realidade é que a civilização ocidental não chegou a se cristianizar. Na França temos a guilhotina, a forca na Inglaterra, o machado na Alemanha e a cadeira elétrica na própria América da fraternidade e da concórdia, isto para nos referirmos tão-somente às nações supercivilizadas do planeta. A Itália não realizou a sua agressão à Abissínia, em nome da civilização cristã do Ocidente? Não foi em nome do Evangelho que os padres italianos abençoaram os canhões e as metralhadoras da conquista? Em nome do Cristo espalharam-se, nestes vinte séculos, todas as discórdias e todas as amarguras do mundo.
     Mas é chegado o tempo de um reajustamento de todos os valores humanos. Se as dolorosas expiações coletivas preludiam a época dos últimos ''ais'' do Apocalipse, a espiritualidade tem de penetrar as realizações do homem físico, conduzindo-as para o bem de toda a Humanidade. 
     O Espiritismo, na sua missão de Consolador, é o amparo do mundo neste século de declives da sua História; só ele pode, na sua feição de Cristianismo redivivo, salvar as religiões que se apagam entre os choques da força e da ambição, do egoísmo e do domínio, apontando ao homem os seus verdadeiros caminhos.

A Caminho da Luz.  História da Civilização à Luz do Espiritismo pelo Espírito Emmanuel
Francisco Cândido Xavier

 

ASSUNTO: FAZER O BEM

      “Fazer o bem sem ostentação é um grande mérito; ocultar a mão que dá é ainda mais meritório; é o sinal incontestável de uma grande superioridade moral; porque para ver as coisas de mais alto que o vulgo, é preciso fazer abstração da vida presente e se identificar com a vida futura”.  O Evangelho Segundo o Espiritismo Cap. XIII Fazer o bem sem ostentação Trecho do item 3.
      Em tempos modernos, dificílima é a tarefa da assistência, de qualquer natureza, ao próximo, sem o recurso deletério da ostentação ou da, igualmente nociva, pressão interna do orgulho.
      Indubitavelmente, há quem faça ações de altruísmo de maneira anônima, dedicando-se exclusivamente ao auxílio e buscando apenas granjear os láureos celestes. Estes, entretanto, já iniciaram suas atuais encarnações preparados para atitudes de tal magnitude, não as desenvolvendo no decorrer dos anos. 
      Com isso, é perceptível o tamanho das dificuldades encontradas pelos encarnados, no atual momento do planeta Terra, para levar à frente ações de tal expressão. Mas isso não deve ser desculpa, pois, na verdade, assim não o é. 
      A pressão das sociedades é para que as ações sejam realizadas sob as luzes de ribaltas, a fim de que existam aplausos. Aplausos estes tão teatrais quanto os gestos que os motivaram.
      Aquele, entretanto, que possui força moral, consegue facilmente transpor essa barreira. E mais que isso, consegue ir além, através de sua caminhada espiritual.
      Mas, para tal entendimento, é preciso estar cônscio da realidade plural das existências carnais, sendo esta uma das principais chaves para a execução de obras voltadas aos olhos do Pai, e não aos olhos dos homens.
      Todos aqueles que entendem a existência no corpo físico como único têm a tendência de não querer praticar ações em benefício de outros, fazendo isso apenas para lucrar algo em troca. 
      E aquele que faz atos de caridade por impulso moral, mas que ainda não está completamente resolvido em suas questões interiores, sente ímpetos revelatórios e deseja expor suas ações para receber elogios. Para qualquer perfil é preciso atenção. Não é o ato que eleva ou purifica, e sim o sentimento interno de abnegação, devotamento incógnito verdadeiramente desinteressado e amor pelo próximo. 
       Aquele que superar suas próprias barreiras conseguirá transpor as pressões das sociedades, pois que o móvel interno será forte e a consciência estará tranquila, navegando calmamente no doce lago das boas resoluções.       Mude, portanto, seu interior, antes de querer externar algo que não é. Ajude, ampare, socorra, aqueça. Mas veja Jesus no rosto daquele a quem presta auxílio. Faça por Jesus, se não conseguir fazer por aquele, pois, na essência de todas as verdades espirituais, aquele irmão é Jesus, sou eu, é você, pois somos todos iguais devido à origem celestial, e temos o mesmo Pai dentro de nós. Não faça como os hipócritas nas sinagogas, seja melhor que isso. 

            livro: Joanna e a Atualidade Através do Espiritismo pag 18 a 20.
             Espírito Joanna de Ângelis Através do médium Fabio Bento 

 

NOS DOMÍNIOS DA SOMBRA


     Em compacta assembléia do reino das sombras, um poderoso soberano das trevas, diante de milhares de falangistas da miséria e da ignorância, explicava o motivo da grande reunião.
     O Espiritismo com Jesus, aclarando a mente humana, prejudicava os planos infernais. Em toda parte da Terra, as criaturas começavam a raciocinar menos superficialmente! Indagavam, com segurança, quanto aos enigmas do sofrimento e da morte e aprendiam, sem maior dificuldade, as lições da Justiça Divina.
     Compreendiam, sem cadeias dogmáticas, os ensinamentos do Evangelho. Oravam com fervor. Meditavam na reencarnação e passavam a interpretar com mais inteligência os deveres que lhes cabiam no Planeta.
     Muita gente entregava-se aos livros nobres, à caridade e à compaixão, iluminando a paisagem social do mundo e, por isso, todas as atividades da sombra surgiam ameaçadas. . .
     Que fazer para conjurar o perigo?
     E pediu para que os seus assessores apresentassem sugestões.
     Depois de alguns momentos de expectativa, ergueu-se o comandante das legiões da incredulidade e falou:
     - Procuremos veicular a crença de que Deus não existe e de que as criaturas viventes estão entregues a forças cruéis e fatais da Natureza...
      O maioral das trevas, porém, objetou, desencantado:
     - O argumento não serve. Quanto mais avançamos nos trilhos da inteligência mais reconhece o homem a Paternidade de      Deus, sendo atraído inelutavelmente para a fé ardente e pura.
     Levantou-se, no entanto, o orientador das legiões da vaidade e opinou:
     - Espalharemos a notícia de que Jesus nada tem que ver com o Espiritismo, que as manifestações dos desencarnados se resumem num caso fisiológico para as conclusões da Ciência, e, desnorteando os profitentes da Renovadora Doutrina, faremos com que gozem a vida no mundo, como melhor lhes pareça, sem qualquer obrigação para com o Evangelho e, assim, serão colhidos no túmulo, com as mesmas lacunas morais que trouxeram do berço. O rei das sombras anuiu, complacente:
     - Sim, essa ilusão já foi muito importante, contudo, há milhares de pessoas despertando para a verdade, na certeza de que as portas do sepulcro não se abririam para os vivos da Terra, sem a intervenção de Jesus. Nesse ponto, o diretor das falanges da discórdia pôs-se de pé e conclamou:
     - Sabemos que a força dos espíritas nasce das reuniões em que se congregam para a oração e para o aprendizado da Vida Espiritual, e nas quais tomam contacto com os Mensageiros da Luz... Assim sendo, assopraremos acizânia entre os seguidores dessa bandeira transformadora, exagerando-lhes a noção da dignidade própria. Separá-los-emos uns dos outros com o invisível bastão da maledicência. Chamaremos em nosso auxílio os polemistas, os discutidores, os carregadores de lixo social, os fiscais do próximo e os examinadores de consciências alheias para que os seus templos se povoem de feridas e mágoas incuráveis e, assim, os irmãos em Cristo saberão detestar-se uns aos outros, com sorrisos nos lábios, inutilizando-se para as obras do bem.
     O chefe satânico, todavia, considerou:
     - Isso é medida louvável, contudo necessitamos de providência de efeito mais profundo, porque sempre aparece um dia em que as brigas e os desacordos terminam com os remédios da humildade e com o socorro da oração. A essa altura, ergueu-se o condutor das falanges da desordem e ponderou:
     - Se o problema é de reuniões, conseguiremos liquidá-lo em três tempos. Buscaremos sugerir aos membros dessas instituições que o lugar dos conclaves é muito longe e que não lhes convém afrontar as surpresas desagradáveis da via pública. Faremos que o horário das reuniões coincida com o lançamento de filmes especiais ou com festividades domésticas de data fixa. Improvisaremos tentações determinadas para os companheiros que possuam maiores deveres e responsabilidades junto às assembléias, a fim de que os iniciantes não venham a perseverar no trabalho da própria elevação.      Organizaremos dificuldades para as conduções e atrairemos visitas afetuosas que cheguem no momento exato da saída para os cultos espiritas-cristãos. Tumultuaremos o ambiente nos lares, escondendo chapéus e bolsas, carteiras e chaves para que os crentes se tomem de mau humor, desistindo do serviço espiritual e desacreditando a própria fé.
     O soberano das trevas mostrou larga satisfação no semblante e ajuntou:
     - Sim, isso é precioso trabalho de rotina que não podemos menosprezar. Entretanto, carecemos de recurso diferente. . .
     O responsável pelas falanges da dúvida ergueu-se e disse:
     - As reuniões referidas são sempre mais valiosas com o auxílio de médiuns competentes. Buscaremos desalentá-los e dispersá-los, penetrando a onda mental em que se comunicam com os Benfeitores Celestes, fazendo-lhes crer que a palavra do Além resulta de um engano deles próprios, obrigando-os a se sentirem mentirosos, palhaços, embusteiros e mistificadores, sem qualquer confiança em si mesmos, para que as assembléias se vejam incapazes e desmoralizadas...
     O mentor do recinto aprovou a alegação, mas considerou:
     - Indiscutivelmente, o combate aos médiuns não pode esmorecer, entretanto, precisamos de providência mais viva, mais penetrante...
     Foi então que o orientador das falanges da preguiça se levantou, tomou a palavra, e falou respeitoso:
     - Ilustre chefe, creio que a melhor medida será recordar ao pensamento de todos os membros das agremiações espíritas que Deus existe, que Jesus é o Guia da Humanidade, que a alma é imortal, que a Justiça Divina é indefectível, que a reencarnação é uma verdade inconteste e que a oração é uma escada solar, reunindo a Terra ao Céu...
     O soberano das sombras, porém, entre o espanto e a ira, cortou-lhe a palavra, exclamando:
     - Onde pretende chegar com semelhantes afirmações? O comandante dos exércitos preguiçosos acrescentou, sem perturbar-se:
     - Sim, diremos que o Espiritismo com Jesus, pedindo às almas encarnadas para que se regenerem, buscando o conhecimento superior e servindo à caridade, é, de fato, o roteiro da luz, mas que há tempo bastante para a redenção, que ninguém precisa incomodar-se, que as realizações edificantes não efetuadas numa existência podem ser atendidas em outras, que tudo deve permanecer agora como está no íntimo de cada criatura na carne para vermos como ficarão depois da morte, que a liberalidade do Senhor é incomensurável e que todos os serviços e reformas da consciência, marcados para hoje, podem ser transferidos para amanhã... Desse modo, tanto vale viverem no Espiritismo como fora dele, com fé ou sem fé, porque o salário de inutilidade será sempre o mesmo...
     O rei das sombras sorriu, feliz, e concordou:
     - Oh! até que enfim descobrimos a solução!...
     De todos os lados ouviam-se risonhas exclamações: - Bravos! Muito bem! Muito bem!
     O argumento do astucioso condutor das falanges da inércia havia vencido.

Livro: Contos e Apólogos – Humberto de Campos/Chico Xavier

 

OBSTÁCULOS


     Na execução das tarefas que o Senhor nos concede na seara espírita, encontramos obstáculos de todo gênero:

     - Aqueles que procedem das circunstâncias, como sejam:
         * os empecilhos do tempo;
          *a condução difícil;
          *as exigências sociais;
          *as atividades extras da profissão.
     - Aqueles que nascem de casa:
          * a festa imprevista;
          * o parente enfermo;
          * a visita inesperada;
          * o impedimento doméstico.
     - Muitos que nos chegam dos entes queridos, quais estes:
          * a oposição dos pontos de vista;
          * a incompreensão;
          * o apelo insistente a regozijos menos felizes;
          * a dificuldade, em comum, que exige apoio.
     - Os que se originam no grupo de trabalho:
          * o azedume dos companheiros;
          * a ausência de concurso fraterno; 
          * a crítica destrutiva;
          * a falta de entendimento.
     - E aqueles outros dos piores, os que nascem de nós mesmos:
          * o desânimo;
          * a irritação;
          * a rebeldia;
          * a intemperança mental;
          * a doença de gravidade imaginária;
          * o cansaço suposto invencível.
     
     Toda vez que obstáculos se nos interponham entre o dever da ação e a necessidade da cooperação no serviço do bem aos semelhantes, que redundará sempre em benefício a nós mesmos, peçamos o Auxílio Divino, através da prece silenciosa, e atendamos a todos aqueles que nos digam respeito à tranqüilidade da consciência, mas, à frente de quaisquer outros, sem qualquer fundamento sério na vida espiritual, tenhamos suficiente coragem para romper com eles, na certeza de que, com a Bênção de Deus, saberemos atravessar todas as crises e empeços da luta cotidiana, se nos dispusermos a trabalhar.

 

Livro: Rumo Certo – Emmanuel/Chico Xavier

 

 

 

ANO XI - Nº 129– Campo Grande/MS - Outubro de 2016..
EDIÇÃO DO CENTRO ESPÍRITA “VALE DA ESPERANÇA”
Rua Colorado n o 488, Bairro Jardim Canadá, CEP 79112-480, Campo Grande-MS.