O TESTE DA CONVIVÊNCIA
É sempre gratificante voltar ainda que em breves instantes ao convívio de pessoas interessadas numa convivência fraterna, conquanto situando nesta nova morada, ainda por algum tempo se guardará muitas reminiscências. Comigo não foi diferente. Especialmente aquela ação que se refere ao nosso comportamento diante do próximo.
Como qualquer outra pessoa da minha posição, desfrutara de todas as regalias da opulência. Mas em verdade não consegui pertencer àquele mundo. Muito embora respirasse naquela atmosfera devido ao meu nascimento.
Na verdade, sentia-me bem diante das pessoas simples, e especialmente daquelas que não tinham nada a oferecer. Gostava mesmo era da simplicidade. Quando convivia com essas pessoas por alguns momentos. Voltava reabastecido para casa e com o coração em paz, na suposição que aquele era o meu mundo.
Mas, quando jovem participava das frivolidades do meu tempo. Nem poderia ser diferente. Agia de acordo com a exigência local e comum àquela época, aliás, o que conhecera e ouvira desde criança.
Mas essa idéia simples sempre me atraia, talvez fosse à influência daquele velho empregado de meu Pai, que sempre solicito me atendia, apesar de sua idade e das dificuldades porque passava. Muito pobre, mas sempre afável querendo agradar o patrão. Era o companheiro de pescaria. Embora conservasse o hábito de pescar, parece que depois que o velhinho desencarnou, perdi aquele entusiasmo.
Muitas vezes voltara àquele rio e sempre naqueles momentos de reflexão que se fica à espera do peixe buscar a isca, parece que ouvia a voz do bom velhinho e prestava bem atenção para que fluísse aquele prazer de ouvir no fundo da alma. Ouvir compassadamente a sua voz, somente quando despertava daquele torpor é que sua voz cessava.
Era um doce enlevo, parece que voltava no tempo. Depois os negócios do mundo, a família, os compromissos de rotina, fizeram com que a vida de repente se transformasse, mas sempre lembrava com saudade daquela rotina de jovem que o tempo não consegue apagar.
A vida fora cobrando o tributo. As dificuldades, os problemas de saúde, que muitas vezes mantinham-me na cidade, levavam-me sempre a refletir naquele mundo simples de outrora, junto àquelas pessoas também simples, porque havia entre os seus valores a idéia de agradar aos outros, sem servilismo, ou que esperasse alguma coisa em troca. Viviam e eram felizes pela alegria de viver.
Tomava café em toda casa, onde era sempre recebido com muito carinho. Jovens, crianças, velhos e mulheres, sempre queriam conversar comigo, contar-me algo que acontecera, quando chegava nessas casas simples, sempre era motivo de alegria. Nesses momentos de conversação amigável e fraterna, pensava sempre comigo: é essa a vida que eu quero.
Quando a idade foi chegando, mais me afeiçoava a essa gente daquele pequeno recanto do interior. Depois quando mais velho tornei-me conselheiro de muita gente. Tinha opinião formada sobre muitos assuntos, desde os mais simples aos mais complexos. Aquela função, na verdade, tornava-me muito feliz, embora aqueles amigos abastados não concordassem que vivesse metido “com esse tipo de gente”. Embora soubesse nem por isso deixara de ser aquilo que julgava certo e mesmo porque me dava muita alegria, aquele convívio tão simples, sem nenhuma regra, a simpatia, o desinteresse.
Quando mais idoso ficava, mais amigo daquela gente ficava, parecia até a minha própria família. Mesmo porque a esposa já desencarnara há algum tempo. Ficara viúvo e não quisera mais me consorciar, porque a lembrança da companheira era muito viva, e a sua imagem sempre guardara na mente e no coração.
Só esperava que o dia chegasse para o retorno à vida espiritual, para com ela me encontrar. Era isso exatamente o que pensava.
E os dias foram passando naquele movimento de pessoas alegres, contentes e somente quando voltava ao leito é que podia realizar minhas reflexões íntimas.
Pensava na querida esposa e pensava no momento que pudesse reencontrá-la. Afinal por muito tempo conseguira me equilibrar dentro de certo padrão de comportamento que permitisse acenar para um mundo melhor, com alguns méritos, mas isso sim fora o bastante para guardar a imagem constante do bem.
Lembrava-me constantemente da mensagem de Jesus, sempre muito alentadora. Especialmente: "fazer aos outro o que quer para si”. Era o bastante para conservar a direção certa. Essa regra foi um condão de luz em minha vida, graça a Deus.
Ambrósio.
A DUREZA DE CORAÇÃO
Há muito tempo passado vivia perto de uma pequena cidade do interior, um homem chamado João da Silva, franzino, pouca conversa, parecia concentrar dentro de si algum problema muito sério, porque a verdade parece que vivia isolado do mundo, embora tivesse família, parece que o seu mundo era o que importava.
Este homem fora criado num mundo muito hostil, talvez por isso que guardasse, quem sabe. Um profundo ressentimento. Os pais tinham uma propriedade rural. O pai muito severo. Os filhos foram criados com o maior rigor, sequer tinham o direito de se dirigir ao pai, primeiro tinham que falar com a mãe, para que ela num momento oportuno pudesse dizer alguma coisa.
A mãe muito submissa aprendera desde cedo a obedecer ao esposo, mesmo porque conhecia lhe o caráter voluntarioso. Não ousava levantar a voz. Mas submissa obedecia, simplesmente. Não que maltratassem os filhos fisicamente, mas os tratava de tal maneira que criança era criança, e só tinha que obedecer e nada mais. Era feito somente o que o pai determinasse. A opinião do marido é que valia.
Ai se a esposa fosse dar qualquer opinião em outros assuntos que não fosse os estritamente de casa. Ouvira certa feita tão severa reprimenda, que jamais ousara manifestar qualquer opinião, ainda quando se julgava no direito de fazê-lo.
João criara-se naquele ambiente, sem qualquer liberdade de expressão, sofrendo, inclusive punições injustas, ficava revoltado, mas não ousava reclamar, com isso foi criando uma revolta íntima, porém não a manifestava, mas sentia que já fazia parte de sua personalidade.
A verdade que só valia o que o pai pensava. Completou a maioridade e casou-se com a filha de um fazendeiro vizinho, que fora morar com o sogro, uma propriedade muito bem cuidada, além de que era filha única.
Embora os pais da esposa e a esposa fossem mais expansivos, mas guardou aquela severidade que aprendera. Não tinha compaixão de ninguém. Muito embora a vida que tivera pudesse ser uma lição, mas em vez de ter um caráter mais ameno, herdou do pai aquela maneira rude de ser e de tratar as pessoas.
Parecia ser uma necessidade daquele espírito. Talvez não fundo não fosse mau, talvez mal orientado desde criança, só conhecera atitudes ríspidas, não poderia ser de outra maneira. Quem sabe o exemplo do pai que lhe moldara a personalidade, aliás, como é tão comum ver em toda parte. O egoísmo dominava as suas atitudes. Pensava sempre em si em primeiro lugar. Os outros, mesmos os familiares ficavam para depois. Se ele estivesse bem, era o que importava.
Depois de alguns anos o sogro desencarnara. Ficara dono de tudo… tornou-se o proprietário daquela grande fazenda. Quando tinha alguns empregados sempre os trava com a maior severidade, parece que a rudeza se instalara no fundo daquele caráter e não havia como mudar. Por mais que tivesse sofrido tanto quando vivera na dependência do Pai, estava em condições de compreender o outro que passavam por dificuldades maiores também. Essa atitude truculenta acompanhou até a morte.
Assim que muitos empregados passaram por ali, sem conseguirem compreender nem se adaptar aquele tipo de pessoa. Porém, um desse conseguiu ficar por mais tempo, mas devido uma enfermidade, este veio a desencarnar naquela propriedade. Ficara a viúva e três filhos pequenos, onde viviam em condições quase subumanas.
Mas por aqueles fatos raros que só parece acontecer uma vez na vida, resolveu trazer aquela pobre viúva com os filhos, mais para perto da fazenda, mesmo porque não havia condições de ficar onde moravam.
Seu sogro fizera uma casa para o capataz antigo, mas este venceu o prazo de trabalho fora para outro lugar. E ficara a casa sem ser habitada. Resolveu colocar aquela viúva e filhos naquele lugar, com a condição que pudesse ajudar nos afazeres da casa do patrão. Prometendo dar lhe o sustento.
Embora essa viúva não manifestasse, era muito agradecida por aquele gesto do patrão, aliás, que até os vizinhos que o conhecia muito se admiraram. Mas a verdade que esta senhora sempre pedia por ele a Deus, embora ele mesmo jamais cogitasse de qualquer gesto de gratidão. Mas a verdade que sempre tivera abundância de alimento e até um relativo conforto, como jamais sonhara. Trabalhava dia e noite, mas estava feliz porque podia criar os filhos. Assim que continuava orando por aquele padrão.
Seus filhos cresceram, casaram e foram morar em outras propriedades, e ela acabou indo morar com a filha caçula que também fora à última a se casar. Antes de sua partida, ainda assistiu o sepultamento do patrão, que desencarnou tão enigmático quanto sempre fora. Como sem jamais perder aquela severidade e não poupava ninguém.
A vida foi seguindo o seu curso, mas a viúva agora já idosa sempre lembrava no patrão com aquele sentimento de gratidão, pois que lhe dera acolhida na sua maior necessidade. Ele de sua parte sequer dera importância àquela pobre mulher, como um animal qualquer que tinha alguma serventia, nada mais. Porque o que contava era ele, os outros não tinham nenhuma importância.
Teve seus momentos de glória, depois o declínio, a velhice, a enfermidade e a morte.
Como só plantara a dureza de coração, também fora tratado com a dureza que correspondente, porém chegou um momento que começou a sentir uma sede de afeto, pensava em alguém que o pudesse socorrê-lo, porque só ouvia a seu respeito sarcasmo e ironia. Detalhando os seus mais íntimos pensamentos.
De maneira que se via desnudo diante das criaturas mais vis. Pensou muito, lembrou no pai, na mãe, na esposa, mas não tinha coragem de pedir a quem quer que fosse algo, pois que tratara todos com muita desumanidade. No fundo de sua consciência, tinha vergonha, como se sua consciência pudesse apresentar a sua memória todas aquelas pessoas que ele houvera maltratado.
Todos aqueles lhes contrariavam interesses, agora reconhecia que muitos eram justos, e sentia-se envergonhado, afinal, depois de toda essa luta o que realmente ficou?
Sentiu-se pobre demais. Pois que não tinha a quem recorrer, pois que ele fechara todas as portas. Agora pensava o que faria. Já havia muitos anos que sofria a solidão, as necessidades mais comezinhas, alguém que pelo menos falasse com ele e lhe dessa atenção, mas ninguém lhe oferecia nada. Em momentos parecia que enlouqueceria. Depois de muito sofrer. Finalmente começou a ouvir uma voz que conhecia. Porém não conseguia lembrar e foi anunciado que gostaria de fazer-lhe uma visita, ele muito surpreendido que alguém lhes desse um pouco de atenção.
Quando entra na sala aquela mulher, mas não na condição que vira de uma serviçal, mas como uma dama dignamente vestida, informando que viera agradecer-lhe por haver proporcionado o amparo naquele momento mais difícil de sua vida. Dizer lhe da sua imensa gratidão por haver dela se compadecido.
Ficou mudo por momento. Não sabia o que falar, aliás, só tivera aquele gesto por interesse para servir em sua casa e não ter de pagar nada. Baixou envergonhado baixou a cabeça, o que a nobre senhora compreendeu a razão do constrangimento, disse-lhe de toda a gratidão que lhe ia à alma e que estava ali para ajudá-lo se fosse o caso.
Mas aquele duro coração de ontem, não sabia o que responder, porque até para ser reconhecido necessitava de exercício, e ele não tinha a menor aptidão para ser grato àquela única pessoa que dele se lembrou com amor no coração. Daquele dia em diante começou uma nova fase para o João da Silva.
Talvez existências penosas e difíceis o aguardassem. Só o tempo será capaz de responder.
Mensagens - A Vida de Cada Um
Otacir Amaral Nunes
NOVA OPORTUNIDADE
Abre-se um novo dia onde deve fazer para uma profunda reflexão, mas o que se fará da vida?
Certo que depois desses breves momentos que se está vivendo. Um dia soará a hora de partida e deverá se apresentar diante de sua própria consciência. Apresentar-se-á nessa outra margem da vida descuidado como sempre fora, e de repente sem tomar qualquer nota e sem aviso prévio, parte rumo ao lar maior.
Mas aquele que nada fez para fazer essa viagem obrigatória, não se preparou e de repente é dada a ordem de partida. E não poderá mais contar com tempo algum, certamente do lugar que estiver e com as posses que tiver deverá partir.
Quantos acontecimentos dessa natureza ocorrem todo o dia, quantos acidentes imprevistos, quantas pessoas saem de casa e não retorna mais encarnada. Talvez aquele último abraço nos seres queridos, últimas palavras talvez até o caso de haver pedido perdão.
Mas de repente essa notícia pode ocorrer e devem estar todos preparados para esse retorno à vida espiritual, por isso devem se preocupar com a bagagem. É algo muito sério que poucas pessoas pensam nesse caso, mas é algo que fatalmente ocorrerá.
Por isso, preste mais atenção no que faz dos seus dias, porque também de repente, pode estar de partida e lembre-se que deve ter algo em sua bagagem, especialmente porque aportará numa outra vida, sem recursos. Certamente pode ter que acampar no relento.
É também a história de muitos que viveram somente para matéria. Lembre-se a vida não espera.
Mensagens - Amor e Sensibilidade
Otacir Amaral Nunes
SENSAÇÕES E PERCEPÇÕES DOS ESPÍRITOS
Sofrem os Espíritos? Que sensações experimentam? Tais questões nos são naturalmente dirigidas e vamos tentar resolvê-las. Inicialmente devemos dizer que, para isso, não nos contentamos com as respostas dos Espíritos. De certa maneira, através de numerosas observações, tivemos que considerar a sensação com o fato.6 Após essas considerações, registradas por Kardec na Revista Espírita de 1858, mês de dezembro, o Codificador pede ao Espírito São Luiz explicações sobre a penosa sensação de frio que um Espírito dizia sentir. Esse relato intrigou Kardec de tal forma que o levou a indagar de São Luiz: Concebemos os sofrimentos morais, como pesares, remorsos, vergonha; mas calor e frio, a dor física, não são efeitos morais; experimentariam os Espíritos tais sensações?7 O Espírito, então, lhe respondeu com outra pergunta: Tua alma sente frio? Não; mas tem consciência da sensação que age sobre o corpo.7 Refletindo sobre essas informações Kardec conclui: Disso parece resultar que esse Espírito de avarento não sentia frio real, mas a lembrança da sensação do frio que havia suportado e essa lembrança, tida por ele como realidade, tornava-se um suplício.7 No entanto, o benfeitor espiritual enfatiza: É mais ou menos isso. Fique bem entendido que há uma distinção, que compreendeis perfeitamente, entre a dor física e a dor moral; não se deve confundir o efeito com a causa.7
Allan Kardec nos apresenta, com a lucidez que lhe é peculiar, a seguinte análise deste assunto, tão útil quanto necessário à prática mediúnica.
O corpo é o instrumento da dor. Se não é a causa primária desta é, pelo menos, a causa imediata. A alma tem a percepção da dor: essa percepção é o efeito. A lembrança que da dor a alma conserva pode ser muito penosa, mas não pode ter ação física. De fato, nem o frio, nem o calor são capazes de desorganizar os tecidos da alma, que não é suscetível de congelar-se, nem de queimar-se. Não vemos todos os dias a recordação ou a apreensão de um mal físico produzirem o efeito desse mal, como se real fora? Não as vemos até causar a morte? Toda gente sabe que aqueles a quem se amputou um membro costumam sentir dor no membro que lhes falta. Certo que aí não está a sede, ou, sequer, o ponto de partida da dor.O que há, apenas, é que o cérebro guardou desta a impressão. Lícito, portanto, será admitir-se que coisa análoga ocorra nos sofrimentos do Espírito após a morte. Um estudo aprofundado do perispírito, que tão importante papel desempenha em todos os fenômenos espíritas; nas aparições vaporosas ou tangíveis; no estado em que o Espírito vem a encontrar-se por ocasião da morte; na idéia, que tão freqüentemente manifesta, de que ainda está vivo; nas situações tão comoventes que nos revelam os dos suicidas, dos supliciados, dos que se deixaram absorver pelos gozos materiais; e inúmeros outros fatos, muita luz lançaram sobre esta questão, dando lugar a explicações que passamos a resumir.1
As sensações e percepções sentidas e relatadas pelos Espíritos são mediadas pelo perispírito [...], o princípio da vida orgânica, porém não o da vida intelectual, que reside no Espírito. É, além disso, o agente das sensações exteriores. No corpo, os órgãos, servindo-lhes de condutos, localizam essas sensações. Destruído o corpo, elas se tornam gerais. Daí o Espírito não dizer que sofre mais da cabeça do que dos pés, ou vice-versa. Não se confundam, porém, as sensações do perispírito, que se tornou independente, com as do corpo. Estas últimas só por termo de comparação as podemos tomar e não por analogia. Liberto do corpo, o Espírito pode sofrer, mas esse sofrimento não é corporal, embora não seja exclusivamente moral, como o remorso, pois que ele se queixa de frio e calor. Também não sofre mais no inverno do que no verão: temo-los visto atravessar chamas, sem experimentarem qualquer dor. Nenhuma impressão lhes causa, conseguintemente, a temperatura. A dor que sentem não é, pois, uma dor física propriamente dita: é um vago sentimento íntimo, que o próprio Espírito nem sempre compreende bem, precisamente porque a dor não se acha localizada e porque não a produzem agentes exteriores; é mais uma reminiscência do que uma realidade, reminiscência, porém, igualmente penosa. Algumas vezes, entretanto, há mais do que isso, como vamos ver. 2
Nos dias atuais, este assunto é de fácil assimilação, mesmo para o cidadão comum, devido ao progresso alcançado pelas ciências psíquicas no século vinte e no atual. Este fato, aliás, nos faz refletir sobre a incrível capacidade de análise de Kardec, pois sem contar com os conhecimentos que temos nos dias atuais, conseguiu compreender nitidamente o assunto. Continuando com as explicações, esclarece-nos o Codificador:
Ensina-nos a experiência que, por ocasião da morte, o perispírito se desprende mais ou menos lentamente do corpo; que, durante os primeiros minutos depois da desencarnação, o Espírito não encontra explicação para a situação em que se acha. Crê não estar morto, por isso que se sente vivo; vê a um lado o corpo, sabe que lhe pertence, mas não compreende que esteja separado dele. Essa situação dura enquanto haja qualquer ligação entre o corpo e o perispírito. Disse-nos, certa vez, um suicida: “Não, não estou morto.” E acrescentava: “No entanto, sinto os vermes a me roerem.” Ora, indubitavelmente, os vermes não lhe roíam o perispírito e ainda menos o Espírito; roíam-lhe apenas o corpo. Como, porém, não era completa a separação do corpo e do perispírito, uma espécie de repercussão moral se produzia, transmitindo ao Espírito o que estava ocorrendo no corpo. Repercussão talvez não seja o termo próprio, porque pode induzir à suposição de um efeito muito material. Era antes a visão do que se passava com o corpo, ao qual ainda o conservava ligado o perispírito, o que lhe causava a ilusão, que ele tomava por realidade. Assim, pois, não haveria no caso uma reminiscência, porquanto ele não fora, em vida, roído pelos vermes: havia o sentimento de um fato da atualidade. Isto mostra que deduções se podem tirar dos fatos, quando atentamente observados.
Durante a vida, o corpo recebe impressões exteriores e as transmite ao Espírito por intermédio do perispírito, que constitui, provavelmente, o que se chama fluido nervoso. Uma vez morto, o corpo nada mais sente, por já não haver nele Espírito, nem perispírito. Este, desprendido do corpo, experimenta a sensação, porém, como já não lhe chega por um conduto limitado, ela se lhe torna geral. Ora, não sendo o perispírito, realmente, mais do que simples agente de transmissão, pois que no Espírito é que está a consciência, lógico será deduzir-se que, se pudesse existir perispírito sem Espírito, aquele nada sentiria, exatamente como um corpo que morreu. Do mesmo modo, se o Espírito não tivesse perispírito, seria inacessível a toda e qualquer sensação dolorosa. É o que se dá com os Espíritos completamente purificados. Sabemos que quanto mais eles se purificam, tanto mais etérea se torna a essência do perispírito, donde se segue que a influência material diminui à medida que o Espírito progride, isto é, à medida que o próprio perispírito se torna menos grosseiro.3
Dizendo que os Espíritos são inacessíveis às impressões da matéria que conhecemos, referimo-nos aos Espíritos muito elevados, cujo envoltório etéreo não encontra analogia neste mundo. Outro tanto não acontece com os de perispírito mais denso, os quais percebem os nossos sons e odores, não, porém, apenas por uma parte limitada de suas individualidades, conforme lhes sucedia quando vivos. Pode-se dizer que, neles, as vibrações moleculares se fazem sentir em todo o ser e lhes chegam assim ao sensorium commune, que é o próprio Espírito, embora de modo diverso e talvez, também, dando uma impressão diferente, o que modifica a percepção. Eles ouvem o som da nossa voz, entretanto nos compreendem sem o auxílio da palavra, somente pela transmissão do pensamento. Em apoio do que dizemos há o fato de que essa penetração é tanto mais fácil, quanto mais desmaterializado está o Espírito. Pelo que concerne à vista, essa, para o Espírito, independe da luz, qual a temos. A faculdade de ver é um atributo essencial da alma, para quem a obscuridade não existe. É, contudo, mais extensa, mais penetrante nas mais purificadas. A alma, ou o Espírito, tem, pois, em si mesma, a faculdade de todas as percepções. Estas, na vida corpórea, se obliteram pela grosseria dos órgãos do corpo; na vida extracorpórea se vão desanuviando, à proporção que o invólucro semimaterial se eteriza.4
Podemos, então, concluir com Kardec: Os Espíritos possuem todas as percepções que tinham na Terra, porém em grau mais alto, porque as suas faculdades não estão amortecidas pela matéria; eles têm sensações desconhecidas por nós, vêem e ouvem coisas que os nossos sentidos limitados nos não permitem ver nem ouvir. Para eles não há obscuridade, excetuando-se aqueles que, por punição, se acham temporariamente nas trevas.5
REFERÊNCIAS
1. KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 91.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007, questão 257, comentário, p. 188-189.
2. ______. p. 189-190.
3. ______. p. 190-191.
4. ______. p. 192.
5. ______. O que é o espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 55.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 2 (Noções elementares de Espiritismo), item 17 (Dos Espíritos), p. 172.
6. ______. Revista espírita. Jornal de estudos psicológicos. Ano 1858. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Poesias traduzidas por Inaldo Lacerda Lima. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Ano I, dezembro de 1858, n.º 12, Item: Sensações dos espíritos, p.498.
7. ______. p. 499.
(ESDE)
O BEM E O MAL
A primeira pergunta de “O Livro dos Espíritos” é sobre a divindade, onde o glorioso codificador Allan Kardec interroga os Espíritos superiores a respeito do que seria Deus, e eles responderam categoricamente ser Ele a inteligência suprema e a causa primária de todas as coisas.
Deus então, como princípio de todas as coisas, tem seus atributos elevados a um grau infinito, sendo infinitamente bom, sábio, justo e por ser a inteligência suprema, não poderia criar nada que fosse ininteligente, mau ou mesmo injusto.
Assim, o mal que percebemos não pode ser Sua criação; mas quem então criou o mal (físico ou moral) que nos aflige, senão nós mesmos?
Existem males que não podemos evitar, como os flagelos naturais (terremotos, tsunamis, enchentes etc.) e costumamos achar malefício onde bem provavelmente exista benefício futuro, que não compreendemos por conta de nossas faculdades ainda obtusas e restritas.
Até mesmo tais males terão seus efeitos minorados, diminuídos com o uso da inteligência que Deus nos deu, aplicando a ciência para sanar ou contornar esses problemas.
Existem ainda os males criados pelo homem, e são em maior número, por seus vícios oriundos do seu orgulho, da sua vaidade, da sua ambição e de todos os excessos que pratica. Desses males é que surgem as injustiças, as guerras, as calamidades, as opressões dos dominadores e as incontáveis enfermidades.
Deus na Sua infinita bondade colocou o remédio ao lado do mal; remédio que surge quando o homem se cansa pelo excesso do mal e sente a necessidade de combater esse mal moral, mudando de vida, percebendo que onde não há o bem, impera o mal. Também por essa infinita bondade Deus só quer o bem; o mal procede de nós mesmos, mas felizmente, com o bom uso do livre-arbítrio, podemos evita-lo.
Na questão 630 e seguintes de “O livro dos Espíritos” Allan Kardec questiona como se pode distinguir o bem do mal, e os imortais responderam que o bem é tudo o que é conforme a lei de Deus, e o mal é tudo o que lhe é contrário.
Para não se enganar entre o que é o bem e o mal, citaram o ensinamento de Jesus que diz para fazermos ao próximo tudo o que gostaríamos que ele nos fizesse. Alertam também que os Espíritos foram criados simples e ignorantes e Deus deixa que eles escolham seu caminho; tanto pior para eles se tomam o caminho do mal.
Crispim.
Referências bibliográficas:
• O livro dos Espíritos. Allan Kardec.
• A Gênese. Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. Allan Kardec.
IRMÃS FOX
Há 158 anos, num lugarejo denominado Hydesville, condado de Wayne, Estado de Nova York, Estados Unidos da América do Norte, exatamente em 1848, ocorreram os primeiros fenômenos organizados, provocados pelos Espíritos, tendo por objetivo unir os homens pela consciência de seus destinos imortais.
Naquele dia, à noite, estando a família Fox (John Fox, sua esposa e duas filhas – Margareth Fox e Kate Fox) a dormitar, eis que se ouviram fortes batidas nas portas, nas paredes, em algumas ocasiões verdadeiros estrondos pela casa toda.
Segundo descrição da pesquisadora Emma Hardinge, no seu livro História do Moderno Espiritualismo Americano, publicado em 1870, essas pancadas tiveram início em fins de 1844, quando na referida cabana residia a família Bell, e continuaram com a saída desta e a chegada dos Fox, em 11 de dezembro de 1847.
Porém, foi em 1848 que ocorreu a primeira conversação inteligente entre os chamados “vivos e mortos”. Foram os anos de 1848-49, no entanto, conforme esclarecimentos de Eugène Nus, na obra Coisas do Outro Mundo, a “fase de incubação do moderno espiritualismo, que daria, mais tarde, surgimento ao Espiritismo em toda a Europa”.
Afirmam alguns historiadores que, naquela noite de 31 de março de 1848, quase sem conseguir conciliar o sono, a família Fox recolheu-se cedo, agora com as duas meninas, por receio, dormindo no quarto dos pais.
Foi quando as pancadas aumentaram de intensidade, fazendo tremer os próprios móveis. Essas batidas já haviam sido percebidas por anteriores inquilinos da cabana, como os Bell (1844-46) e os Weeckman (1846-47), mas intensificaram naquela noite histórica para o Espiritismo, ocasião em que uma delas, tentando identificar a procedência dos raps, começou a tamborilar com os dedos sobre um dos móveis, procurando falar com o suposto autor das mesmas, através de pancadas.
– Sr. Pé-Rachado, faça o que eu faço.
Outras batidas são feitas e o diálogo prossegue, agora com a ajuda de Margareth. Chamados os vizinhos, que julgavam estar a cabana sendo “visitada” por “almas do outro mundo”, realizaram algumas “sessões”, visando descobrir o “autor” ou “autores” daqueles estrondos.
Numa dessas “sessões”, um dos pesquisadores descobriu que o “brincalhão” nada mais era que o Espírito de um mascate, de nome Rosma, indicando ter sido assassinado há cinco anos naquela cabana, quando desencarnara esfaqueado, após ser roubado, tendo seu corpo sido enterrado na adega da casa.
Os acontecimentos de Hydesville foram, assim, os primórdios dos fenômenos espíritas inteligentes que, ajudados por médiuns, e codificados por Allan Kardec, vieram dar forma à Doutrina dos Espíritos, que hoje se espalha por todo o mundo, esclarecendo-nos e fortalecendo-nos em Deus, em Cristo e na Caridade.
Editorial Rildo Gomes Mouta
EU SOU ESPÍRITA
ESTA RELIGIÃO ME EXPLICOU
Quem sou, de onde vim, para onde vou e o que estou fazendo neste planeta.
ELA ME ENSINOU QUE
É preciso olhar para dentro de si, se compreender para poder compreender o próximo. Pois, se eu tenho meus conflitos, falhas, erros, dificuldades, defeitos, com certeza, todos que convivem comigo neste mundo, também tem. Estamos todos na luta, numa guerra interior, brigando consigo mesmo para corrigir estas falhas.
ENSINOU QUE LIVRE ARBÍTRIO
Não é propriedade minha, mas de todos. Por isso devo respeitar quando alguém pensa e age diferente de mim. Não tenho o direito de impor nada a ela. E quando uso mau este livre arbítrio haverá uma consequência que terei de reparar nesta ou na outra encarnação. O plantio é livre mas a colheita obrigatória.
Que tenho direitos, mas tenho também OBRIGAÇÕES e que meu direito acaba quando começa o do próximo.
QUE TODAS AS RELIGIÕES SÃO BOAS
E consequentemente, devo respeitá-las porque gosto que respeitem a minha.
QUE A SALVAÇÃO NÃO DEPENDE DA RELIGIÃO
Mas da prática da caridade conosco e com o próximo.
QUE O PRÓXIMO
É qualquer pessoa que convive conosco neste planeta, seja ele de outra religião, de outra raça, heterossexual ou homossexual, rico ou pobre. Enfim, devemos ajudar e conviver bem, respeitando, sem preconceito.
QUE CARIDADE
Não é só a esmola, mas também a tolerância, a paciência, o abraço amigo, a mensagem consoladora, a visita ao doente, uma prece, etc etc etc.
QUE SER CRISTÃO
Vai além de cultos externos, de rótulo religioso, de declarações de amor vazias sem a prática dos ensinamentos do Cristo, enfim, que a fé sem obras é morta.
ENSINOU QUE O JESUS DO ESPÍRITA
Não é visto apenas com interesse de pedir, mas de ensinar e que serve de GUIA e MODELO a ser seguido.
COM ESTA COMPREENSÃO, de saber que cada um está num grau de evolução.
Que temos um passado reencarnatório que está presente nesta encarnação.
Que estamos resgatando e reparando erros.
Que convivemos na família com afetos e desafetos, para aprendermos a AMAR, para nos reconciliarmos e perdoarmos...
ALIVIA e DÁ FORÇAS para seguir em frente buscando ser hoje melhor do que ontem, E TENTAR SER AMANHÃ MELHOR DO QUE FUI HOJE.
*Essa é a minha Cartilha de Vida, difícil de ser seguida e praticada, mas dela eu me alimento todos os dias, na busca incessante de me tornar uma pessoa melhor!*
Fonte: Amigos Chico Xavier
ELAS ESTÃO DE VOLTA
Com elas, as risadas, a algazarra, a vida estuante, plena de força e vigor. Sim, as crianças voltam às aulas e, nós horários de entrada e saída, as ruas ficam mais bonitas, mais coloridas.
É uma gama enorme de emoções que nos visita a alma, lembranças abençoadas de um passado já bem distante, e o futuro que sorri promessas com a esperança de recomeço.
A reencarnação é Lei Divina, com ela tudo se ajusta, tudo tem uma razão de ser. Olhando os pequenos escolares, recordamos que, um dia, estaremos de retorno à vida intensa de uma nova existência. O recomeço para os que já buscam o sentido superior da vida, e um novo programa para os que precisam pensar em reabilitação, tudo, porém, somado significa esperança, sol que se levanta oferecendo ao calceta a chance de se aproximar de Deus.
Quando paramos para observar os passos incertos dos pequenos, praticamente arrastados pelas mãos dos adultos que os levam para a escola, a mochila maior do que eles colocada nos ombros frágeis, faz-nos pensar na necessidade de se divulgar mais intensamente a reencarnação, informando como é essencial para os que recomeçam o período da infância. As chaves de maior e mais estreita convivência com os pais, as descobertas a respeito das coisas mais importantes da vida, o sentido de proteção e respeito nessa fase de tamanha dependência, tudo importa em ganho para o espírito que recomeça.
Quando pais e professores entenderam a riqueza escondida por trás dos cândidos olhos de uma criança, as infinitas possibilidades de se formar um cidadão digno, se convenientemente orientado nessa quadra da existência, o futuro será uma cantata de festa, onde o ser humano, valorizado em suas possibilidades, edificará o mundo de paz que almejamos.
A reencarnação sempre constitui um grande desafio. Vale, portanto, dar-lhe o valor que merece, investido nas crianças em termos educacionais, mormente no lar, onde o período de total dependência nos dá a chance de orientá-las com carinho e atenção. Reencarnar não deixa de ser uma fascinante experiência pelo inusitado da jornada. Retornamos com conhecimento de causa para, em seguida, esquecer todos os compromissos, cortando apenas com as inclinações de cerviz, que ditaram os passos para as quedas ou vitórias; a escolha é pessoal.
Se não houvesse esse processo de evolução para o homem, a vida seria destituída de lógica, não haveria forma lúcida para explicar os desníveis sociais ou a disparidade de possibilidades abençoando a uns e outros, em detrimento de outros tantos. Todavia não nos esqueçamos de que, em qualquer experiência que seja encetada, nunca faltará à proteção, o amparo dos benfeitores amigos que velam por todos.
Neste mês de março, recordando o nascimento do neoespiritualismo no ano de 1848, e o retono de Allan Kardec à vida espiritual em 1869, depois de legar à Humanidade o mais notável acervo de informações a respeito do homem - sua origem, a razão de estar no terra e o seu futuro -, pensemos, com carinho, nos destinos dessa meninada que caminha para a escola, enfeitando a vida e esperando de nós respeito, amos e proteção.
Ana Guimarães (RJ)
MÃOS LIMPAS
“E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias.” — (ATOS, capítulo 19, versículo 11.)
O Evangelho não nos diz que Paulo de Tarso fazia maravilhas, mas que Deus operava maravilhas extraordinárias por intermédio das mãos dele.
O Pai fará sempre o mesmo, utilizando todos os filhos que lhe apresentarem mãos limpas.
Muitos espíritos, mais convencionalistas que propriamente religiosos, encontraram nessa notícia dos Atos uma informação sobre determinados privilégios que teriam sido concedidos ao Apóstolo.
Antes de tudo, porém, é preciso saber que semelhante concessão não é exclusiva. A maioria dos crentes prefere fixar o Paulo santificado sem apreciar o trabalhador militante.
Quanto custou ao Apóstolo a limpeza das mãos?
Raros indagam relativamente a isso.
Recordemos que o amigo da gentilidade fora rabino famoso em Jerusalém, movimentara-se entre elevados encargos públicos, detivera dominadoras situações; no entanto, para que o Todo-Poderoso lhe utilizasse as mãos, sofreu todas as humilhações e dispôs-se a todos os sacrifícios pelo bem dos semelhantes. Ensinou o Evangelho sob zombarias e açoites, aflições e pedradas. Apesar de escrever luminosas epístolas, jamais abandonou o tear humilde até à,velhice do corpo.
Considera as particularidades do assunto e observa que Deus é sempre o mesmo Pai, que a misericórdia divina não se modificou, mas pede mãos limpas para os serviços edificantes, junto à Humanidade.
Tal exigência é lógica e necessária, pois o trabalho do Altíssimo deve resplandecer sobre os caminhos humanos.
Caminho, Verdade e Vida
Espírito Emmanuel
Chico Xavier
LOUVADO SEJA DEUS
O velho André era um escravo resignado e sofredor.
Certo dia, ele soube que Jesus nos ensinara a santificar o nome de Deus e prometeu a si mesmo jamais praticar o mal.
Se o feitor da fazenda o perseguia, André perdoava e dizia de todo o coração: — Louvado seja Deus.
Se algum companheiro tentava-o a fugir das obrigações de cada dia, considerando as injustiças que os cercavam, ele dizia contar com a Bondade Divina, indicava o céu e repetia: — Louvado seja Deus.
Quando veio a libertação dos cativos, o dono da fazenda chamou-o e disse-lhe que a pobreza e a doença lhe batiam à porta e pediu-lhe que não o abandonasse. Todos os companheiros se ausentaram, embriagados de alegria, mas André teve compaixão do Senhor, agora humilhado, e permaneceu no serviço, imaginando que Deus estaria satisfeito com o seu procedimento.
O proprietário da terra, pouco a pouco, perdeu o que possuía, arruinado pela enfermidade, mas o generoso servidor cuidou dele, até à morte, afirmando sempre: — Louvado seja Deus.
André estava cansado e envelhecido, quando o antigo patrão faleceu. Quis trabalhar, mas o corpo encarquilhado curvava-se para o chão, com muitas dores.
Esmolou, então, com humildade e paciência e, de cada vez que recebia algum pão para saciar a fome ou algum trapo para cobrir o corpo, exclamava alegremente: — Louvado seja Deus.
Certa noite, muito sozinho, com sede e febre, notou que alguém penetrava em sua choça de palha. Quem seria?
Em poucos instantes, um anjo erguia-se à frente dele. Acanhado e aflito, quis falar alguma coisa, mas não pôde. O anjo, porém, sorrindo, abraçou-o e exclamou:
- André, o nome de Nosso Pai Celestial foi exaltado por seu coração e vim buscar você para que a sua voz possa louvá-lo agora no céu.
No dia seguinte, o corpo do velho escravo apareceu morto na choupana, mas, sobre o teto rústico as aves pousavam, cantando, e muita gente afirmou que os passarinhos pareciam repetir: — Louvado seja Deus!
Livro Pai Nosso
Pelo Espírito de Meimei
Francisco Candido Xavier
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