CARIDADE
Fora da Caridade não há salvação! é o lema central da doutrina Espírita, que contradiz várias religiões que acreditam que a salvação seria negada a quem estivesse fora da Igreja ou fora da verdade.
Por ser o caminho que nos levará a Deus, é a virtude maior a que podemos aspirar e, como avaliou profundamente o Apóstolo Paulo, que no dizer de Joanna de Ângelis, é o incomparável pregoeiro das verdades eternas, ao falar aos Coríntios em sua primeira carta, de nada lhe adiantaria falar a língua dos homens e a dos anjos, nem que tivesse o dom da profecia e toda a fé, ao ponto de transportar montanhas, pois sem ela, nada ele seria.
E analisando suas qualidades, nota que ela é benigna, paciente, não é invejosa, nem temerária; também não se ensoberbece, tampouco é ambiciosa, não busca seus interesses, não se irrita, nem suspeita mal e não lhe agrada a injustiça, mas a verdade.
Ao compará-la com as outras duas grandes virtudes da fé e da esperança, não hesitou em coloca-la em primeiro lugar, definindo-a como o conjunto de todas as qualidades do coração, na bondade e na benevolência.
Às vezes é confundida com a esmola ou com a filantropia praticada por valorosos homens de bem que contribuem com enormes somas para o progresso da humanidade. Já a caridade, propriamente dita, que para ser praticada nada exige e tudo oferece, costuma ser exercida por homens e mulheres extremamente benignos como Vicente de Paulo, Tereza de Calcutá, irmã Dulce, Chico Xavier e tantas outras criaturas amorosas de Deus, que não possuíam ou não possuem dinheiro e, no entanto, doaram e doam todo amor aos seus irmãos em Cristo.
A filantropia independe da fé e do sentimento cristão e pode ser praticada por indivíduos vaidosos, orgulhosos, usurpadores, déspotas; mas se exercida, é um indício de alguma elevação moral; já a caridade está intimamente ligada à fé e tem em Jesus seu maior e divino expoente, porque atendia e atende a todos com inefável amor.
A caridade é humilde e se anula, ocultando a mão benfeitora e socorrista, enquanto que a outra, a filantropia, necessita da premiação de gratidão e de aplausos; porém, a mesma filantropia pode se converter em caridade, se for praticada com o respeito e com a única intenção de se fazer o bem, sem outros interesses.
Havendo sim a necessidade de se promover e praticar a caridade material, que tem grande significado para quem a recebe, o Espiritismo propõe especialmente a prática da Caridade moral, a que exige, conforme diz Joanna, maiores condições do Espírito e que eleva, sublima e edifica interiormente, sem recear cansaço e exaustão, pois tudo que dá, mais do que dá: dá-se, procurando seguir Jesus, que deu sua própria vida como legado de amor e a inapagável luz de Caridade que ilumina o mundo desde então.
Crispim.
Referências bibliográficas:
O Evangelho Segundo o Espiritismo. Allan Kardec.
Estudos Espíritas. Divaldo Pereira Franco/Joanna de Ângelis.
|
ANJO MISERICORDIOSO
As mais belas palavras entretecidas em forma de uma auréola de gratidão não expressam, realmente, a grandeza de que te revestes, anjo querido.
Sendo uma estrela luminífera, escondes a tua claridade no corpo físico, a fim de não ofuscares os caminhos que percorres, particularmente quando te tornas mãe.
O brilho, porém, da tua luminosidade exterioriza-se e clareia a noite densa do processo de crescimento daqueles que vêm aos teus braços, na condição de filhos, na ansiosa busca do progresso e da plenitude.
Os teus silêncios, nos momentos de testemunho, transformam-se em canções de inigualável beleza, dando sentido psicológico e harmonia à vida, porque te sacrificas em benefício daqueles que Deus te concedeu por empréstimo sublime para os conduzires ao Seu coração inefável.
O teu devotamento contínuo constitui a lição preciosa de perseverança de quem acredita na Vida e no triunfo do Bem Eterno, nunca desistindo de lutar e de doar-te.
A tua paciência gentil e a tua serena abnegação, mesmo nas horas difíceis, são poemas vivos de amor incomum, que terminam por transformar as estruturas morais humanas deficientes em resistência e vigor para os enfrentamentos da reencarnação.
A tua serenidade, quando tudo parece conspirar contra o êxito daqueles que educas, e a tua certeza de que o amor tudo pode, convertem-se na segurança que se faz indispensável para que a vitória seja alcançada.
As ingratidões dos filhos não te desanimam, as vicissitudes da existência não te desarmonizam, os embates do cotidiano não te enfraquecem, e prossegues a mesma, sofrida, às vezes, perseverando, porém, nos deveres a que te entregas com doação total.
Aprendeste a sorrir quando os teus filhos estão alegres e a chorar ante as suas preocupações e fracassos, nunca cedendo espaço ao desespero ou à revolta, quando eles
não conseguem superar os impedimentos e tombam em momentâneos fracassos…
Nesses momentos, renovada em forças e revestida de coragem, ergue-os, dando-lhes as mãos generosas e direcionando-lhes os passos no rumo certo, a fim de que recomecem e se recuperem.
Estejas na opulência ou na pobreza total, a tua maternidade é sinal do poder de Deus que te consagrou como co-criadora, na condição de anjo do lar, a fim de que o mundo cresça e a vida humana alcance a meta para a qual foi organizada.
É certo que nem todos os filhos sabem compreender a tua grandeza, os teus sacrifícios e lutas, mas isso não te é importante.
Consideras antes que o teu é o dever de os amar em quaisquer situações em que se encontrem, educando-os sem cessar, amparando-os continuamente e emulando-os ao avanço com os seus próprios pés, mesmo quando tenham as pernas trôpegas e feridos os sentimentos.
Sabes que as melhores condecorações para exornarem os heróis são as cicatrizes internas que permanecem no coração e na al- ma do lutador após as refregas.
Por isso mesmo, insistes e perseveras sem descanso, trabalhando com esses diamantes brutos que deves lapidar, a fim de que permitam o brilho da Estrela Polar –
Jesus! – no recesso do ser.
...E se, por acaso, a desencarnação te arrebatar do corpo, impedindo-te continuar cuidando deles, permanecerás, no Além-túmulo, inspirando-os, acariciando-os e envolvendo-os em vigorosa proteção.
*
Doce mãezinha!
Quando as criaturas da Terra dedicam um dia ao teu amor, apenas um entre 364 outros, sinalizando que já estão despertando para o significado do teu apostolado, apesar das imposições mercadológicas que esperam lucros, nessa oportunidade, quando todos deveriam oferecer-te somente amor, desejamos homenagear-te, envolvendo-te em ternura e em gratidão, pela nobre tarefa que desempenhas e pelas bênçãos que a todos nos concedes.
Maria, a Mãe Santíssima da Humanidade, coroe-te de paz e de alegria, no teu e em todos os dias da tua existência, anjo misericordioso de todos nós!
Amélia Rodrigues
Mensagem Psicografada
Médium Divaldo Pereira Franco
Santa Monica, Califórnia, EUA.
|
PRA VIVER MELHOR
Pra viver melhor,
- Não se preocupe, se ocupe.
Ocupe seu tempo, ocupe seu espaço, ocupe sua mente.
- Não se desespere, espere.
Espere a poeira baixar, espere o tempo passar, espere a raiva desmanchar.
- Não se indisponha, disponha.
Disponha boas palavras, disponha boas vibrações, disponha sempre.
- Não se canse, descanse.
Descanse sua mente, descanse suas pernas, descanse de tudo.
- Não menospreze, preze.
Preze por qualidade, preze por valores, preze por virtudes.
- Não se incomode, acomode.
Acomode seu corpo, acomode seu espírito, acomode sua vida.
- Não desconfie, confie.
Confie no seu sexto sentido, confie em você, confie em Deus.
- Não se torture, ature.
Ature com paciência, ature com resignação, ature com tolerância.
- Não pressione, impressione.
Impressione pela humildade, impressione pela simplicidade, impressione pela elegância.
- Não crie discórdia, crie concórdia.
Concórdia entre nações, concórdia entre pessoas, concórdia pessoal.
Não maltrate, trate bem.
Trate bem as pessoas, trate bem os animais, trate bem o planeta.
- Não se sobrecarregue, recarregue.
Recarregue suas forças, recarregue sua coragem, recarregue sua esperança.
- Não atrapalhe, trabalhe.
Trabalhe sua humanidade, trabalhe suas frustrações, trabalhe suas virtudes.
- Não conspire, inspire.
Inspire pessoas, inspire talentos, inspire saúde.
- Não se apavore, ore.
Ore a Deus!
Somente assim viveremos dias melhores.
Bruno Pitanga
Neuroimunologia, neurocientista, professor universitário
. |
MEDIUNIDADE E MOTIVAÇÃO
O modo pelo qual os espíritos atuam sobre a matéria varia ao infinito, porém obedece sempre o mesmo princípio que é assimilação de fluídos entre ambos, para que estes possam agir em consonância de interesses.
Muitas vezes deseja-se receber comunicação de determinado espírito, mas este intercâmbio por vias normais é muito difícil, porque os campos fluídicos são incompatíveis entre si, gerando uma dificuldade enorme de comunicação entre o espírito encarnado (médium) e o espírito livre. Para resolver esta questão somente com auxílio de outros médiuns que apresenta sintonia com este, porque são afins, fica tudo mais fácil.
Outras vezes é à distância de evolução mesmo que dificulta essa comunicação, ou ainda o merecimento. Deve sempre haver uma motivação especial para que se efetue com êxito esse colóquio.
Comumente se pensa que a comunicação entre os encarnados e desencarnados é fácil. Aliás, é muito difícil, especialmente se o médium não tem o devido preparo e disciplina para agir nessa área. Quando mais afinado é o instrumento, melhor pode o músico fazer ouvir a sua melodia, agora se o instrumento é deficiente por mais hábil e genial que seja o musicista, não conseguira expressar com maestria o conteúdo da partitura.
Assim se deseja um intercâmbio eficiente com os espíritos, é claro que deve se preparar mais, através do estudo, trabalho e muita oração, a fim de que possa adquirir as condições de oferecer o melhor de si e os bons espíritos possam atuar com desenvoltura, através de sua mediunidade. Mas enquanto isto não chega, procure fazer o que pode, mas guarde uma certeza que quando o discípulo estiver pronto o mestre aparece.
Por isso, preparem-se cada dia mais, a fim de que possam começar um trabalho consistente, em que o amor ao próximo seja sempre o ponto alto, sem esse propósito em mente, por maiores que sejam as expectativas, nunca alcançará o completo êxito.
Os bons espíritos sempre atuam de maneira coerente, como também conhecem as leis que rege a vida. E sabem perfeitamente o que é mais convém ao interessado. Como se fosse uma criança que pedisse algo, mas devido a sua pouca maturidade os pais mais experientes só oferece-lhe aquilo que julgam apropriados a sua idade, por maiores que sejam a insistência de seus filhos.
Muitos médiuns querem comunicação extemporânea e incompatível com a sua capacidade de assimilação das ideias, outros vão à busca de meras fantasias de seus cérebros orgulhosos; outros ainda querem se valer dos espíritos para descobertas espetaculares em qualquer campo de atividade humana, sem esforço correspondente, no pressuposto de que os espíritos sabem tudo. E ainda aí se enganam, isto é, os espíritos não sabem tudo, e quando sabem alguma coisa, é limitado ao seu grau de conhecimento, havendo, inclusive muitos espíritos que são mais ignorantes que muitos encarnados.
Outros querem que os espíritos lhes favoreçam em tudo, sem se preocuparem em fazer por onde, isto é, trabalhar com dedicação e desinteresse. Esse intercâmbio além ser de muita responsabilidade, por isso mesmo, não comportam fantasias ou atitudes menos dignas É natural que nesses casos extremados degenerem em obsessão, porque não souberam se comportar de maneira ética perante a vida maior. Os abnegados espíritos que se encarregam de promover o bem e abrir novos horizontes às pessoas de boa vontade, afastam-se nesses casos.
Quando o discípulo não se faz digno de receber as lições do mestre, é natural que ocorram os insucessos. Uma porque seria uma perda de tempo, investir muito sem ganho para ninguém, sem condição de retorno para o interessado, no caso, o discípulo, que se mostra relapso e inconsequente com relação aos valores sublimes da vida.
Não apresenta condições e nem se esforçando por adquiri-las, logo é abandonado pelos amigos que não compactuaram com aquelas atitudes levianas de seu protegido, deve aprender as próprias custas, ou através do sofrimento. O dia que ele já cansado de sofrer se dispuser a mudar de vida. Enquanto este momento não chega, é inútil qualquer providência visando ajudá-lo. É preciso o tempo atuar como divisor das águas, porque assim compreenderá de que lado está à razão. Qual deve ser a norma de conduta.
A maioria das pessoas cai por sua própria culpa, porque não souberam se comportar com sabedoria e com discernimento, principalmente aqueles que dispõem de possibilidade para o intercâmbio com o mundo espiritual mais acentuada, imagina que os espíritos são seus criados que podem dispor deles como bem entendem. Chegam ao cúmulo de pensar que os espíritos ficariam felizes em assisti-los, não percebem que os bons espíritos exigem disciplina. São imprescindíveis aos médiuns que se comportem com dignidade e respeitos aqueles princípios que o bem senso recomenda.
Caso contrário os bons espíritos não perderão o seu precioso tempo com encarnados desequilibrados e que não querem nada com o trabalho sério e disciplinado. Ficam entregues a si mesmos e a mercê dos espíritos do mesmo nível.
Nunca é demais lembrar que para receber a assistência dos bons espíritos o procedimento correto é da mais alta importância, porque a manifestação dos espíritos tem objetivo à sustentação dos sagrados princípios do Cristianismo de maneira prática. Isto é vivido e praticado, permitindo acesso às informações mais preciosas da vida após a após a morte, isto é, sobre a vida espiritual, em que são conhecidos todos os pormenores dos que lá se encontram.
Após conhecer as leis que rege o mundo espiritual, tudo ficará mais fácil, porque se adota uma nova postura perante a vida, porque conhecerá antecipadamente a inutilidades de certas atitudes como encarnado.
Assim, continue a lutar sempre nessa direção, estudando e trabalhando porque somente assim poderá ter acesso a informações mais preciosas sobre o futuro que o aguarda, mas tudo inicialmente passará pelo crivo da razão. Mesmo porque tudo obedece a uma ordem expressa do mais além, porque nada se faz sem o consentimento do Pai, por maiores que sejam as nossas motivações e mais elevados sejam os nossos princípios, convém esperar, porque não chegou à hora de receber certas respostas.
A única alternativa sábia é esperar trabalhando com muito empenho, porque somente assim poderá conseguir o que deseja, pois o trabalho nessas condições será mais favorável para que alcance o êxito que sonha.
Portanto, fé em Deus, certeza no ideal que abraçou, força de vontade e perseverança são ingredientes indispensáveis para que possa ter o êxito esperado na sua tarefa.
Momentos Decisivos
Pelo Espírito de Áulus.
Otacir Amaral Nunes
|
1. CAUSAS ESPIRITUAIS DA MORTE NA INFÂNCIA
É comum, no nosso planeta, a morte na infância, mesmo no que se refere às comunidades que desfrutam de melhor qualidade de vida. A curta duração da vida da criança pode representar, para o Espírito que a animava, o complemento de existência precedentemente interrompida antes do momento em que devera terminar, e sua morte, também não raro, constitui provação ou expiação para os pais.4 O esclarecimento e o consolo oferecidos pelo Espiritismo tornam mais leve a tristeza que representa, em especial, a morte na infância. Se [...] há males nesta vida cuja causa primária é o homem, outros há também aos quais, pelo menos na aparência, ele é completamente estranho e que parecem atingi-lo como por fatalidade. Tal, por exemplo, a perda de entes queridos e a dos que são o amparo da família.1
Analisando esta questão de perto, Allan Kardec assim se expressa: Que dizer, enfim, dessas crianças que morrem em tenra idade e da vida só conheceram sofrimentos? Problemas são esses que ainda nenhuma filosofia pôde resolver, anomalias que nenhuma religião pôde justificar e que seriam a negação da bondade, da justiça e da providência de Deus, se verificasse a hipótese de ser criada a alma ao mesmo tempo que o corpo e de estar a sua sorte irrevogavelmente determinada após a permanência de alguns instantes na Terra. Que fizeram essas almas, que acabam de sair das mãos do Criador, para se verem, neste mundo, a braços com tantas misérias e para merecerem no futuro uma recompensa ou uma punição qualquer, visto que não hão podido praticar nem o bem, nem o mal? Todavia, por virtude do axioma segundo o qual todo efeito tem uma causa, tais misérias são efeitos que hão de ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa também há de ser justa. Ora, ao efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra na vida atual, há de ser anterior a essa vida, isto é, há de estar numa existência precedente. Por outro lado, não podendo Deus punir alguém pelo bem que fez, nem pelo mal que não fez, se somos punidos, é que fizemos o mal; se esse mal não o fizemos na presente vida, tê-lo-emos feito noutra. É uma alternativa a que ninguém pode fugir e em que a lógica decide de que parte se acha a justiça de Deus.2
O Espírito Sanson, ex-membro da Sociedade Espírita de Paris, em mensagem datada de 1863, esclarece, pondera e aconselha: Quando a morte ceifanas vossas famílias, arrebatando, sem restrições, os mais moços antes dos velhos, costumais dizer: Deus não é justo, pois sacrifica um que está forte e tem grande futuro e conserva os que já viveram longos anos cheios de decepções; pois leva os que são úteis e deixa os que para nada mais servem; pois despedaça o coração de uma mãe, privando-a da inocente criatura que era toda a sua alegria.
Humanos, é nesse ponto que precisais elevar-vos acima do terra-a-terra da vida, para compreenderdes que o bem, muitas vezes, está onde julgais ver o mal, a sábia previdência onde pensais divisar a cega fatalidade do destino. Por que haveis de avaliar a justiça divina pela vossa? Podeis supor que o Senhor dos mundos se aplique, por mero capricho, a vos infligir penas cruéis? Nada se faz sem um fim inteligente e, seja o que for que aconteça, tudo tem a sua razão de ser. Se perscrutásseis melhor todas as dores que vos advêm, nelas encontraríeis sempre a razão divina, razão regeneradora, e os vossos miseráveis interesses se tornariam de tão secundária consideração, que os atiraríeis para o último plano.
Crede-me, a morte é preferível, numa encarnação de vinte anos, a esses vergonhosos desregramentos que pungem famílias respeitáveis, dilaceram corações de mães e fazem que antes do tempo embranqueçam os cabelos dos pais. Frequentemente, a morte prematura é um grande benefício que Deus concede àquele que se vai e que assim se preserva das misérias da vida, ou das seduções que talvez lhe acarretassem a perda. Não é vítima da fatalidade aquele que morre na flor dos anos; é que Deus julga não convir que ele permaneça por mais tempo na Terra. É uma horrenda desgraça, dizeis, ver cortado o fio de uma vida tão prenhe de esperanças! De que esperanças falais? Das da Terra, onde o liberto houvera podido brilhar, abrir caminho e enriquecer? Sempre essa visão estreita, incapaz de elevar-se acima da matéria. Sabeis qual teria sido a sorte dessa vida, ao vosso parecer tão cheia de esperanças? Quem vos diz que ela não seria saturada de amarguras? Desdenhais então das esperanças da vida futura, ao ponto de lhe preferirdes as da vida efêmera que arrastais na Terra? Supondes então que mais vale uma posição elevada entre os homens, do que entre os Espíritos bem-aventurados? Em vez de vos queixardes, regozijai-vos quando praz a Deus retirar deste vale de misérias um de seus filhos. Não será egoístico desejardes que ele aí continuasse para sofrer convosco? Ah! Essa dor se concebe naquele que carece de fé e que vê na morte uma separação eterna. Vós, espíritas, porém, sabeis que a alma vive melhor quando desembaraçada do seu invólucro corpóreo. Mães, sabei que vossos filhos bem-amados estão perto de vós; sim, estão muito perto; seus corpos fluídicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, a lembrança que deles guardais os transporta de alegria, mas também as vossas dores desarrazoadas os afligem, porque denotam falta de fé e exprimem uma revolta contra a vontade de Deus. Vós, que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações do vosso coração a chamar esses entes bem-amados e, se pedirdes a Deus que os abençoe, em vós sentireis fortes consolações, dessas que secam as lágrimas; sentireis aspirações grandiosas que vos mostrarão o porvir que o soberano Senhor prometeu.3
Por outro lado, reflitamos com Kardec: se [...] uma única existência tivesse o homem e se, extinguindo-se-lhe ela, sua sorte ficasse decidida para a eternidade, qual seria o mérito de metade do gênero humano, da que morre na infância, para gozar, sem esforços, da felicidade eterna e com que direito se acharia isenta das condições, às vezes tão duras, a que se vê submetida a outra metade? Semelhante ordem de coisas não corresponderia à justiça de Deus. Com a reencarnação, a igualdade é real para todos. O futuro a todos toca sem exceção e sem favor para quem quer que seja. Os retardatários só de si mesmos se podem queixar. Forçoso é que o homem tenha o merecimento de seus atos, como tem deles a responsabilidade. 5
2. SORTE DAS CRIANÇAS DEPOIS DA MORTE
Ao desencarnar, o Espírito que animava o corpo de uma criança nem sempre retorna de imediato à fase adulta. É bem verdade que volta ao seu precedente vigor, uma vez que não sofre mais as limitações da vida no plano material. Entretanto, não readquire a anterior lucidez, senão quando se tenha completamente separado daquele envoltório, isto é, quando mais nenhum laço exista entre ele e o corpo.6 O livro Entre a Terra e o Céu, de André Luiz, registra-a respeito da sorte das crianças após a desencarnação – interessante diálogo entre os Espíritos Hilário e Blandina, esta ao que parece, a vigilante mais responsável pelos pequeninos na instituição espiritual Lar da Bênção:
— Antigamente, na Terra [considerou Hilário], conforme a teologia clássica, supúnhamos que os inocentes, depois da morte, permaneciam recolhidos ao descanso do limbo, sem a glória do Céu e sem o tormento do inferno, e, nos últimos tempos, com as novas concepções do Espiritualismo, acreditávamos que o menino desencarnado retomasse, de imediato, a sua personalidade de adulto...
— Em muitas situações, é o que acontece – esclareceu Blandina, afetuosa —; quando o Espírito já alcançou elevada classe evolutiva, assumindo o comando mental de si mesmo, adquire o poder de facilmente desprender-se das imposições da forma, superando as dificuldades da desencarnação prematura. Conhecemos grandes almas que renasceram na Terra por brevíssimo prazo, simplesmente com o objetivo de acordar corações queridos para a aquisição de valores morais, recobrando, logo após o serviço levado a efeito, a respectiva apresentação que lhes era costumeira. Contudo, para a grande maioria das crianças que desencarnam, o caminho não é o mesmo. Almas ainda encarceradas no automatismo inconsciente, acham-se relativamente longe do autogoverno. Jazem conduzidas pela Natureza, à maneira das criancinhas no colo maternal. Não sabem desatar os laços que as aprisionam aos rígidos princípios que orientam o mundo das formas e, por isso, exigem tempo para se renovarem no justo desenvolvimento. É por esse motivo que não podemos prescindir dos períodos de recuperação para quem se afasta do veículo físico, na fase infantil, de vez que, depois do conflito biológico da reencarnação ou da desencarnação, para quantos se acham nos primeiros degraus da conquista de poder mental, o tempo deve funcionar como elemento indispensável de restauração. E a variação desse tempo dependerá da aplicação pessoal do aprendiz à aquisição de luz interior, através do próprio aperfeiçoamento moral.10
Essas considerações justificam, assim, a existência de inúmeras instituições de auxílio à infância no plano espiritual, seja para adequá-las à realidade da nova moradia, seja para assisti-las numa nova encarnação. A título de ilustração, citaremos alguns exemplos extraídos da literatura espírita.
2.1 - Lar da Bênção
Fonte: Livro Entre a Terra e o Céu, ditado pelo Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, edição FEB.
É uma (...) importante Colônia educativa, misto de escola de mães e domicílio dos pequeninos que regressam da esfera carnal.9 Essa Colônia, situada no espaço espiritual correspondente às terras brasileiras, tem como objetivo preparar mães para a maternidade responsável e atender às crianças que desencarnam e encarnam. Tais crianças encontram aí o apoio necessário ao seu reajustamento espiritual. Assim é que, nos primeiros momentos como libertos do corpo físico, ou enquanto lhes dure o equilíbrio, são abençoadas pela assistência superior e amiga dos benfeitores espirituais do Lar da Bênção e pelo afeto inesquecível daquelas que foram suas genitoras, as quais, ainda presas aos liames da carne, são, no entanto, levadas à Colônia para auxiliar e acompanhar o reerguimento dos filhos.11
2.2 - Cidade de Castrel
Fonte: Livro A Vida Além do Véu, ditado por vários Espíritos, recebido pela escrita mediúnica mecânica do reverendo inglês G. Vale Owen, edição FEB, tradução de Carlos Imbassahy.
Essa Colônia espiritual, cujas informações nos chegaram com a primeira edição do livro acima citado (1920), tem como tarefa básica o atendimento à infância. Recebe Espíritos desencarnados na infância, prepara-os para a nova realidade da vida, reintegra-os aos planos que lhes são destinados após terem retornado à forma adulta, ou prepara Espíritos para a reencarnação, acompanhando-os na fase infantil. Apesar de a linguagem predominante no livro não ser atual, é uma obra de leitura agradável, que muito nos esclarece. A Colônia, situada entre montanhas, possui uma cúpula dourada no centro, cercada por um terraço cheio de colunas.7 Uma longa rua corta a cidade de um extremo ao outro, formando uma alameda, onde estão localizadas as residências dos seus dirigentes. Há muitos terrenos, espaçosos edifícios e construções para o atendimento à criança.7 Vivem aí muitos trabalhadores do campo, dedicados à horticultura, e muitos da cidade, dedicados a tarefas juntos à infância. É uma localidade muito bela e iluminada; há muitas fontes de água e predominância de ambiente harmônico. O desejo do bem é a nota reinante.8
REFERÊNCIAS
1. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 5, item 6, p. 109.
2. ______. p. 110.
3. ______. Item 21, p. 124-126.
4. ______. Livro dos espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 91. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007, questão 199, p 156.
5. ______. Questão 199-a - comentário, p. 157.
6. ______. Questão 381, p. 238.
7. OWEN, Vale G. A. Cidade e os domínios de Castrel. A Vida Além do Véu. Tradução de Carlos Imbassahy. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. IV (Cidade e os domínios de Castrel), p. 127.
8. ______. p. 127 - 142.
9. XAVIER, Francisco Cândido. Entre a terra e o céu. Pelo Espírito André Luiz. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 9 (Lar da Bênção), p. 71.
10. ______. Cap. 10 (Preciosa conversação), p. 83-84.
11. ______. Capítulos 9 e 11, p. 71-94.
|
O ORGULHO
Dissertação moral ditada por são Luís à senhorita
Ermance dufaux
(19 e 26 de janeiro de 1858)
I
Um homem soberbo possuía alguns hectares de boa terra; sentia-se envaidecido pelas grandes espigas que cobriam o seu campo e olhava com desdém o campo estéril do humilde. Este se levantava ao cantar do galo e permanecia o dia todo curvado sobre o solo ingrato; recolhia pacientemente os seixos e os lançava à beira do caminho; revolvia profundamente a terra e arrancava com dificuldade os espinheiros que a cobriam. Ora, seu suor fecundou o campo e ele colheu o melhor trigo.
Entretanto, o joio crescia no campo do homem soberbo e sufocava o trigo, enquanto o dono se vangloriava de sua fecundidade, olhando com ar de piedade os esforços silenciosos do humilde.
Em verdade vos digo que o orgulhoso é semelhante ao joio que abafa o bom grão. Aquele dentre vós que acredita valer mais que seu irmão e que disso se vangloria, é insensato; sábio, porém, é o que trabalha por si mesmo, como o humilde em seu campo, sem se envaidecer de sua obra.
II
Havia um homem rico e poderoso que desfrutava o poder do príncipe; morava em palácios, e numerosos serviçais esmeravam se por lhe adivinhar os desejos.
Um dia suas matilhas acossavam os cervos nas profundezas da floresta quando percebeu um pobre lenhador que caminhava com muita dificuldade, sob o peso de um feixe de lenha. Chamou-o e disse-lhe:
– Vil escravo! Por que passas teu caminho sem te inclinares diante de mim? Sou igual aos senhores da terra: nos conselhos minha voz decide a paz ou a guerra, e os maiorais do reino curvam-se em minha presença. Fica sabendo que sou sábio entre os sábios, poderoso entre os poderosos, grande entre os grandes, e minha posição elevada é obra de minhas mãos.
– Senhor! – respondeu o pobre homem – temi que minha humilde saudação fosse uma ofensa para vós. Sou pobre e não possuo outro bem senão meus braços; mesmo assim, não desejo vossas grandezas enganosas. Durmo a sono solto e não receio, como vós, que o prazer do mestre me faça cair em minha obscuridade.
Ora, o príncipe se aborreceu com o orgulho do soberbo; os grandes humilhados apoderaram-se dele e o precipitaram das culminâncias de seu poder, como a folha seca que o vento varre do alto de uma montanha; mas o humilde continuou tranquilamente seu rude trabalho, sem se preocupar com o dia seguinte.
III
Soberbo, humilha-te, porquanto a mão do Senhor dobrará teu orgulho até que se reduza a pó!
Escuta! Nasceste onde te lançou a sorte; saíste do seio de tua mãe, fraco e despido como o último dos homens. Por que elevas mais alto a fronte do que os teus semelhantes, tu que, como eles, nasceste para a dor e para a morte?
Ouve! Tuas riquezas e tuas grandezas, vaidade das vaidades, escaparão de tuas mãos quando vier o Grande Dia, como as águas errantes da torrente que o sol faz evaporar. De tuas riquezas só levarás contigo as tábuas do caixão; e os títulos gravados na lápide sepulcral serão palavras vazias de sentido.
Escuta! O cão do coveiro brincará com teus ossos, e eles serão misturados aos dos indigentes, confundindo-se tuas cinzas com as deles, porque um dia ambos sereis reduzidos a pó. Amaldiçoarás, então, os dons que recebeste, quando vires o mendigo revestido na sua glória, e chorarás o teu orgulho.
Humilha-te, soberbo, porquanto a mão do Senhor curvará o teu orgulho até o pó.
***
– Por que São Luís nos fala em parábolas?
Resp. – O Espírito humano ama o mistério; a lição se grava melhor no coração quando a procuramos.
– Não parece que atualmente a instrução nos deva ser dada de maneira mais direta, sem que precisemos recorrer à alegoria?
Resp. – Encontrá-la-eis no desenvolvimento. Desejo ser lido, e a moral necessita ser disfarçada sob a atração do prazer.
Revista Espírita
Ano 1858
. |