"Luzes do Amanhecer"

ANO II - Nº 15 – Campo Grande – MS – Abril de 2007
EDIÇÃO DO CENTRO ESPÍRITA “VALE DA ESPERANÇA”
Rua Colorado n o 488, Bairro Jardim Canadá, CEP 79112-480, Campo Grande-MS.


                "Não há fé inabalável senão aquela que não encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade" Allan Kardec


                Jesus sempre repetia, um mandamento vos dou: "que vos amei uns aos outros, como vos tenho amado". Áulus.

DIA ESPECIAL

                Acordo. O dia amanhece. Hoje há de ser um dia especial, porque reunirei todas as minhas melhores energias para torná-lo um dia muito feliz, porque hoje eu sei que isso é possível.
                Não hei de guardar no coração qualquer rancor ou ressentimento da véspera. Vou olhar cada pessoa como alguém que muito devo amar. Serei solidário. Sorrirei para a vida, porque era isso que sempre deveria ter feito, afinal, por graça de Deus consegui renascer, mesmo sendo o que ainda sou, e mesmo porque os meus pais aceitaram-me receber no seu lar, ... agora nosso lar.
                Se muitas vezes baixei a cabeça para não ver o mundo ao redor, hoje hei de ser diferente, vou abrir meu coração e minha mente com todo entusiasmo para a vida. Contemplarei todas as flores por onde passar e encherei minha alma de suas suaves vibrações, ouvirei enternecido o canto dos pássaros, sentirei a ressonância das palavras sublimes do Evangelho de Jesus, na acústica mais profunda de minha alma, convidando-me a ser bom, pois que muitas vezes compulsei esse código divino, mas com o coração e a mente voltados em outra direção. Mas hoje hei de sentir no suave frescor do silêncio de minha alma, que se abre para a vida e receber a paz e a felicidade, mas como uma flor que espalha o seu perfume como forma de agradecer. Ouvirei a brincadeira das crianças como um hino a minha alma agradecida.
                Se muitas vezes estive descuidado, ou somente pensando em meus pobres problemas, hoje hei de pensar também nos outros, nas suas lutas, nas suas crises, nas suas dores. Farei o máximo de esforço para sentir-me solidário com eles, como a grande família humana que deveria ser, porque nesse dia estou tão feliz e que não poderia viver num mundo tão pequeno, vivendo pelo egoísmo, pelo orgulho, pela ignorância, da felicidade que sinto no meu peito, muito gostaria de partilhar com todos, porque em verdade era isso que sempre deveria ter feito por toda a minha vida, porém somente hoje estou disposto a essa nova realidade.
                A felicidade está no meu peito, porém não sabia, vivia fazendo cálculos e mais cálculos para encontrá-la em algum lugar. Pensava nos meus pobres dias. Ah! Se eu tivesse isto ou mais aquilo, seria feliz, pensava...mas conseguindo aquele objetivo, inventava outra meta para me enganar. Mas sempre me perguntava, agora tenho todos os elementos para ser completamente feliz, mas não era. Por que hei de somente pensar nas noites escuras, é claro que elas existem, mas vou considerar que também há luz além das trevas; assim hoje vou considerar essas coisas como naturais, e ver o seu lado bom, porque em verdade ajudam a ter uma melhor visão do mundo.
                Hoje olharei o meu feroz orgulho, como aquele que o seguiu a vida inteira, mas disposto a buscar a razão de minha vida, porque sendo bom não sabia porque havia tomado a decisão absurda ao imaginar que valeria mais que o outro, que alguém somente seria capaz de ser feliz, pois que o outro é tão filho de Deus quanto eu.
                Mas também farei um supremo esforço, porque procurei por muito tempo quimeras que somente confundiram a minha vida, desesperado a correr atrás de valores amoedados, de posição social, de fama, de fortuna, pois hoje compreendi que sequer podia levar esse próprio corpo para a outra margem da vida e somente uma réstia de luz do amor de Deus será o conforto bastante para ser feliz.
                Por isso, hoje somente vou iluminar meu dia de coisas nobres e positivas, com a alma agradecida desejarei um bom dia para todo mundo, mesmo aqueles que jamais tenha visto, e não exigirei que façam o mesmo em solidariedade ao meu gesto, aceitarei plenamente o mundo e as suas criaturas como elas são, não querendo nenhum retoque para amá-las, mas do jeito que são e estão, porque assim é que estou vendo o mundo hoje, e desse propósito nobre minha alma está imbuída.
                Considerar-me-ei como alguém que está vivendo um momento único na vida, aliás, pode ser o mais importante, como também o último, mas olharei o mundo e as suas criaturas como algo para ter saudade depois. Agirei de tal modo que se viver num mundo distante, hei de me alegrar com essas suaves lembranças que guardar no meu coração.
                Olharei os meus familiares, com a alma plena de amor, como aquelas criaturas as quais muito devo, e sem eles esse dia não seria possível, também olharei para o céu para agradecer ao supremo Senhor que me concedeu a vida, e com a oportunidade de renascer neste campo de provas, e nessa escola abençoada para aprender as lições maravilhosas que preciso aprender para me tornar melhor, pelo exercício constante do bem, a cada dia pensarei como educar os meus sentimentos, mas também olharei para os céus para agradecer a Deus por haver mandado Jesus para ser esse fanal de luz em nossos caminhos, ser o anteparo diante das trevas da ignorância que ainda persiste em muitos lugares, e apesar de toda a luta de tantos emissários da sua seara bendita, só lentamente esta Humanidade caminha, mas tenho plena certeza que todos terão os seus momentos de felicidade também para que a minha felicidade seja completa.
                Olharei especialmente para Jesus por haver nos escolhido, muito embora já previamente sabendo o que éramos, nem por isso desistiu de nos amar. Ofereceu o seu máximo para apresentar a todos um mundo melhor, sobretudo para abrir os nossos olhos e ouvidos a uma realidade mais completa da vida.
                Por que hoje entendo que tenho todas as condições de ser feliz, se, porém, nunca fui completamente feliz, fora porque não havia compreendido que é mais importante amar que ser amado, porque à semelhança de criança, estivera preocupado com os meus brinquedos, e se quebrava ou perdia alguns deles, ficava imensamente infeliz. Agora que assumi uma nova postura e compreendendo que dera um grito de independência a minha alma, disse a mim mesmo:
                - “Seja feliz na configuração que Deus lhe deu, porque hoje dera um passo importante rumo à verdadeira felicidade, porque Jesus vivera para os outros, porém você nada pudera dar de si mesmo até agora, por isso sentir-se-á nessa doce obrigação de amar o próximo”.
                - “Abrirá o seu coração para a vida, muito embora não sabendo que esse gesto dependera de Deus, por isso esse dia é muito especial, agradeça a Jesus, por haver permitido essa tomada de consciência neste dia maravilhoso”.


Áulus/Otacir Amaral Nunes
Campo Grande/MS.

 

PÁGINA AOS MÉDIUNS

                Médiuns espíritas!
                Quando vos conscientizais relativamente à distância entre a vossa condição humana e a espiritualidade sublime da Doutrina de Luz e Amor que abraçastes, muitos de vós outros recuais ante as lutas por sustentar.
                Compreendamos, no entanto, que quase todos nós, os companheiros encarnados e desencarnados, trazidos às tarefas do Espiritismo, somos seres endividados de outras épocas, empenhados ao trabalho de aperfeiçoamento gradativo com o amparo de Jesus.
                Tiranos de ontem, somos agora convocados a exercícios de obediência e tolerância para as aquisições de humildade.
                Autoridades absorventes que dilapidávamos os bens que se nos confiavam, em benefício de todos, vemo-nos induzidos, na atualidade, a servir em regime de carência a fim de aprendermos moderação à frente da vida.
                Inteligências despóticas que abusávamos da frase escrita ou falada, prejudicando multidões, estamos hoje entre inibições e dificuldades, nos domínios da expressão verbal, de modo a reconhecermos quanto respeito se deve à palavra.
                Criaturas que infelicitávamos em outras muitas vidas, deteriorando-lhes a existência em nome do coração, achamo-nos presentemente em longos calvários do sexo a fim de aprimorarmos os impulsos do próprio amor.
                Incluímo-nos em vossos problemas, conquanto desenfaixados provisoriamente dos laços físicos, porquanto as vossas lutas de hoje foram as nossas de ontem, tanto quanto os vossos conflitos de hoje serão talvez nossos amanhã, quando, pela reencarnação, estivermos na posição Que atualmente ocupais.
                A despeito, no entanto, de todos os obstáculos, esposemos na construção do bem o caminho da sombra para a luz.
                Natural, tropeceis, através de quedas e desilusões, muitas vezes necessárias à formação de nossas melhores experiências. Entretanto, não vos marginalizeis na estufa da ociosidade ou na furna da autocompaixão.
                Trabalhemos compreendendo e sigamos servindo.
                Fraquezas e imperfeições, temo-las ainda conosco e talvez por longo tempo, de vez que burilamento espiritual não é assunto de mágica.
                Convençamo-nos, porém, de que unicamente com a doação do melhor de nós mesmos, na edificação do bem de todos, é que descobriremos a senda traçada à nossa melhoria e elevação.
                Recordemos.
                O ouro não se desentranha da ganga simplesmente porque leiamos algum compêndio de mineração diante do cascalho que o segrega, conquanto o compêndio de mineração favoreça as atividades relacionadas com a extração e acrisolamento do ouro.
                Purificar-se-á o metal, em verdade, tão-somente no clima do cadinho esfogueante.
Um médico reterá consigo a ciência de curar, mas isso não quer dizer esteja ele inacessível à doença, embora o dever que lhe cabe na preservação do equilíbrio orgânico.
                Um dia Jesus nos afirmou que os obreiros do Evangelho serão conhecidos pelos frutos. E Allan Kardec, no item 10 do capítulo XIX de O Evangelho Segundo o Espiritismo vos comparou às árvores proveitosas. Não nos será lícito esquecer que todas as árvores da Terra, por mais preciosas, se lançam frondes, flores e frutos na direção dos Céus, nenhuma delas produzirá se não tiver as raízes vinculadas aos ingredientes no chão.


Emmanuel
Do livro “Na Era do Espírito” de Francisco C. Xavier

QUERIDAS SOBRINHAS DO CORAÇÃO

                Deus nos proteja. Estamos ligadas a vocês, com a nossa do Carmo e com a nossa Sebastiana, no mesmo ideal.
                Comove-nos reconhecer a fidelidade de todas vocês aos nossos compromissos de fé, abraçados na esperança de nossas realizações que prosseguem no ritmo desejável.
                Sentimos e pensamos, notando que as vibrações de nosso sentimento percorrem o coração das sobrinhas queridas, com a Matemática da telepatia com que as leis de Deus selaram o amor. Muitas vezes mentalizamos esse ou aquele detalhe de serviço, iniciando pelo contato com a nossa Ginette e logo, em seguida, observamos a nossa Odete, animada pelo mesmo fluxo de idéias, alcançando, logo após, Maria Lúcia, Maria Tereza e Catarina, para que os nossos planos de serviço tomem a força precisa, na estrada indispensável à esperada concretização. Não quero alhear os nossos sobrinhos de nossa união, entretanto, Higino e os outros são chamados por certas. Designações de luta construtiva a setores de trabalho tão diferentes dos nossos que, no caso, me limito a envolvê-los na bênção de nossas preces, aguardando o tempo em que consigam compartilhar de nossas atividades e obrigações.
                Querida Ginette, nós compreendemos, seu pai, a mamãe e eu, as suas observações prudentes no transcurso de todos os movimentos e novidades que se relacionam com o nosso recanto de tarefas e espero que você com as irmãs prossigam irradiando esse cuidado que se deve nutrir para com uma instituição dedicada a Jesus que, à maneira de planta rara e preciosa, reclama defesa e segurança no desenvolvimento que lhe diz respeito. Filha querida, atendesse às obrigações profissionais que lhes pautam o tempo é mais que justo e sim absolutamente necessário que o levantamento de nossa edificação se processe com o vagar preciso. A pressa estragaria a nossa construção de paz em família e semelhante construção é imprescindível à garantia de nossas tarefas esquematizadas para o futuro.
                Esperemos mais tempo, a fim de alterar o nosso ritmo de ação.
                Por agora não nos será lícito esquecer as obrigações do dia a dia, nas quais não seria compreensível tivéssemos privilégios sobre o caminho natural dos outros, de nossos irmãos que igualmente lutam e se esfalfam no desempenho dos encargos que abraçam esperando a ocasião em que se lhes faça possível à doação do tempo e, às vezes, até da própria vida às obras do bem, com cujo erguimento vivem sonhando. Admitamos a necessidade do concurso alheio na formação dos alicerces do porvir a que aspiramos juntas e, por isso, dentro dos preceitos legais da boa consciência quaisquer recursos que nos venham às mãos são bênçãos dos Mensageiros do Senhor, amparando-nos com os tijolos de hoje para a sustentação das paredes de amanhã. Vocês saberão, com o amparo de Jesus, receber o apoio do alto e aplicá-lo para o bem, como sucede até agora e não devemos recusar o amparo que se nos estenda em nome de Deus, como seria impossível coibir-se alguém de recolher o alimento do Sol que a Divina Providência nos brinda, gratuitamente, no estágio da Terra.
                Entre exigir e abusar, pedir e receber existem diferenças profundas que o discernimento natural da fé cristã nos ajuda a perceber. Doemos, de nós, o melhor que pudemos, em favor da organização em que desejamos tão sinceramente servir e conservemos a certeza de que nos serviços de Deus existe um câmbio oculto, através do qual o Senhor não se esquece de nenhum trabalhador que se propõe a agir e a construir em Seu Nome.
                A função cármica da lei da causa e efeito funciona com exatidão, tanto para o mal quanto para o bem.
                Se causamos sofrimento a outrem a reparação ser-nos-á exigida em tempo hábil, entretanto, qualquer migalha de amor ao próximo que ofereçamos em nome de Jesus, tem o seu correspondente acrescido de bênçãos para quem se consagra a estender amparo e socorro aos semelhantes. O dinheiro, em si, é uma força neutra. A condução dele é que gera as conseqüências que não se nos fazem evitáveis, nessa ou naquela faixa da vida. Prossigamos preparando os recursos e caminhos para que o nosso ideal de auxilio a criança se faça com segurança, na marcha adiante.
                Nesse sentido, dialogaremos em outra oportunidade. O ensejo é de agora expressar o nosso propósito de liquidar vacilações e dúvidas que, por vezes, interferem com as nossas tarefas conjugadas, impelindo-nos a despender mais tempo do que o necessário no exame das questões que aparecem.
                Rogo a Deus nos conserve unidas e cada vez mais felizes pela possibilidade de acalentarmos os nossos sonhos de trabalho, em plena consonância de acordos entre nós.
                Filhas queridas, com o abraço do papai e da mamãe presentes, peço a vocês recebam o carinho imenso com a gratidão incessante da tia, irmã e servidora, sempre amiga.

Maria Conceição Corrêa
Do livro... "E o Amor Continua" de Francisco C. Xavier e Divaldo Pereira Franco.

 

DESAFIO DA MORTE

                Entre os grandes enigmas do pensamento universal a morte vem ocupando lugar de primazia em face do profundo significado de que se reveste.
                Desde recuados tempos tem permanecido como indecifráveis pontos de interrogação, que dilacera sentimentos e desencoraja projetos de vida.
                Alterando a estrutura da forma do ser, que desconecta os órgãos e os transforma na diluição da massa que desaparece na intimidade de outros elementos, assinala a existência física de forma perturbadora, desorientando o comportamento de todos quantos a vêem arrebatar aqueles a quem amam. Não apenas sob esse ponto de vista, mas também pela inexorabilidade de que se reveste, ameaçando aqueloutros que ficam.
                No seu curso incessante, vê a chegada dos futuros candidatos ao seu arrebatamento, atuando, às vezes, de maneira incompreensível, quando conduz quem está saudável e deixa o enfermo, quando toma o jovem em detrimento do idoso, ou irrompe cruel ceifando muitas vidas do mesmo clã, enquanto outros parecem inatingíveis.
Interfere, abruptamente, nos planos mais bem delineados, nunca podendo ser detida, porquanto nenhuma força humana consegue impedir-lhe a execução do programa.
                Com a mesma naturalidade com que convoca o mendigo, assim procede com o poderoso, visitando reis e vassalos, nobres e plebeus, humildes e orgulhosos numa colheita inestancável.
                Odiada por muitos e aguardada por outros tantos, prossegue no ritmo que assinala o transcurso dos evos, alterando a face do planeta e da Humanidade.
                Utilizada pelos perversos contra aqueles a quem têm como inimigos, também os devora insensivelmente, demonstrando a vacuidade dos valores terrestres.
                Apesar de todo o seu poder, é, no entanto, somente a mensagem da Vida que se encarrega de conduzir de retomo todos quantos saíram do Grande Lar e se encontram em viagem rápida pelo veículo do corpo.
                Sem sua rítmica presença, a vida humana se tomaria impossível, em face do desgaste a que está condenado ser biológico em face das ocorrências naturais do comportamento psicológico de todos os indivíduos.
                Sem sua natural presença, as inimizades se prolongariam desgastando os litigantes e as afeições particularistas impediriam o avanço da vera fraternidade. Ela, porém, chega silenciosa e interrompe os programas estabelecidos, abrindo espaços para alterações expressivas, que logo têm lugar.
                Sob outro aspecto, é somente abençoado veículo que transporta os passageiros físicos de uma para outra realidade, modificando-lhes a estrutura vibratória e conduzindo-os fielmente, tais como são, sem produzir-lhes alterações significativas que não os assinalassem antes.
                Esse processo deve ser encarado com naturalidade, porquanto ocorre incessantemente, desde que viver é também morrer, considerando-se que a energia que vitaliza o corpo vai sendo consumida enquanto está ativa até cessar de o manter.
                A morte é portadora de grave advertência moral, qual seja convidar o ser humano à reflexão da ocorrência que a sucede.
                Ela pode dar-se lentamente, através da exaustão dos órgãos, na velhice ou na enfermidade, ou violentamente pelos acidentes de todo porte. Indispensável, todavia, é a preparação humana para o seu enfrentamento, porque despertar além do portal de cinzas é inevitável, e cada qual acorda conforme adormeceu.
                Tida por etapa final da vida, conseguiu demonstrar que é apenas o recomeço da mesma, dando curso a uma programação anterior, que nunca se interrompe.
                Ei-la presente na Criação através do desaparecimento de umas formas para o surgimento de outras, aprimorando os aspectos de tudo como escultor que arranca do bruto a essência da beleza e a insculpe em formas ideais.
                Esse desafio impõe-se para ser atendido com sabedoria e enfrentado com paz, de modo que, ao ser alcançado pelo seu convite aquele que retome siga feliz, e os demais que ficam, permaneçam confiantes.
                Sem provocar qualquer dor, ela mesma é somente o interromper dos laços que fixam o Espírito à matéria, libertando-o sem traumatismos, desde que se haja conduzido com equilíbrio e a venha aguardando com naturalidade.
                A morte é, portanto, o traço de separação entre o estado orgânico do ser e o espiritual que ele é, permanente e eterno.
                À medida, que se está a morrer, enquanto se vive, conveniente que se esteja também construindo o porvir e liberando-se do passado, como aprendiz que armazena os valores que o deverão acompanhar para sempre.


Joanna de Ângelis
Mensagem recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco.

SABEDORIA DE CHICO XAVIER

                “A mediunidade nunca me isentou de meus problemas pessoais, mediunidade não é condição de santidade... Sempre tive os meus problemas – estou cheio deles! – como qualquer pessoa... Não tenho privilégios. Eu me sentiria envergonhado, se a mediunidade me concedesse uma situação especial. Como é que eu deveria estar diante daqueles que sempre me procuram? Como dizer a eles algumas palavras, desconhecendo, em mim mesmo, o drama que estão vivenciando?! Nunca vi privilégios na mediunidade, pelos menos, comigo não! E não seria capaz de entender um médium que, justamente por ser médium, fosse poupado de suas provas. Quando eu mais apanhava, é que eu mais produzia. A coisa apertava para o meu lado, Emmanuel aparecia e me mandava pegar lápis e papel”.

Carlos A Baccelli
Do livro “Evangelho de Chico Xavier”

.

ECONOMIA ESPÍRITA

                O Espiritismo abrange com a sua influência regenerativa e edificante não apenas a individualidade, mas também todos os círculos de atividade em que a pessoa respire. É assim que o Espiritismo na economia valoriza os mínimos recursos, conferindo-lhes especial significação.
                Vejamos o comportamento do espírita, diante dos valores considerados de pouca monta:
                Livro respeitável - Não o entregará à fome do cupim. Diligenciará transferi-lo a companheiros que lhe aproveitem a leitura.
                Jornal espírita lido - Não alimentará com ele o monte de lixo. Respeitar-lhe-á o valor fazendo-o circular, notadamente entre os irmãos entregues à faina rural ou em núcleos distantes ou ainda entre reclusos em hospitais e penitenciárias, sem maiores facilidades para o acesso ao conhecimento doutrinário.
                Publicações de qualquer natureza - Não fará com eles fogueira sem propósito. Saberá empacotá-las, entregando-as aos necessitados que muitas vezes conquistam o pão catando papéis velhos.
                Objetos disponíveis - Não fará dos pertences sem uso, elogio à inutilidade. Encontrará meios de movimentá-los, sem exibição de virtude, em auxílio dos irmãos a que possam prestar serviço.
                Móveis desnecessários - Não guardará os trastes caseiros em locais de despejo. Saberá encaminhá-los em bases de fraternidade para recintos domésticos menos favorecidos, melhorando as condições de conforto geral.
                Roupa fora de serventia - Não cultivará pastagem para as traças. Achará meios de situar com gentileza todos os petrechos de vestuário, cobertura e agasalho, em benefício de companheiros menos aquinhoados por vantagens materiais.
                Sapatos aposentados - Não fará deles ninhos de insetos. Providenciar-lhes-á reforma e limpeza, passando-os, cordialmente, àqueles que não conseguem o suficiente para se calçarem.
                Medicamento usado mais útil - Não lançara fora o remédio de que não mais careça e que ainda apresenta utilidade. Cedê-lo-á aos enfermos a que se façam indicados.
                Selos utilizados ou quaisquer outras coisas dessa natureza, suscetíveis ser reutilizados - Não rasgará sem considerações que eles são valiosos ainda e ofertá-los-á a instituições beneficentes que os transformarão em socorro aos semelhantes.
                Recipientes, garrafas e vidros vazios - Não levantará montes de cacos onde resida. Empregará todos os invólucros e frascos sem aplicação imediata na benemerência para com o próximo em luta pela própria sustentação.
                Gêneros, frutos, brinquedos e enfeites sem proveito no lar - Não exaltará em casa o egoísmo à propriedade alheia e nem endossa o esbanjamento. Seja no lar ou na casa de assistência coletiva, no campo ou no vilarejo, nas grandes cidades ou nas metrópoles, é a economia da fraternidade que usa os dons da vida sem abuso e que auxilia espontaneamente sem idéias de recolher agradecimentos ou paga de qualquer espécie, por reconhecer, diante do Cristo e dos princípios espíritas, que os outros necessitam de nós como necessitamos deles, de vez que todos somos irmãos,


André Luiz
Do livro "Opinião Espírita" de Francisco C. Xavier e Waldo Vieira.

 

PROCURA-SE UM AMIGO

                Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimento, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaros, de sol, de lua, do canto dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
                Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois, todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa.                 Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.
                Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer. Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações da infância. Precisa-se de um amigo para não enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações dos sonhos e da realidade. Deve gostar das ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de deitar-se no capim.
                Precisa-se de um amigo que fale cada dia que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo.
                Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que nos chame de amigo para ter-se a consciência que ainda se vive.


Autor desconhecido.

O HOMEM QUE MATAVA O TEMPO

                Aquelas respostas de Anselmo Figueiredo eram invariáveis.
                Convocado à fé religiosa, o rapaz se desviava de qualquer consideração mais grave relativamente à vida. Filho de pais devotados ao Espiritismo cristão, apesar da assistência carinhosa do genitor e dos comoventes apelos materiais, Anselmo afirmava sempre não haver atingido ocasião adequada. No seu parecer, o pensamento religioso quadrava tão-somente a pessoas avançadas em idade. Entendia que era preciso desperdiçar a mocidade, gastar energias, estontear-se no prazer e, depois, quando chegasse a perspectiva da morte do corpo, resolveria os problemas da fé. Considerava indispensável aproveitar a saúde, para atender a caprichos inferiores. Não permanecia na Terra? Atendiam a desejos, através de comidas e bebidas, com os jogos e prazeres do tempo.
                Falava-lhe o pai amoroso, de quando em quando:
                _ Anselmo, já não és mais uma criança frágil. Creio que deves refletir maduramente quanto ao nosso destino eterno.
                -Ora, meu pai – replicava contrafeito - , lá vem o senhor com as histórias de religião. Tenha paciência, não lhe pedi conselhos. Quando tiver sua idade, talvez pense nisto. Este mundo é bastante miserável para que se não aproveitem os dias tão curtos da mocidade.
                E, depois do gesto irritante, rematava: - É necessário matar o tempo.
                De outras vezes, comparecia a generosa mãezinha no concerto:
                Meu filho, meu filho, repara que estamos na Terra, de passagem somente. Vamos aprender as lições da fé. Jesus espera-nos sempre com o perdão aos nossos erros. Anselmo, meu querido, por que não freqüentas conosco a escola de iluminação espiritual? Seria isto prazer tão grande para tua velha mãe!... Encontraríamos juntos a fonte das águas eternas...
O moço esboçava um sorriso irônico, explicando-se:
                Mamãe, não sou eu criminoso, nem desviado. Creio sinceramente na existência de Deus; mas, que quer a senhora? Estou jovem, preciso viver a única ocasião de alegrias na Terra. A senhora e papai estimam os estudos evangélicos, enquanto que eu dou preferência aos cassinos. Que fazer? Não temos culpa, no que concerne às diferenças de predileções. Além disso, como não pode deixar de reconhecer, o período aproveitável da existência é muito enfadonho. É necessário matar o tempo, mamãe!
                A pobre matrona suspirava triste e a luta continuava.
                Bancário, com remuneração excelente, Anselmo dissipava os vencimentos entre o jogo e os prazeres alcoólicos, comprometendo-se, por vezes, em vultuosos empréstimos que o genitor era compelido a resgatar com sacrifícios. Se faltava dinheiro para as extravagâncias, flagelava o coração materno com observações ingratas. E, se os amigos da casa, em visita à família, recordavam ao imprevidente a solução dos problemas da fé, respondia irredutível:
                Que desejam vocês? Observo-lhes o esforço, mas não estimo as tendências religiosas. Admito que semelhantes impulsos chegam com a idade avançada, ou com a moléstia imprevista. Em sã consciência, coisa alguma existe de mim a manifestação religiosa propriamente dita. Não sou velho, nem sou enfermo. O homem normal e tranqüilo sabe matar o tempo. É o que faço sem perturbar a cabeça.
                Após fitar a reduzida assembléia de amigos, como se enfrentasse multidões do mundo, de olhar dominador,                 Anselmo dirigiu-se ironicamente para uma velhinha simpática, exclamando:
                Que me diz a senhora, Dona Romualda? Acaso, não se aproximou do Espiritismo, em virtude de suas velhas cólicas? Teria pensado em religião antes disso?
                A anciã humilde replicava, bondosa:
                Ah! Sim, Anselmo, talvez tenhas razão.
                E o senhor, “seu” Manuel – dirigia-se o moço, atrevidamente, a um negociante idoso – teria buscado o                                 Espiritismo, se não lhe aparecessem as varizes e o reumatismo?
                O interpelado, entretanto, que não tinha paciência de Dona Romualda, respondia firme:
                Mas, meu amigo, é o caso de abençoar as enfermidades. Se é que está esperando por elas a fim de renovar atitudes mentais, formulo votos para que a Providência Divina o atenda breve.
                O rapaz esboçava gesto de aborrecimento e dava-se pressa em sair para rua, murmurando entre os dentes:
                Estou muito distante de tais perturbações e, até que venha ocasião apropriada, matemos o tempo.
                De nada valiam observações dos genitores, conselhos amigos, convites fraternais. A qualquer aborrecimento comum, desdobrava-se Anselmo em palavras blasfematórias. Se advertido, mostrava enorme fecundidade por evitar raciocínios nobres, declarando-se em épocas inoportuna a qualquer cogitação de natureza espiritual. O bilhar, o pano verde, as aventuras do desejo menos digno lhe empolgavam a mente. Convidado inúmeras vezes pela bondade divina a traçar diretrizes superiores, com vistas ao destino sagrado, Anselmo Figueiredo fugira a todas as oportunidades de iluminação íntima. Preferira as sombras espessas da ignorância a qualquer pequenino serviço de auto-educação. Sua ficha individual na Terra estava cheia de anotações inferiores: ociosidade, libertinagem, negação de atividades úteis. Qualquer interpelação carinhosa, vinha à baila o velho estribilho: não havia atingido o tempo próprio, sentia-se distante da realização espiritual, aceitava as verdades eternas; entretanto, declarava-se sem a madureza necessária ao trabalho da própria edificação. E assim, o filho do casal Figueiredo atingiu os quarenta e oito anos, sempre se sentindo demasiadamente jovem para aproximar-se do conhecimento divino. Vivera à moda da borboleta distraída, sumamente interessado em matar o tempo.
                Contudo, a morte não podia esperar por Anselmo, como os amigos do mundo, e chegou o dia em que o imprevidente não conseguiu abrir as pálpebras do corpo, ingressando em trevas densas, que lhe pareciam infinitas. Percebeu sem dificuldade que não mais participava do quadro terrestre. Sentia-se de posse dos olhos, mas figuravam-se-lhe agora duas lâmpadas mortas. Chorou, pediu, praguejou. Não mais entes amorosos a convidá-lo para o banquete do amor. Não mais a ternura maternal. Todavia, quando o silêncio absoluto não lhe balsamizava as dilacerações da mente em febre, ouvia gargalhadas irônicas, indagações maliciosas e ditos perversos. Nada valiam lágrimas e rogativas. Semelhava-se a um cego perdido em região ignorada, sem família, sem ninguém. Nunca pode retomar o caminho de casa, ansioso por ouvir agora a palavra dos pais, a observação dos amigos carinhosos. Anos se passaram sobre anos, sem que o arrependido pudesse contar o tempo de amarguras.
                Houve, porém, um dia em que, após angustiosa prece, entre lágrimas, se fez claridade súbita em sua longa noite.                 O penitente ajoelhou-se, deslumbrado. Alguém lhe visitava a caverna escura. De repente, na doce luz que se formara em torno, apareceu-lhe a amada genitora a fitá-lo, com extrema doçura.
                Mãe! Minha mãe! – bradou o infeliz – socorre-me por piedade!...
                Anselmo, em pranto, tentou alcançar a figura luminosa que o contemplava entristecida, mas debalde. A senhora Figueiredo, não obstante se fazer visível, parecia distante. O desventurado procurou correr para atingi-la, ansioso por se retirar das trevas para sempre. A mãezinha devotada, contudo, alçou a destra compassiva e falou emocionada:
                É inútil, por enquanto, meu filho! Estamos separados pelo abismo que cavaste com as próprias mãos. Há mais de dez anos aguardava ansiosamente este encontro; mas, em que estado lastimável te vejo, filho meu!...
                Querida mãe! – clamou o mendigo de luz – por que me esqueceu o Senhor do Universo? Abandonado de todos, sou um fantasma de dor, sem o auxílio de ninguém. Por que tamanho padecimento? Por quê?
                Enquanto o desditoso arquejava em soluços convulsivos, a genitora esclareceu, triste:
                Deus nunca te esqueceu, foste tu que lhe esqueceste as bênçãos no caminho do mundo. Cuidaste apenas de matar o tempo e o teu tempo agora permanece morto. Trabalha para ressuscitá-lo, meu filho, procurando obter nova oportunidade de serviço, perante a bondade do Senhor. As lutas do coração desfazem as trevas que rodeiam a alma. Não esqueças a longa estrada que ainda tens de percorrer...
                E, antes que Anselmo pudesse formular novas interpelações, a luz espiritual apagou-se devagarinho, voltando a paisagem de sombras, a fim de que o imprudente do passado conseguisse acender a luz da própria alma, com vistas ao porvir.


Irmão X
Do livro “Pontos e Contos” de Francisco C. Xavier.

 

AUXILIA ENQUANTO É HOJE

                Recorda que, um dia, demandarás também o grande país da morte.
                Sentirás o frio do túmulo a envolver-te o raciocínio, até que a luz te bafeje o espírito renovado.
                Nem por isso, deixaras de ouvir as palavras que o verbo humano pronuncie em tua memória e, em plena transformação, receberás o impacto de todos os pensamentos formulados na Terra a teu respeito.
                Então suspirarás pela benevolência do próximo para que as tuas boas intenções sejam tomadas em conta no julgamento de teus dias.
                Sofrerás no coração a crítica e a malevolência, a mágoa e a acusação com que te envolvam o nome, tanto quanto regozijar-te-ás com as vibrações de carinho e com as preces de amor endereçadas ao teu espírito...
                Reflete nessa lição do amanhã inevitável, fazendo-te, agora, mais humano e mais doce, em recordando os mortos que são mais vivos que tu mesmo, na imortalidade nascente.
                Ainda mesmo no comentário, em torno daqueles que se arrojam às trevas, pensa nas boas obras que terão inutilmente desejado praticar durante a permanência no corpo e lembra-te das esperanças que lhes teceram no mundo os primeiros sonhos...
                Medita nas lágrimas ocultas que choraram sem consolo, nas aflições e remorsos que lhes vergastaram a consciência, mas não te confies à cultura da reprovação e do ódio, destacando-lhes o lado obscuro e amargo da vida...
                Procura enxergar o bem que os outros ainda não perceberam, auxilia onde muitos desistiram do perdão, ajuda onde tantos desertaram da caridade, e estarás acendendo piedosa luz para teus próprios pés, à maneira de lâmpada suave e amiga, com que te erguerás, desde hoje, muito acima da sombra espessa e triste da morte.


Emmanuel
Do livro “Instrumentos do Tempo” de Francisco C. Xavier.

 

AVISO

                Está sendo procurado.
                Homem considerado galileu.
                Trinta e três anos.
                Pele clara e expressão triste.
                Cabelos longos e barba maltratada.
                Marcas sanguinolentas nas mãos e nos pés.
                Caminha habitualmente acompanhado de mendigos e vagabundos, freqüentemente, é visto entre grande séqüito de mulheres, sendo algumas de má vida, com crianças esfarrapadas.
                Quase sempre está seguido por doze pescadores e marginais.
                Demonstra respeito para com as autoridades, determinando se dê a César o que é de César, mas espalha ensinamentos contrários à Lei antiga, como sejam:
                - o perdão das ofensas;
                o amor aos inimigos;
                - a oração em favor daqueles que nos perseguem ou caluniam;
                - a distribuição indiscriminada de dádivas com os necessitados;
                - o amparo aos enfermos, seja eles quais forem;
                - e chega ao cúmulo de recomendar que uma pessoa espancada numa face ofereça a outra ao agressor.
                Ainda não se sabe se é um mágico, mas testemunhas idôneas afirmam que ele multiplicou cinco pães e dois peixes em alimentação para mais de cinco mil pessoas, tendo sobrado doze cestos.
                Considerado impostor por haver trazido pessoas mortas à vida, foi preso e espancado.
                Sentenciado à morte, com absoluta aprovação do próprio povo, que o condenou, de preferência a Barrabás, malfeitor conhecido, recebeu insultos e pedradas, sem reclamar, quando conduzia a cruz às costas.
                Não se defendeu, quando questionado pela Justiça, complicando-se-lhe a situação, porque seus próprios seguidores o abandonaram nas horas difíceis.
                Sob afrontas e zombarias, foi crucificado entre dois ladrões.
                Não teve parentes que lhe demonstrassem solidariedade, a não ser sua Mãe, uma frágil mulher que chorava aos pés da cruz.
                Depois de morto, não se encontrou lugar para sepultá-lo, senão lodoso recanto de um túmulo por favor de um amigo.
                Após o terceiro dia do sepultamento, desapareceu do sepulcro e já foi visto por diversas pessoas que o identificaram pelas chagas sangrentas dos pés e das mãos.
                Esse homem que está sendo cuidadosamente procurado.
                Seu nome é Jesus de Nazaré.
                Se puderes encontrá-lo, deves segui-lo para sempre.


Maria Dolores
Do livro “Coração e Vida” de Francisco C. Xavier

 

AMAR COM PLENITUDE

                É preciso que cada um de nós se conscientize das responsabilidades que tem diante das possibilidades que a vida nos proporciona.
                Precisamos amar. Mas amar não é apenas falar.
                Já perdemos muito tempo, em várias existências, tentando manipular os outros, dominar as situações e, ao mesmo tempo, não admitindo os nossos medos, anseios e limites.
                Guardamos, dentro de nós, verdadeiros fantasmas, que podem infelicitar a nossa vida e a de nossos irmãos. E isto, causado pela forma como temos encarado a nossa vida e por não compreendermos o verdadeiro sentido do amor.
                Falamos em amor, mas continuamos amargurados ou amargos.
                A respeito do amor, já lemos muito, mas nos mantemos distantes de sua prática.
                Comentamos muito, a respeito do Evangelho, mas não nos conhecemos com os nossos medos, preconceitos e dificuldades, que nos impedem de amar com plenitude'.
                Somos ainda espíritos teóricos.
                É hora de sermos práticos, de praticar, de derrubar essas barreiras ridículas que ainda teimamos em manter entre nós e a felicidade plena, nos impedindo de amar. .
                Amemos verdadeiramente, começando amar a nós mesmos.
                Amemos conscientemente, aprendendo com a própria vida que precisamos uns dos outros e que não somos ilhas humanas, que fomos chamados a compartilhar, a dividir, a multiplicar.
                Amemos sempre!
                Amemo-nos, valorizando as nossas vidas, em cada experiência que a própria vida nos proporciona.
                Amar é valorizar a vida, é respeitar o amor do próximo, que tem direito de ser feliz, de doar-se, de trabalhar e crescer, como nós mesmos, pois a vida nos pede, simplesmente, para amar.


Everilda Batista.
Do Jornal "Spiritus" outubro/98

 

EVOLUÇÃO, DESTINO, SOFRIMENTO OU CASTIGO?

 

                A Evolução e o Sofrimento

                A Doutrina Espírita busca o amor no seu mais amplo sentido. As sucessivas encarnações ocorrem para evoluir o Espírito até o Amor Maior. Será que para “pagar” ou “evoluir” é necessário que um Espírito seja encarnado numa pessoa que vive na miséria absoluta, como em Biafra, etc?

                CHICO: Se um Espírito reencarna em condições aparentemente desfavoráveis é porque obteve o merecimento para tanto. Isto porque, se ele solicita uma oportunidade de resgate de uma dívida do passado, esta oportunidade só lhe é dada quando ele demonstra possuir todos os instrumentos com os quais deva se deparar nesta nova existência. Se ele falha, foi porque optou por não usar as qualidades que tem, preferindo manter-se na mesma atitude de encarnações anteriores.
Por outro lado, pode-se interpretar a reencarnação em condições desfavoráveis também como missão, onde o Espírito vem preparado para suplantar dificuldades e beneficiar a todos os que o circundam. É o caso dos grandes descobridores de curas na medicina, de grandes inventores, etc. O principal é que a humanidade, em geral, se desenvolve quando surgem problemas que a obrigam a buscar soluções novas. É preciso lembrar, no entanto, que os problemas só são vencidos quando lhes damos a devida proporção.

                A evolução e o passado

                O desenvolvimento espiritual está apenas relacionado com a atual vida do Espírito encarnado ou se junta às experiências anteriores (outras encarnações)?

                CHICO: O estágio de desenvolvimento espiritual do ser não se relaciona com as ações presentes, mas profundamente reflete as vidas anteriores. Entretanto, o mais importante é que se continue trabalhando na Seara do Bem, a fim de que as reencarnações futuras se processem dentro de padrões de moral sempre mais elevados.

                A evolução e a ignorância

                O que poderá acontecer ao Espírito que após várias encarnações não consegue se tornar um bom Espírito?
                CHICO: O homem não pode conservar-se indefinidamente na ignorância, porque tem que atingir a finalidade que a Providência lhe assinalou. Ele se instrui por força das sucessivas reencarnações, e as mudanças morais e intelectuais se estabelecem pouco a pouco.
Nessas condições, o homem, utilizando-se da liberdade de escolha, processa sua evolução ao longo dos tempos, pois como nos dizem os Espíritos, somos todos por Deus criados já predestinados a nos tornarmos um dia Espíritos puros.


Jornal Espírita - setembro/2005

DEUS, NA REFLEXÃO DE BARSANULFO

                O Universo é obra inteligentíssima, obra que transcende a mais genial inteligência humana. E, como todo efeito inteligente tem uma causa inteligente, é forçoso inferir que a do Universo é superior a toda a inteligência. É a inteligência das inteligências, a causa das causas, a lei das leis, o principio dos princípios, a razão das razões, a consciência das consciências: é DEUS.

                Deus! ... Nome mil vezes santo que Isaac Newton jamais pronunciava sem descobrir-se!...
                É Deus!... Deus que vos revelais pela natureza, vossa filha e nossa mãe. Reconheço-vos eu, Senhor, na poesia da criação, na criança que sorri, no ancião que tropeça, no mendigo que implora, na mão que assiste, na mãe que vela, no pai que instrui, no apostolo que evangeliza!...
                Deus!... Reconheço-vos eu, Senhor, no amor da esposa, no afeto do filho, na estima da irmã, na justiça do justo, na misericórdia do indulgente, na fé do pio, na esperança dos povos, na caridade dos bons, na inteireza dos íntegros!..
                Deus!... Reconheço-vos eu, Senhor, na flor dos vergéis, na relva dos vales, no matiz dos campos, na brisa dos prados, no perfume das campinas, no murmúrio das fontes, no rumorejo das franças, na música dos bosques, na placidez dos lagos, na altivez dos montes, na amplidão dos oceanos, na majestade do firmamento!...
                Deus!... reconheço-vos eu, Senhor, nos lindos antélios, no íris multicor, nas auroras polares, no argênteo da lua, no brilho do sol, na fulgência das estrelas, no fulgor das constelações!...
                Deus!... reconheço-vos eu, Senhor, na formação das nebulosas, na origem dos mundos,na gênese dos sóis, no berço das humanidades; na maravilha, no esplendor, no sublime do infinito!...
                Deus!... Reconheço-vos eu Senhor, com Jesus quando ora: “Pai nosso que estais nos Céus...” ou com os anjos quando cantam: “Glória a Deus nas alturas...”


Jornal Espírita – agosto/2005

MOZART VIVE!

                Segunda conversa

                O interlocutor não é o mesmo. Julga-se, pela natureza da conversação, tratar-se de um artista músico, feliz por conversar com um mestre. Após diversas questões que cremos inútil relatar, Mozart diz:
                1.Acabemos com as perguntas de G... falarei contigo; dir-te-ei o que entendemos por melodia em nosso mundo.                 Por que não me evocaste mais cedo? Eu teria respondido.
                2. O que é melodia? R. Freqüentemente, é para ti uma lembrança da vida passada; teu Espírito se lembra do que entreviu num mundo melhor. No planeta onde estou, Júpiter, a melodia está por toda parte, no murmúrio da água, no ruído das folhas, no canto do vento. As flores murmuram e cantam; tudo emite sons melodiosos. Sê bom; ganha esse planeta pelas tuas virtudes; escolheste bem cantando Deus; a música religiosa ajuda a elevação da alma. Quanto gostaria poder vos inspirar o desejo de ver esse mundo onde se é tão feliz! Está pleno de caridade; tudo ali é belo! A Natureza tão admirável!                 Tudo vos inspira o desejo de estar com Deus. Coragem! Coragem! Crede homem minha comunicação espírita: sou bem eu que lá estou; alegro-me em poder dizer-vos o que experimentamos; que eu possa vos inspirar bastante o amor ao bem para vos tornar dignos dessa recompensa, que nada são perto das outras às quais aspiro!
                3. Nossa música é a mesma nos outros planetas? R. Não: nenhuma música pode vos dar a idéia da música que temos ali; é divina! Ó felicidade” merece gozar de semelhantes harmonias: luta; coragem! Não temos instrumentos; são as plantas, os pássaros que são os coristas; o pensamento compõe e os ouvintes desfrutam sem audição material, sem o recurso da palavra, e isso a uma distância incomensurável. Nos mundos superiores isso é ainda mais sublime.
                4. Qual é a duração da vida de um Espírito encarnado em outro planeta, que não seja o nosso? – R. Curta nos planetas inferiores; mais longa nos mundos como aquele onde tenho a felicidade de estar; em média, em Júpiter, ela é de trezentos a quinhentos anos.
                5. Há uma grande vantagem em voltar a habitar na Terra? R. Não, a menos que seja em missão; então, se avança.
                6.Não seria mais feliz permanecendo Espírito? – R. Não, não! Estacionar-se-ia; pede-se ao ser reencarnado avançar para Deus.
                7. É a primeira vez que estou na Terra? – R. Não, mas não posso falar-te do teu Espírito.
                8. Poderia ver-te em sonho? – R. Se Deus o permitir, far-te-ei ver minha casa em sonho, e dela te recordarás.
                9. Onde estás aqui? – R. Entre ti e tua filha, eu vos vejo; estou sob a forma que tinha quando vivo.
                10. Eu poderia ver-te? – R. Crê e verás. Se tivesse maior fé, ser-nos-ia permitido dizer o porquê; tua própria profissão é um laço entre nós.
                11. Como entraste aqui? – R. O Espírito atravessa tudo.
                12. Estás ainda bem longe de Deus? – R. Ó! Sim!
                13.Compreendes melhor do que nós o que é a eternidade? R. Sim, sim, não podeis compreendê-la tendo um corpo.
                14. Que entendes pelo Universo? Teve começo e terá um fim? R. O Universo, segundo vós, é vossa Terra! Insensatos! O Universo não teve começo e não terá fim; pensai que é a obra interia de Deus; o Universo é o infinito.
                15. O que se deve fazer para ficar calmo? – R. Não te inquietes tanto pelo teu corpo; terás o Espírito perturbado; resiste a essa tendência.
                16. Que é essa perturbação? – R. Teme a morte.
                17. Que fazer para não teme-la – R. Crê em Deus; crê sobretudo, que Deus não arrebata sempre um pai útil à sua família.
                18.Como chegar a essa calma? - R. O querer.
                19. Onde haurir essa vontade? – R. Distraí teu pensamento pelo trabalho.
                20. Que devo fazer para aperfeiçoar o meu talento? Podes me evocar; obtive permissão de te inspirar.
                21. Isso quando trabalhar? R. Certamente! Quando quiseres trabalhar, algumas vezes estarei perto de ti.
                22. Ouvirás minha obra? (uma obra musical do interrogador) – R. És o primeiro músico que me evoca; venho a ti com prazer e escuto as tuas obras.
                23. Como ocorre que nunca foste evocado? R. Fui evocado, mas não por músico.
                24- Por quem? R. Por várias damas e amadores, em Marseille.
                25. Por que a Ave... Toca-me até as lágrimas? R. Teu espírito se desliga e se junta ao meu e ao de Pergolèse, que me inspirou a obra, mas esqueci esse pedaço.
                26. Como podes esquecer a música composta por ti? – R. A que existe aqui é tão bela! Como se lembrar daquilo que era toda matéria?
                27. Vês minha mãe? – R. Ela está encarnada na Terra.
                28. Em que corpo? – R. Isto não posso dizer.
                29.E meu pai? – R. Está errante para ajudar ao bem; fará tua mãe progredir; estarão reencarnados juntos, e serão                 30. Vem me ver? – R .Freqüentemente; tu lhe deves os movimentos caridosos.
                31. Foi minha mãe que pediu para estar reencarnada? – R. Sim; disso tinha um grande desejo, para subir por uma nova prova e entrar num mundo superior à Terra; ela já deu um passo imenso.
                32. Que queres dizer com isso? – R. Ela resistiu a todas as tentações; sua vida na Terra foi sublime em comparação com o seu passado, que era de um Espírito inferior; também subiu vários degraus.
                33. Tinha, pois, escolhido uma prova acima de suas forças? R. Sim, é isso.
                34. Quando sonho que a vejo, é ela mesma que vejo? – R. Sim, sim.
                35. Se tivesse evocado Bichat quando fora erguido a sua estátua, teria respondido? Estava lá – R. Estava, e eu também.
                36. Porque ali estavas? – R. Com vários outros. Espíritos que se alegram com o bem, e que ficam felizes em ver que glorificais aqueles que se ocupam com a Humanidade sofredora.
                37. Obrigado, Mozart, adeus. – R. Crede, crede que ali estou. Sou feliz...Crede que há mundos acima do vosso ... Crede em Deus... Evocai-me mais freqüentemente, e em companhia de músicos; estarei feliz por vos instruir e contribuir para o vosso adiantamento, e de vos ajudar a subir até Deus. Evocai-me; adeus.

Allan Kardec - Revista Espírita de maio/1858

VOLTAR PARA PÁGINA PRINCIPAL

 

ANO II - Nº 15 – Campo Grande – MS – abril de 2007
EDIÇÃO DO CENTRO ESPÍRITA “VALE DA ESPERANÇA”
Rua Colorado n o 488, Bairro Jardim Canadá, CEP 79112-480, Campo Grande-MS.