"Luzes do Amanhecer"

Fundado em 16/07/1996 publicado 02/02/2006
JORNAL DE DIVULGAÇÃO ESPÍRITA - ANO XIII - N. 153 * Campo Grande/MS * Outubro de 2018.
EDIÇÃO DO CENTRO ESPÍRITA “VALE DA ESPERANÇA”
Rua Colorado n o 488, Bairro Jardim Canadá, CEP 79112-480, Campo Grande-MS.

Luzes_do_Amanhecer_153.pdf
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        Na consciência está o arquivo mais sublime do homem. Não só o arquivo mais completo, como aquelas etapas que ainda não foram bem equacionadas e precisam de uma solução.

 

BICORPOREIDADE, O QUE É?

 

        A aparição de pessoas vivas em dois lugares diferentes, longe ou perto, é o fenômeno ligado à faculdade da alma de emancipar-se, desprender-se do corpo, produzindo efeitos idênticos aos que os Espíritos desencarnados promovem.
        A alma, aproveitando-se da situação em que o corpo físico dorme, mergulhado no sono, separa-se dele transportando-se a diversos lugares, podendo fazer-se visível, aparecendo sob forma vaporosa e até mesmo de forma tangível, muito semelhante ao seu corpo físico, ao ponto de fazer as pessoas que a vejam ter a certeza de estar vendo a pessoa viva, ou vendo os dois corpos idênticos, se estiverem próximos um do outro.
        A história e a literatura espírita registram inúmeros casos de bicorporeidade, como o célebre caso de Santo Afonso de Liguori que foi canonizado antes do tempo requerido, por ter aparecido em dois lugares distintos no mesmo instante, o que foi registrado como milagre.
        Allan Kardec ao saber desse fato invocou o Espírito de Santo Afonso que não só confirmou o fato como verdadeiro, como deu instruções de como é que se opera esse fenômeno, dizendo que quando o Espírito do homem se eleva em virtude e é desmaterializado, Deus permite que possa estar em dois lugares diferentes com seu corpo físico, num estado quase à beira da morte, em um lugar e com parte de seu perispírito em outro, podendo ainda tal corpo espiritual ser tangível.
        Santo Antonio de Pádua também usou desse expediente quando pregava o evangelho na Espanha e seu pai, acusado de assassinato, seria supliciado em Pádua, na Itália. Naquela hora, no mesmo instante, aparece Antonio no tribunal, demonstrando a inocência dele e revelando o verdadeiro criminoso, que foi supliciado pelo crime.
        Relata ainda Allan Kardec a história de Maria de Jesus de Agreda, nascida na cidade de Castela em 2 de abril de 1602, tornando-se madre superiora do Mosteiro Imaculada Conceição de Maria, que em estado de êxtase, exercia a bicorporeidade evangelizando indígenas no Novo México, muito distante de sua cidade.
        O grande pesquisador do psiquismo, Ernesto Bozzano, deu a lume uma obra dedicada integralmente às Comunicações Mediúnicas entre Vivos e analisa dezenas de casos de comunicações entre pessoas vivas, baseado em obras de outros grandes pesquisadores como Frederich Myers, Julian Ochorowich, Oliver Lodge, para se citar os mais conhecidos.
        No Brasil temos os casos vivenciados por Eurípedes Barsanulfo, ilustre espírita e incansável trabalhador do nosso Senhor Jesus Cristo. Pode-se ter uma ligeira ideia das suas proezas na obra de Corina Novelino intitulada “Lindos Casos da Mediunidade de Eurípedes”.
        Eurípedes era farmacêutico e dedicava sua vida a curar as pessoas. Trabalhava com o Espírito de Bezerra de Menezes e através de seus desdobramentos, aparecia com seu corpo espiritual onde estavam os mais críticos pacientes e curava-os.
Como se nota, esse fenômeno da bicorporeidade ocorre com pessoas das mais diversas religiões, mas só o Espiritismo é capaz de explica-lo. Quando essas crenças aceitarem as demonstrações dadas pela doutrina Espírita sobre as provas patentes que são fornecidas, sobre a possibilidade de sua ocorrência sem derrogar, sem se negar as leis da natureza, haverão de se render às evidências, reconhecendo que existem leis desconhecidas, que ainda pertencem aos segredos de Deus.

Crispim.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- O livro dos Médiuns. Allan Kardec.
- Revista Espírita 1858/1860. Allan Kardec.
- Obras Póstumas. Allan Kardec.
- Lindos Casos da Mediunidade de Eurípedes. Corina Novelino.
- Comunicações Mediúnicas entre Vivos. Ernesto Bozzano.

 

 

      DISCERNIMENTO

 

            Diante de suas dificuldades continue lutando, porque somente assim será capaz de suprimi-las, porque a rigor se estamos na indigência e não trabalhamos, o que afinal se pode esperar?
            Se porventura se julgue desassistido, embora não o seja na realidade, trabalhe porque somente assim será capaz de adquirir algo para garantir os seus dias com pão à mesa.
            Se já deseja realizar algo bem simples, mas mesmo diante de um pequeno gesto de incompreensão dos outros, já sente o desânimo, e nem sequer tem forças para começar, desiste, alegando que não tem condições de concluir a tarefa que planejou, certamente que está votado a ter mais problemas do que já tem, porque em verdade, não procurando a solução para resolver os problemas que são seus, certamente gerará outro maior.
            Por mais que se julgue sem méritos nunca deixe de trabalhar pelo bem, porque seguindo nesse rumo, é certo que algo conseguirá, mesmo que sejam migalhas, mas estas podem representar muito para quem nada tem.
            Se porventura vê companheiros que não correspondem às expectativas no que se refere ao trabalho em favor do próximo, aliás, é um alerta para que possa examinar-se com mais cuidado, pois que se já tem a clarividência de observar os erros alheios, deve com justa razão fazer o melhor, porque sabendo que os outros se apresentam de maneira deficiente porque não sabem, naturalmente você que conhece, deve pelos menos, dar o bom exemplo e isso ocorre para      que também consiga levar aos outros que estão na retaguarda. Talvez até mesmo a sua espera os ajude a caminhar, portanto, nesses momentos não pode ficar inativo diante da luta que se desenvolve ao longo do percurso da existência.
            Em seus momentos de reflexões quando avalia o caminho já percorrido, lembre-se que já superou muitas dificuldades, mas talvez em breve deverá prestar contas dos talentos que recebeu, entre outras coisas, o discernimento que já tem, e como a ferramenta indica claramente o que deve fazer, sabe com certeza que prejuízo acarreta aquele que sabe e não faz, que sabendo reconhecer os erros dos outros, ainda assim não faz o que deve e julga-se certo, assim que na contabilidade final, pode não ter a justificativa que espera; justamente porque sabe, tem a obrigação de realizar e exemplificar.

 

Histórias Educativas
Pelo Espírito de Áulus
Otacir Amaral Nunes

 

 

O EXEMPLO

 

            Jesus continua sendo a luz no caminho da Humanidade.
            Embora muitas vezes venha eleger certos companheiros para ser o espelho em que mire por sua fidelidade a grande causa, mas nas palavras de Jesus estão expressas todas as conquistas humanas e sobre-humanas, portanto Ele é o exemplo maior para todos.
            É claro que também tem que olhar os baluartes de sua fé, como o bom exemplo de uma vida digna, por outro lado aja com bom senso, como não tem a obrigação de seguir os maus exemplos que alguns deram. O Apóstolo dos Gentios afirma: “tudo me é licito, mas nem tudo me convém”, assim também deve vigiar as suas atitudes.
            Lembre-se que outros também observam as suas atitudes e deve dar o bom exemplo, porque o exemplo sempre é o melhor argumento, mas também quando age no mal alguém o observa assim cautela em tudo que faça.
            Lembre-se será também vitrine em que outras pessoas olham que pode também acreditar no que faz ou diz, naturalmente que ninguém pode ter a pretensão de ser o bom exemplo, mas isso não impede as pessoas que o vejam assim, mas também tem a obrigação de não decepcionar os outros,
            Daí porque deve muitas vezes andar sobre o fio da navalha, não desviar-se para esquerda e nem para direita. Lembrando o próprio Jesus, “se tua mão direita é motivo de escândalo corta e lança fora, é melhor que entre na vida sem um dos membros do que o corpo todo ser lançado em lugar escuso”.
            Assim que é preciso aos poucos se desvencilhar dos seus pequenos defeitos, isto é, estabelecer uma meta para vencê-los e depois então comece a se questionar quanto aos demais, porque a imperfeição ainda é tão própria do estágio atual da Humanidade. Mas a grande proposta da reencarnação é superar esses defeitos mais pronunciados do seu psiquismo, que tem sido a causa dos seus maiores sofrimentos,
            Por isso essa lição serve para responder essas questões propostas e estabelecer um roteiro com objetivo de superar alguns defeitos, que já é capaz de detectar com clareza diante de si e continue a trabalhar diuturnamente para corrigi-los, é uma informação  importante para a sua orientação pessoal.
            Não adianta o negativismo de que nasceu assim e o seu caso não tem solução. Isto não é verdade, e pode refazer o seu destino e para isso  tem o apoio da razão. Se nesse momento passa por crises, mas não nasceu assim. Na realidade não é mau em essência, mas máscaras transitórias que está tentando encobrir erros clamorosos do passado.
Porém um dia elas serão retiradas com a conscientização do seu destino. Especialmente é o que esperam aqueles que sintam pesar sobre os seus ombros a responsabilidade de crescer.
            Por isso, não desanime diante das dificuldades, pois que elas constituem a herança de encarnações sucessivas e desafiam  homens e mulheres corajosos para que consigam superá-las.       Por fim lembre-se que todos estão  perfeitamente integrados a lei do progresso, especialmente aquelas que se disponham a lutar com os seus próprios meios, com disciplina, perseverança e boa vontade. Em frente.

 

Lições De Simplicidade
Pelo Espírito de Áulus
Otacir Amaral Nunes

 

 

O PROBLEMA DA TENTAÇÃO

 

        O educador, em aula, tentava explicar aos meninos que o móvel das tentações reside em nós mesmos; contudo, como os aprendizes mostravam muita dificuldade para compreender, ele se fez acompanhar pelos alunos até ao grande pátio do colégio.
        Ai chegando, mandou trazer uma bela espiga de milho e perguntou aos rapazes:
        — Qual de vocês desejaria devorar esta espiga tal como está?
        Os jovens sorriram, zombeteiramente, e um deles exclamou:
        — Ora vejam!... quem se animaria a comer milho cru?
        O professor então mandou vir à presença deles um dos cavalos que serviam à escola, instalou alguns obstáculos à frente do animal e colocou a espiga ao dispor dele, sobre pequena mesa.
        O grande eqüino saltou, lépido, os impedimentos e avançou, guloso, para o bocado.
        O professor benevolente e amigo esclareceu, então, bondosamente, ante os alunos surpreendidos:
        — A tentação nos procura, segundo os sentimentos que trazemos no campo íntimo. Quando cedemos a alguma fascinação indigna, é que a nossa vontade permanece fraca, diante dos nossos desejos inferiores. As forças que nos tentam correspondem aos nossos próprios impulsos. Não podemos imaginar ou querer aquilo que desconhecemos. Por esse motivo, necessitamos vigiar o cérebro e o coração, a fim de selecionarmos as sugestões que nos visitam o pensamento.
        E, terminando, afirmou:
        — As situações boas ou más, fora de nós, são iguais aos propósitos bons ou maus que trazemos conosco.

 

Livro Pai Nosso
Francisco Candido Xavier
Pelo Espírito de Meimei

 

 

1. QUALIDADES ESSENCIAIS AO MÉDIUM

 

        Indiscutivelmente a mediunidade, no aspecto em que a conhecemos na Terra, é a resultante de extrema sensibilidade magnética, embora, no fundo, estejamos informados de que os dons mediúnicos, em graus diversos, são recursos inerentes a todos. Cada ser é portador de certas atividades e, por isso mesmo, é instrumento da vida. [...] Importa reconhecer, porém, que existem mentes reencarnadas, em condições especialíssimas, que oferecem qualidades excepcionais para os serviços de intercâmbio entre os vivos da carne e os vivos do Além. Nessas circunstâncias, identificamos os medianeiros adequados aos fenômenos de manifestação do espírito liberto, nos círculos de matéria mais densa. Contudo, nem sempre os donos dessas energias são mensageiros da sublimação interior. [...] Mais de dois terços dos médiuns do mundo jazem, ainda, nas zonas de desequilíbrio espiritual, sintonizados com as inteligências invisíveis que lhes são afins. Reclamam, em razão disso, estudo e boa-vontade no serviço do bem, a fim de retomarem a subida harmônica aos cimos da luz [...]. Os médiuns, em qualquer região da vida, filtros que são de rogativas e respostas, precisam, pois, acordar para a realidade de que viveremos sempre em companhia daqueles que buscamos, de vez que, por toda parte, respiramos ajustados ao nosso campo de atração.         O exercício da faculdade mediúnica não guarda relação com o desenvolvimento moral dos médiuns. A faculdade [...] propriamente dita se radica no organismo; independe do moral. O mesmo, porém, não se dá com o seu uso, que pode ser bom, ou mau, conforme as qualidades do médium. Forçoso reconhecer, todavia, que a mediunidade, na essência, quanto a energia elétrica em si mesma, nada tem a ver com os princípios morais que regem os problemas do destino e do ser. Dela podem dispor, pela espontaneidade com que se evidencia, sábios e ignorantes, justos e injustos, expressando-selhe, desse modo, a necessidade de condução reta, quanto a força elétrica exige disciplina a fim de auxiliar. Sendo assim, se o [...] médium, do ponto de vista da execução, não passa de um instrumento, exerce, todavia, influência muito grande, sob o aspecto moral. Pois que, para se comunicar, o Espírito desencarnado se identifica com o Espírito do médium, esta identificação não se pode verificar, senão havendo, entre um e outro, simpatia e, se assim é lícito dizer-se, afinidade. A alma exerce sobre o Espírito livre uma espécie de atração, ou de repulsão, conforme o grau da semelhança existente entre eles. Ora, os bons têm afinidade com os bons e os maus com os maus, donde se segue que as qualidades morais do médium exercem influência capital sobre a natureza dos Espíritos que por ele se comunicam. Se o médium é vicioso, em torno dele se vêm grupar os Espíritos inferiores, sempre prontos a tomar o lugar aos bons Espíritos evocados. As qualidades que, de preferência, atraem os bons Espíritos são: a bondade, a benevolência, a simplicidade do coração, o amor do próximo, o desprendimento das coisas materiais.
        A par da questão moral, apresenta-se uma consideração efetiva não menos importante, que entende com a natureza mesma da faculdade. A mediunidade séria não pode ser e não o será nunca uma profissão, não só porque se desacreditaria moralmente, identificada para logo com a dos ledores da boa-sorte, como também porque um obstáculo a isso se opõe. É que se trata de uma faculdade essencialmente móvel, fugidia e mutável, com cuja perenidade, pois, ninguém pode contar. [...] A mediunidade [...], não é uma arte, nem um talento, pelo que não pode tornar-se uma profissão. Ela não existe sem o concurso dos Espíritos; faltando estes, já não há mediunidade. Pode subsistir a aptidão, mas o seu exercício se anula. Daí vem não haver no mundo um único médium capaz de
garantir a obtenção de qualquer fenômeno espírita em dado instante. Explorar alguém a mediunidade é, conseguintemente, dispor de uma coisa da qual não é realmente dono. A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente.

 

ESDE
2008

 

 

PSICOGRAFIA

 

        Ainda se pensa muito quando tudo está errado em determinado momento de nossa vida, mas logo se esquece quando surgem tempos melhores, porque normalmente se acostumamos com os momentos bons e agradáveis.
            Porém as lições que aprendemos a duras penas nunca devem ser esquecidas, pois que elas foram as que mais profundamente influenciaram nos dias de nossa paz de hoje.
            Reconhecer que mudamos para melhor e buscar dentro do possível o que mais nos convém, e que se deve fazer para melhorar, qual deve ser nosso procedimento perante qualquer circunstância da vida? Sempre agir no bem, sempre buscar fazer o melhor, ainda que nos seja difícil, ainda assim será a melhor opção, pois que nos dará as melhores oportunidades que a vida nos oferece.

            Chega! Chega!  Vamos fazer as compras. Aqui tem tudo. Aproveite. Somente hoje o preço é menor. Atenção não esqueça o vestido da esposa,  do brinquedo para o filho, enfim aqui tem tudo para casa.
            É o homem vendendo suas mercadorias, oferecendo opções a seus clientes, com isso buscando vender seus produtos.
            Na vida procedemos assim também, só que nos oferecemos nossos valores abstratamente, preguemos pelo exemplo, pelo procedimento diário, muitas vezes nós somos como o comerciante, oferecemos tudo de nós, causando sérios prejuízos ao nosso próximo.
            Sem saber que seremos cobrados pelo procedimento equivocado, por exemplos perniciosos que oferecemos aos outros. Também nesse campo plantamos, uma vez que muitas pessoas crédulas seguem nossos exemplos, dificultando os seus próprios caminhos.
            Quando Jesus lembrava que não fôssemos pedra de tropeço de ninguém se referia também a essa situação ao mau exemplo, dificultando a vida do próximo.
            Chega de lamúrias, não agüento mais, sempre a mesma coisa, não suporto mais essa vida. É comum ouvir nos lares semelhantes exclamações, pois que são pessoas que não compreenderam realmente o mecanismo da vida. Pois ela é a grande oportunidade que Deus concede ao homem através da reencarnação, porém o homem quando aqui chega, esquece sua posição e julga que ficaria com a parte pior, esquecendo que muitas vezes está vivendo o momento mais importante de sua vida, pois que está diante de problemas que precisam vencer e ele maldiz a situação que se encontra é reclamar dos outros que tentam auxiliar em suas próprias metas a serem atingida.
            Pois que estas em grande maioria são grandes testes para promovê-los a uma situação melhor, mas não compreende e põe-se a reclamar da dor benfeitora que tenta libertá-lo.
            Pois que, a reencarnação, é dos processos de vida destinado a acelerar o progresso do homem. É um dos mecanismos da vida, que tem por objetivo dar ao homem tanto a oportunidade para que este recomece, ou seja, um novo ponto de partida, para que possa desta feita superar antigos obstáculos, pois que se semeamos semente de ervas daninhas no caminho dos outros, nós é que temos de retirá-los, pois que a cada um de acordo com suas sobras.
            Nunca é demais lembrar o irmão que o trabalho constante desperta em nós energias adormecidas, facilitando a execução de nossas tarefas, porque o trabalho é uma força libertadora, seja porque a Doutrina Espírita coloca em primeiro lugar a caridade, isto é, a ação em favor dos outros como o fundamento essencial da Doutrina de Jesus, pois que da caridade aumenta a capacidade de servir. Pois a Doutrina Espírita não contempla fé sem obras, a fé é importante, mas não substitui a obra, pode ser corolário, mas não a supera nunca, porque a caridade é o amor colocado em ação, a fé conquanto pensamento é um projeto, o amor a execução e a caridade é a conclusão do projeto.

           
Um amigo

 

 

O DESAFIO DA AUTO-ACEITAÇÃO

 

CARLOS ABRANCHES

 

        Felicidade exige esforço. E um dos mais importantes é jogar fora o que não presta e não serve mais para se atingir a tranqüilidade interior.
        Tirar fardos inúteis dos ombros é tarefa imediata. Ser feliz é a meta.
        É preciso definitivamente deixar de ser um carregador de tralhas mentais e emocionais, que só fazem atrapalhar a caminhada rumo à alegria plena de um coração amadurecido.
        Há uma multidão de pessoas carregando um mausoléu de crenças limitantes e autopunitivas dentro de si.
        Acreditam que não são capazes de grandes conquistas e fazem questão de mostrar isso a si mesmas todos os dias. Chegam a torcer contra a própria felicidade, preferindo pensar que nunca vão conseguir o que almejam porque não sabem ou não querem aprender como chegar lá.
        Não há escapatória. Se a pessoa quer crescer, precisa resolver muito bem suas pendências com o passado. E nesse “ontem” de sua vida, não me refiro a reencarnações anteriores, mas sim à atual, onde teve início uma série de emoções básicas que esperam por soluções adequadas, no imediato de seu tempo presente.
        Precisamos aprender a parar de jogar a culpa de nossos fracassos e insucessos atuais no passado longínquo de outras vidas. Esse mecanismo de fuga é mais uma artimanha da zona íntima de conforto de quem não quer mexer no “vespeiro” da necessidade da transformação interior e assumir sua real responsabilidade pelos atos e emoções do presente.
Ora, se a vida superior nos preserva da lembrança de vivências marcantes de encarnações passadas, é porque se faz necessário extrair da nova oportunidade reencarnatória tudo que ela nos propicia de reorganização pessoal de nossas atitudes com a lei de amor. É preciso apagar temporariamente o passado para jogar o foco da renovação no presente real de nossas possibilidades.
        Auto-aceitação implica satisfação e alegria por eu ser quem sou. Significa reconhecimento de meus limites, mas também compreensão de minhas chances de crescimento e autocarinho diante de meus esforços em busca de um ser melhor.
        Entre as características de um ser humano que aprendeu a se auto-aceitar está o fato de ele se revelar ao mundo uma criatura feliz. As pessoas que construíram essa autopercepção e sustentam-na diariamente estão sempre em boa companhia. Aqueles que dizem ser felizes, mas se autodestroem ou prejudicam os outros, não são felizes essencialmente.
        Quem se auto-aceita não vê barreiras em procurar alguém. Ao contrário, oferece-se às relações pessoais como um presente, e aceita o outro como uma dádiva a ser descoberta também. E se o caso for ficar só por um tempo, aceita o momento com maturidade, porque, para ele, estar sozinho nunca será um problema, e sim uma oportunidade de sentir-se em paz.
        Quem se aceita aprende a conviver com elogios e sobretudo a oferecê-los, reconhecendo-os como estímulos a si mesmo e aos outros. Pára com aquela conduta de falsa humildade, de dizer que não merece o reconhecimento, que acredita não passar de um pontinho de quase-nada diante da grandeza de tudo. Se eu me amo, será natural que admita a possibilidade de outros me amarem também.
        Por se aceitar, a pessoa descobre a beleza de conviver com seu ser essencial, sem máscaras, sem precisar forjar uma realidade que ainda não é em si. Poderá atingir seu objetivo, mas ainda falta um longo caminho pela frente, que pode e deve ser trilhado com auto-aceitação e desejo de acertar sempre mais.
        Por se aceitar, a criatura reconhece que certos atos menos felizes não têm a força de derrubá-la moralmente, e por isso considera-os no tamanho real de seus impactos. Nem mais, nem menos. Apenas o peso adequado para o que eles merecem.
        Quem se aceita aprende a reconhecer e atender a suas necessidades. Sabe que se não se amar, não vai poder amar alguém.Ao mesmo tempo, sabe dizer “não” na hora exata, como o pai que cuida com atenção e afeto do filho que lhe pede tudo, mas que deve aprender a conviver com o necessário.
        Aceitar-se implica se autodeterminar. A pessoa dedica-se a consumir suas energias vitais na definição de metas e na concretização de seus ideais de felicidade. E isso implica manter os pés no chão da realidade e aplicar as forças de forma sábia na definição de uma vida saudável e equilibrada.
        Na pessoa que se aceita, a guerra interior já acabou. Ela não perde tempo em ficar se martirizando. Parte logo para saber o que precisa fazer a fim de colaborar, uma vez por todas, com a melhoria do mundo. É a hora em que, conforme afirma Emmanuel, a “cruz” se transforma na espada fincada no chão, cravando o fim dos conflitos e a primazia da paz. E é muito bom estar em paz para trabalhar em harmonia pelo bem do mundo.
        Como nesse contexto íntimo as armas foram depostas e definitivamente guardadas, a dor que costumava visitar o ser e às vezes nele fazer morada já não encontra mais espaço para permanecer, deixando o lugar para a felicidade duradoura.
Auto-aceitar-se é deixar que a consciência de si mesmo tome conta do coração, entregando-o maduro e resoluto às forças mais elevadas da vida, para que o Senhor faça de nós definitivamente instrumentos fiéis de sua imensa paz.

 

Reformador
Março 2007

 

 

REVELAÇÕES DO PLANO ESPIRITUAL

 

        Desde as ancestrais civilizações, busca o homem, nas revelações dos seres invisíveis, respostas para as suas dúvidas e questionamentos. Remontando à mais recuada antiguidade, encontraremos tais registros.
        Já no Egito ancestral era vulgar a consulta aos mortos; por consequência, essa experiência foi aculturada pelos hebreus ainda no período de cativeiro no Egito, sob o nome de necromancia, sendo usada para a obtenção indiscriminada de conselhos e favores, razão pela qual fez Moisés absoluta proibição de se evocarem os mortos (Levítico 19:31), sob pena de morte (Levítico 20:6). Nada obstante essa proibição mosaica, muito conhecida é a passagem bíblica encontrada no primeiro livro de Samuel (I Samuel 28:3-25), na qual o Rei Hebreu Saul consulta uma necromante, a pitonisa da cidade de Endor, quando este deseja aconselhar-se com o espírito do ilustre Juiz de Israel, Samuel1.
        Modernamente, em virtude da grande difusão do Espiritismo2, revelam as pesquisas um crescimento do número de adeptos da doutrina espírita no Brasil. Diante desse cenário, a temática da consulta ao Plano Espiritual reveste-se de especial relevo. Elemento basilar da Doutrina, a comunicação com os homens e mulheres que já viveram na Terra é pratica ordinária que merece, pois, continuada reflexão crítica, no que diz respeito ao seu uso racional.
        Observaremos, por exemplo, em vasta literatura mediúnica, uma verdadeira avalanche de revelações espirituais sobre as mais variadas questões científicas, de quase todas as áreas, sobretudo das ciências históricas e biomédicas. Pretendendo auxiliar no avanço do conhecimento, anelam proporcionar as peças que faltam para completar as pesquisas científicas. Diante desses fatos, faz-se justo e autêntico indagar: os espíritos podem fornecer aos homens revelações para suas pesquisas e descobertas científicas?
        Como usual, será no tipo de perfeição moral oferecido por Jesus que a humanidade poderá encontrar o modelo de comportamento a ser imitado. Em conformidade com a narrativa encontrada em O Evangelho segundo Marcos3 , Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, e os levou, sozinhos, para um lugar retirado, sobre o alto de um monte, que dizem alguns exegetas seria o Monte Tabor. Ali Jesus ficara transfigurado diante deles. Suas vestes tornaram-se resplandecentes, e lhes apareceram Elias com Moisés, dialogando com Jesus. Ao descerem da montanha, ordenou-lhes Jesus que a ninguém contassem o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressurgido, após a Sua morte física. Jesus pediu-lhes que silenciassem, não obstante soubesse – profundamente – que a divulgação daquele fenômeno atrairia inúmeros adeptos para a Causa. Poderia ter desvelado Sua inigualável qualidade fluídica, entretanto, usara mais um de seus silêncios homéricos como exemplificação aos que Lhe exigiam a revelação miraculosa da Sua condição Messiânica: os homens deveriam, por si mesmos, descobrir a verdade – Ele era O Cristo de Deus – pela simples observação direta de Suas atitudes, palavras, sentimentos e caridade.
        Essa passagem evangélica oferece aos estudiosos do espiritismo ensejo para severas reflexões sobre as indagações que devem ser feitas aos médiuns/espíritos. E para balizar a interpretação correta e definitiva para essa questão, recorramos, sempre, ao fiel apóstolo de O Espírito de Verdade: Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo. Nos seus quase trinta livros encontraremos as elucidações magistrais, como as seguintes diretrizes: “A Ciência é obra do gênio; só deve ser adquirida pelo trabalho, pois é somente pelo trabalho que o homem se adianta no seu caminho. Que mérito teria, se apenas precisasse interrogar os Espíritos para saber tudo? A esse preço, qualquer imbecil poderia tornar-se sábio. O mesmo se dá com as invenções e descobertas da indústria”. (...)(...) Deus disse ao homem: tirarás teu alimento da terra, com o suor de teu rosto; admirável figura que pinta a condição em que ele, aqui, se encontra; ele deve progredir em tudo, pelo esforço do trabalho; se lhe dessem as coisas inteiramente prontas, de que lhe serviria sua inteligência? Seria como o estudante, cujo dever, um outro fizesse.” 4
        “Os espíritos não vêm para livrar o homem do trabalho, do estudo e das pesquisas; eles não lhe fornecem nenhuma ciência inteiramente pronta, e o que o homem pode descobrir por si mesmo, eles deixam entregue às suas próprias forças”.5
“Quando chega o tempo de uma descoberta, os Espíritos encarregados de lhe dirigir a marcha, procuram o homem capaz de levá-la a bom termo e lhe inspiram as ideias necessárias, de maneira a lhe deixarem todo o mérito, porquanto estas ideias, é preciso que ele as elabore e as execute. O mesmo acontece com todos os grandes trabalhos da inteligência humana. Os Espíritos deixam cada homem na sua esfera de ação;”4.
        Tenhamos, por conseguinte, a circunspecção, o bom-senso, o espírito crítico e a responsabilidade ensinados e exemplificados por Jesus e Allan Kardec, especialmente no que diz respeito às revelações que cabem aos cientistas desvelarem, divulgando as orientações dos mentores com extrema prudência, guardando-nos de dar precipitadamente como verdades descobertas que competem aos pesquisadores e ao “tempo” desvendarem. Que sejam noticiadas apenas como probabilidades, se forem de irretocável lógica e concordantes com a ciência, sob pena de, agindo sem o necessário zelo, estarmos prestando um desserviço à Doutrina que tanto amamos.

 

REFERÊNCIAS:
1- KARDEC, Allan. Invocações. Definições espíritas, vocabulário espírita contido na primeira edição de O Livro dos Médiuns. 1.ed. Niterói: Publicações Lachâtre, 1997. p. 78-80.
2 - Censo Demográfi co do IBGE, ano 2010.
3 BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Nova edição rev. e ampl. São Paulo: Paulus,  2002. 3 a. Impressão: 2004. O Evangelho segundo Marcos, Cap. 9, versículos 2 ao 9. p. 1772.
4 - KARDEC, Allan: “294 perguntas sobre as invenções e descobertas”. O Livro dos Médiuns. Tradução de Maria Lúcia Alcantara de Carvalho. 1. ed. Rio de Janeiro: León Denis Gráfi ca e Editora, 2010. Segunda parte, Capítulo XXVI, Itens 28 e 29. p. 366-368.
5 - Idem. A gênese. Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Tradução de Albertina Escudeiro Sêco. 1. ed. Rio de Janeiro: León Denis Gráfi ca e Editora, 2007. Cap. I, item 60. p. 58

 

Revista Cultura Espírita
2012

 

 

TUDO NOVO

 

“Assim é que, se alguém está. em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” — Paulo. (2ª EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS, capítulo 5, versículo 17.)

 

É muito comum observarmos crentes inquietos, utilizando recursos sagrados da oração para que se perpetuem situações injustificáveis tão-só porque envolvem certas vantagens imediatas para suas preocupações egoísticas.
Semelhante atitude mental constitui resolução muito grave.
Cristo ensinou a paciência e a tolerância, mas nunca determinou que seus discípulos estabelecessem acordo com os erros que infelicitam o mundo. Em face dessa decisão, foi à cruz e legou o último testemunho de não-violência, mas também de não-acomodação com as trevas em que se compraz a maioria das criaturas.
Não se engane o crente acerca do caminho que lhe compete.
Em Cristo tudo deve ser renovado, O passado delituoso estará morto, as situações de dúvida terão chegado ao fim, as velhas cogitações do homem carnal darão lugar a vida nova em espírito, onde tudo signifique sadia reconstrução para o futuro eterno.
É contra-senso valer-se do nome de Jesus para tentar a continuação de antigos erros.
Quando notarmos a presença de um crente de boa palavra, mas sem o íntimo renovado, dirigindo-se ao Mestre como um prisioneiro carregado de cadeias, estejamos certos de que esse irmão pode estar à porta do Cristo, pela sinceridade das intenções; no entanto, não conseguiu, ainda, a penetração no santuário de seu amor.

 

Livro "Caminho, Verdade e Vida"
Pelo Espírito Emmanuel
Francisco Cândido Xavier

 

 

CONSELHO MATERNO

 

        D. Rita de Cássia criava em sua casa, como filho adotivo, um sobrinho de nome Moacir, menino de onze a doze anos de idade. Moacir trazia larga ferida na perna, quando a dona da casa mandou chamar D. Ana Batista, antiga benzedeira da localidade denominada Matuto, hoje Santo Antonio da Barra, nos arredores de Pedro Leopoldo.
        D. Ana examinou a úlcera e informou:
        — Aqui só uma “simpatia” dará resultado.
        — Qual? — perguntou a madrinha do Chico.
        — Uma criança deve lamber a ferida por três sextas feiras continuadas, pela manhã, em jejum.
        E Dona. Rita perguntou:
        — Chico serve?
        A benzedeira observou e declarou:
        — Muito bem lembrado.
        Isso ocorria numa quinta-feira.
        À tarde, quando o menino foi à prece, sob as árvores, encontrou D. Maria João de Deus, em espírito, e contou-lhe, chorando, que no dia seguinte ele deveria tomar parte na “simpatia”.
        — Você deve obedecer, meu filho.
        — A senhora acha que eu devo lamber a ferida do Moacir?
        — Mais vale lamber feridas que fazer aborrecimentos nos outros — falou o espírito maternal, — você é uma criança e não deve contrariar sua madrinha.
        — E a senhora crê que isso poderá curar o doente?
        — Não. Isso não é remédio? Mas dará bom resultado para você mesmo, porque sua obediência dará tranquilidade à sua madrinha.
        E, vendo que o menino hesitava, continuou:
        — Seja humilde, meu filho. Se você ajudar a paz de que precisamos, você lamberá a ferida e nós faremos o remédio para curá-la.
        No outro dia, Chico obedeceu à ordem.
        Na sexta-feira imediata repetiu a estranha operação e a úlcera desapareceu.
        Quando lambeu a ferida pela terceira vez, viu o Espírito de sua mãe, sorridente, ao seu lado. Extático, viu-a abraçar Dona Rita.
        E Dona Rita, transformada, acariciou-o, pela primeira vez, e disse-lhe, bondosa:
        — Muito bem, Chico. Você obedeceu direitinho. Louvado seja Deus!
        E depois de dois anos de flagelação, o Chico teve a felicidade de passar uma semana inteira sem garfadas e sem vergões.

 

Livro Lindos Casos de Chico Xavier 
Autor Ramiro Gama

 

 

FENÔMENOS DE APARIÇÃO

 

        O Constitutionnel e a Patrie narraram há algum tempo o fato seguinte, de acordo com jornais dos Estados Unidos:
        “A pequena cidade de Liechtfield, no Kentucky, conta com numerosos adeptos da doutrina do espiritualismo magnético. Um fato incrível, que ali acaba de se passar, por certo não contribuirá pouco para aumentar o número de partidários dessa nova religião.
        “A família Park, composta dos pais e de três filhos que já se encontram na idade da razão, era fortemente imbuída das crenças espiritualistas. Ao contrário, a Srta. Harris, irmã da Sra. Park, não punha nenhuma fé nos prodígios sobrenaturais com os quais os parentes se entretinham incessantemente. Para a família inteira, isso era um verdadeiro motivo de desgosto e, por mais de uma vez, a boa harmonia entre as duas irmãs foi perturbada.
        “Há alguns dias, a Sra. Park foi acometida repentinamente de um mal súbito que, desde logo, os médicos declararam não poder debelar. A paciente era vítima de alucinações, e uma febre terrível constantemente a atormentava. A Srta. Harris passava as noites em claro. No quarto dia de sua doença, a Sra. Park levantou-se subitamente da cama, pediu água e começou a conversar com a irmã. Circunstância singular, a febre a havia deixado de repente, o pulso estava regular, exprimia-se com grande facilidade e a Srta. Harris, toda feliz, julgou que a irmã estava fora de perigo.
        “Depois de haver falado de seu marido e dos filhos, a Sra. Park se aproximou ainda mais da irmã, dizendo-lhe:
        “Pobre irmã, vou deixar-te; sinto que a morte se aproxima. Mas, pelo menos, minha partida deste mundo servirá para te convencer. Morrerei dentro de uma hora e serei enterrada amanhã. Evita com muito cuidado não seguir meu corpo ao cemitério, porquanto meu Espírito, ainda revestido de seus despojos mortais, aparecer-te-á uma vez mais, antes que meu caixão seja recoberto de terra. Acreditarás, finalmente, no espiritualismo.”
        “Após ter acabado de dizer essas palavras, a doente deitou-se tranqüilamente. Uma hora mais tarde, porém, como o havia anunciado, a Srta. Harris percebeu dolorosamente que o coração da enferma cessara de bater.
“Vivamente emocionada pela surpreendente coincidência existente entre esse acontecimento e as proféticas palavras da defunta, decidiu seguir a ordem que lhe havia sido dada e, no dia seguinte, ficou sozinha em casa, enquanto todo mundo tomava o caminho do cemitério.
        “Depois de haver fechado as persianas da câmara mortuária, sentou-se numa poltrona, perto do leito de onde acabara de sair o corpo da irmã.
        “Apenas decorridos cinco minutos – contou mais tarde a Srta. Harris – vi como que uma nuvem branca a se destacar no fundo do apartamento. Pouco a pouco essa forma se desenhou melhor: era a de uma mulher semivelada; aproximou-se de mim lentamente; discerni o ruído de passos leves no assoalho; por fim meus olhos, espantados, se acharam em presença de minha irmã...
        “Seu rosto, longe de possuir essa palidez mate, que nos mortos impressiona tão desagradavelmente, era radioso; suas mãos, cuja pressão logo senti sobre as minhas, tinham conservado todo o calor da vida. Fui como que transportada a uma nova esfera por essa maravilhosa aparição. Acreditando já fazer parte do mundo dos Espíritos, apalpei meu peito e a cabeça para assegurar-me de minha existência; mas nada havia de penoso nesse êxtase.
         “Depois de ter ficado assim em minha frente, sorrindo mas calada, durante cerca de alguns minutos, minha irmã, parecendo fazer um esforço inaudito, disse-me com voz suave:
        “Devo partir: meu anjo condutor espera-me. Adeus! Cumpri minha promessa. Crê e espera!”
        “O jornal – acrescenta a Patrie – do qual extraímos esse maravilhoso relato, não disse se a Srta. Harris se converteu à doutrina espiritualista. Entretanto, supomos que sim, desde que muitas pessoas se teriam deixado convencer por muito menos.”
        Por nossa conta acrescentamos que esse relato nada contém que deva espantar os que estudaram os efeitos e as causas dos fenômenos espíritas. Os fatos autênticos desse gênero são bastante numerosos e encontram sua explicação naquilo que dissemos a respeito, em várias circunstâncias; teremos ocasião de os citar, e vindos de bem menos longe que este.

Allan Kardec

 

Revista Espírita
1958

 

 

EDIÇÃO DO CENTRO ESPÍRITA “VALE DA ESPERANÇA”
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