"Luzes do Amanhecer"

Fundado em 16/07/1996 publicado 02/02/2006
JORNAL DE DIVULGAÇÃO ESPÍRITA - ANO XV - N. 178 * Campo Grande/MS *Novembro de 2020.
EDIÇÃO DO CENTRO ESPÍRITA “VALE DA ESPERANÇA”
Rua Colorado n o 488, Bairro Jardim Canadá, CEP 79112-480, Campo Grande-MS.

Luzes_do_Amanhecer_178.pdf
Click Aqui - Para Baixar


 

            Feliz será sempre quando se apresentar ao mundo com dignidade. Áulus

 

 

COMUNHÃO DE PENSAMENTOS

 

            Nos idos de 1868 Allan Kardec no mês de dezembro, na data comemorativa aos mortos, proferiu um discurso na Sociedade de Paris e discorreu inclusive sobre o tema de o espiritismo ser ou não uma religião.
            Kardec inicia seu discurso dizendo que estão reunidos nesse dia consagrado à comemoração dos mortos, para dar um testemunho particularde simpatiaaos irmãos que deixaram a Terra, para continuar as relações de fraternidade e afeto que existiam entre eles e nós, quando vivos e para rogar ao Todo Poderoso Sua bondade sobre eles.
            Lembra, o glorioso codificador do Espiritismo que apesar de podermos fazer nossas orações particularmente, reunidos em comunhão de pensamentos, pensamento comum, unidade de intenção, de vontade de desejo e aspiração, seguimos com a orientação de Jesus que disse que estaria entre os que se reuniam em Seu nome.
            O pensamento sendo um atributo do espírito, distingue o espírito da matéria, com a vontade sendo um atributo do pensamento e não do espírito. É pela vontade que o espírito imprime aos membros e ao corpo os movimentos e com mais razão atua sobre os fluidos ambientes; como o som é transportado pelo ar, esses fluidos transportam o pensamento.
            O ilustre codificador compara uma assembleia, que é um foco onde se irradiam pensamentos diversos, a uma orquestra, um coro de pensamentos onde cada elemento produz sua nota. Se o conjunto for harmônico, a impressão é agradável, se discordante, será penosa.
            A comunhão de pensamentos produz um tipo de efeito físico reagindo sobre o moral; nessas reuniões harmoniosas, homogêneas e simpáticas ganham-se novas forças morais, recuperando-se as perdas fluídicas pela ação intrínseca do pensamento, como se recuperam as energias materiais pela alimentação.
            Sozinho pode-se sucumbir, porém se a sua vontade for acrescida por outras vontades, ter-se-á mais força para neutralizar a ação dos espíritos maus, que procuram levar à divisão e ao isolamento. O axioma conhecido a união faz a força vale para o ponto de vista físico como para o moral.
Assim, pela comunhão de pensamentos os homens se assistem, assistem os Espíritos e recebem deles o auxílio, estabelecendo a solidariedade, a base da fraternidade, cada um trabalhando por todos, coisa que o egoísta não é capaz de entender.
            Considera Kardec que todas as reuniões, de qualquer culto são fundadas na comunhão de pensamentos, exercendo sua força, libertando o pensamento das amarras da matéria; mas quando a religião se torna uma questão de forma, a maioria afasta-se desse princípio, com cada um indo à reunião com seus próprios pensamentos e na maioria das vezes sem nenhum sentimento de confraternidade em relação aos outros participantes, pensando só em si mesmo.
            Como os homens não progridem todos ao mesmo tempo, vemos, em geral, assembleias religiosas afastadas da comunhão fraterna do pensamento. O verdadeiro objetivo dessas assembleias deve ser a comunhão de pensamentos; com efeito, a palavra religião quer dizer laço que religa os homens numa comunhão de pensamentos, princípios e crenças.
            O laço estabelecido pelas religiões é essencialmente moral, ligando os corações, identificando os pensamentos, as aspirações e não apenas os compromissos materiais ou realizações de fórmulas que dizem mais respeito aos olhos que ao espírito.
            Nessa linha de raciocínio o Espiritismo é sim, sem dúvida uma religião, porque é a Doutrina que funda os vínculos da fraternidade e da comunhão de pensamentos sobre as bases sólidas das Leis da Natureza.
            O laço que une os Espíritas é o sentimento moral, todo espiritual, humanitário com a caridade para com todos e o amor ao próximo compreendendo os vivos e os mortos que sempre fazem parte da Humanidade.Amar ao próximo é abandonar todo sentimento de ódio, de animosidade, de rancor, de inveja, de ciúme, de vingança, todo pensamento de prejudicar, perdoar os inimigos e também retribuir o mal com o bem e não desprezar ninguém pelo orgulho.
            Cada um de nós pode escolher, pelo livre-arbítrio, a sorte que quisermos, mas sofreremos as consequências dessa escolha. Escolhamos crer num Deus Todo-Poderoso, soberanamente justo e bom; crer na alma e na sua imortalidade, na pluralidade das existências para expiação e reparação e para adiantamento intelectual e moral, na igualdade da justiça para todos, com cada um recebendo segundo suas obras e respeitando todas as crenças sinceras, não violentando a consciência de ninguém.

 

Crispim.

 

Referência bibliográfica: A Revista Espírita 1868. Allan Kardec.

 

 

      CONHECE-SE A ÁRVORE PELOS FRUTOS

 

            É uma lição simples e plena. Pois que é a maneira de se conhecer qualquer coisa pelo resultado que produz. Afirma a lição de hoje, que a árvore boa não pode dar maus frutos, nem a árvore má produzir bons frutos. Como não se colhe figos dos espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas.
            Observa-se a naturalidade e simplicidade dos ensinamentos de Jesus...
Em tudo coloca a lógica e a praticidade para que todos possam entender a mensagem. Naturalmente que todos podem tirar lições proveitosas desta leitura da lição do Evangelho.
 Mostrando que uma boa árvore pode produzir bons frutos, aliás, deve, tem obrigação de dar bons frutos. Por isso, o empenho é a ferramenta fundamental em qualquer situação; como obter algum resultado se não há esforço do interessado?
            Em Doutrina Espírita se ensina que existem dois caminhos. O caminho da dor e o do amor.
            Agora se aventa a existência de um terceiro caminho, que se chama lógica. Conheci uma senhora, viúva, com um único filho. Este, já formado, médico, trabalhando em hospital da cidade, 31 anos, casado, com um filho de menos de um ano de idade.
            Por esses fatos supostamente imprevistos do destino, em uma viagem veio a desencarnar num acidente automobilístico. Sua mãe conta que só tinha duas opções na vida: Primeira deitar, numa cama e também esperar a morte chegar. A outra, reagir e dizer presente à vida.
            Ela fez opção pela segunda. Já era simpatizante da Doutrina, começou a frequentar uma casa espírita, procurando absorver os ensinamentos que eram ministrados na casa, como também em conversas com amigos.
            Passaram-se nove meses, quando um dia recebe uma mensagem muito esclarecedora e alentadora de seu filho, não só pela firmeza, doçura, mas também pela riqueza de detalhes.
Demonstrando claramente que a vida continua, não seria um acidente de percurso numa curva da estrada que iria acabar aquele grande amor, mas que continuava lá na outra dimensão da existência, porém mais iluminado pela claridade de espírito livre, que pode com certeza compreender a naturalidade da própria vida.
Era só o sinal, e tornou-se uma grande trabalhadora da grande causa do Cristo.
            Também no caso da árvore existe uma terceira árvore que não consta desse ensinamento específico, mas também é tão danosa quanto à árvore má.
Trata-se da figueira seca, aquela árvore frondosa, isto que tinha todas as condições de produzir, mas não produziu nada. Há quem alegue que também não era tempo de figos, mas como for, há necessidade de que a árvore produza os seus frutos para encontrar seu maior objetivo no mundo, ser útil. Áulus.

 

Histórias Educativas
Pelo Espírito de Áulus
Otacir Amaral Nunes

 

 

A REVELAÇÃO ESPÍRITA

 

            Pode o Espiritismo ser considerado uma revelação? Neste caso, qual o seu caráter? Em que se funda a sua autenticidade? A quem e de que maneira foi ela feita? É a doutrina espírita uma revelação, no sentido teológico da palavra, ou por outra, é, no seu todo, o produto do ensino oculto vindo do Alto? É absoluta ou suscetível de modificações? Trazendo aos homens a verdade integral, a revelação não teria por efeito impedi-los de fazer uso das suas faculdades, pois que lhes pouparia o trabalho da investigação? Qual a autoridade do ensino dos Espíritos, se eles não são infalíveis e superiores à Humanidade? Qual a utilidade da moral que pregam, se essa moral não é diversa da do Cristo, já conhecida? Quais as verdades novas que eles nos trazem? Precisará o homem de uma revelação? E não poderá achar em si mesmo e em sua consciência tudo quanto é mister para se conduzir na vida? 2
Definamos primeiro o sentido da palavra revelação. Revelar, do latim “revelare”, cuja raiz, “velum”, véu, significa literalmente sair de sob o “véu” e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. Em sua acepção vulgar mais genérica, essa palavra se emprega a respeito de qualquer coisa ignota que é divulgada, de qualquer idéia nova que nos põe ao corrente do que não sabíamos. Deste ponto de vista, todas as ciências que nos fazem conhecer os mistérios da Natureza são revelações e pode dizer-se que há para a Humanidade uma revelação incessante. A Astronomia revelou o mundo astral, que não conhecíamos; a Geologia revelou a formação da Terra; a Química, a lei das afinidades; a Fisiologia, as funções do organismo, etc.; Copérnico, Galileu, Newton, Laplace, Lavoisier foram reveladores.3


1. CARACTERÍSTICAS DA REVELAÇÃO


            A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se falso, já não é um fato e, por conseqüência, não existe revelação. Toda revelação desmentida por fatos deixa de o ser, se for atribuída a Deus. Não podendo Deus mentir, nem se enganar, ela não pode emanar dele: deve ser considerada produto de uma concepção humana.4
            No sentido especial da fé religiosa, a revelação se diz mais particularmente das coisas espirituais que o homem não pode descobrir por meio da inteligência, nem com o auxílio dos sentidos e cujo conhecimento lhe dão Deus ou seus mensageiros, quer por meio da palavra direta, quer pela inspiração. Neste caso, a revelação é sempre feita a homens predispostos, designados sob o nome de “pro- fetas ou messias”, isto é, “enviados ou missionários”, incumbidos de transmiti-la aos homens. Considerada debaixo deste ponto de vista, a revelação implica a passividade absoluta e é aceita sem verificação, sem exame, nem discussão.5
            Todas as religiões tiveram seus reveladores e estes, embora longe estivessem de conhecer toda a verdade, tinham uma razão de ser providencial, porque eram apropriados ao tempo e ao meio em que viviam, ao caráter particular dos povos a quem falavam e aos quais eram relativamente superiores. Apesar dos erros das suas doutrinas, não deixaram de agitar os espíritos e, por isso mesmo, de semear os germens do progresso, que mais tarde haviam de desenvolver-se, ou se desenvolverão à luz brilhante do Cristianismo. É, pois, injusto se lhes lance anátema em nome da ortodoxia, porque dia virá em que todas essas crenças tão diversas na forma, mas que repousam realmente sobre um mesmo princípio fundamental “Deus e a imortalidade” da alma, se fundirão numa grande e vasta unidade, logo que a razão triunfe dos preconceitos. Infelizmente, as religiões hão sido sempre instrumentos de dominação; o papel de profeta há tentado as ambições secundárias e tem-se visto surgir uma multidão de pretensos reveladores ou messias, que, valendo-se do prestígio deste nome, exploram a credulidade em proveito do seu orgulho, da sua ganância, ou da sua indolência, achando mais cômodo viver à custa dos iludidos. A religião cristã não pôde evitar esses parasitas.6
            Só os Espíritos puros recebem a palavra de Deus com a missão de transmiti-la; mas, sabe-se hoje que nem todos os Espíritos são perfeitos e que existem muitos que se apresentem sob falsas aparências, o que levou S. João a dizer: “Não acrediteis em todos os Espíritos; vede antes se os Espíritos são de Deus.” (Epíst. 1ª, cap. IV, v. 4.) Pode, pois, haver revelações sérias e verdadeiras, como as há apócrifas e mentirosas. “O caráter essencial da revelação divina é o da eterna verdade. Toda revelação eivada de erros ou sujeita a modificação não pode emanar de Deus.” É assim que a lei do Decálogo tem todos os caracteres de sua origem, enquanto que as outras leis moisaicas, fundamentalmente transitórias, muitas vezes em contradição com a lei do Sinai, são obra pessoal e política do legislador hebreu. Com o abrandarem-se os costumes do povo, essas leis por si mesmas caíram em desuso, ao passo que o Decálogo ficou sempre de pé, como farol da Humanidade.
            O Cristo fez dele a base do seu edifício, abolindo as outras leis. Se estas fossem obra de Deus, seriam conservadas intactas. O Cristo e Moisés foram os dois grandes reveladores que mudaram a face ao mundo e nisso está a prova da sua missão divina. Uma obra puramente humana careceria de tal poder.7

 

REFERÊNCIAS
2. A gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 52. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 1, item 1, p. 21.
3. ______. Item 2, p. 21-22.
4. ______. Item 3, p. 22.
5. ______. Item 7, p. 24.
6. ______. Item 8, p. 25.
7. ______. Item 10, p. 26-27.

 

ESDE
2008

 

 

PSICOGRAFIA

           

            Querida filha!

           

            Hoje aproveitando esse ensejo, quero dirigir-lhe umas poucas palavras, porém muito esclarecedoras, a mercê da ajuda de amigos, pude hoje chegar até perto do seu coração para dizer-lhe quanto a amo. Não obstante essa ausência dos olhos físicos, sempre está e esteve e perto de você, buscando ainda exercer a função de mãe, porque é o meu único tesouro. Tudo mesmo que mês restou na vida. Apesar de uma vida tão sofrida, conseguimos vencer os obstáculos que me separava das boas companhias e boas pessoas pelo trabalho constante e quando tudo parecia se estabilizar apareceu àquela enfermidade que me deixou ainda perplexa, como se uma bomba tivesse caído sobre nossas cabeças, depois de momentos de dores e desesperos, a vida lá fora chamava-nos a realidade, Era preciso lutar pela sobrevivência.
            De minha parte estava completamente dividida, de um lado a doença que naquele momento me apavorava e de outro lado deixá-la solteira ainda e tão jovem. Isto criava dentro de mim uma terrível aflição, porém não podia recuar, tinha que continuar como se nada tivesse acontecido.
            Assim os dias passaram lentos. Minha maior preocupação era não dar uma dimensão maior do que era a enfermidade, muito embora conversasse de maneira muito franca com o médico e explique o seu caso de órfã, ainda tão jovem. Caso morresse logo gostaria de tomar algumas providências, pelos menos que lhe garantisse um pouco de tranqüilidade financeira por alguns meses, pelos menos.
            O que me aconselhou realmente que tomasse todas as providências, pois que era isso uma atitude de mãe realmente e não comportava demora de minha parte. Assim que vendi algumas jóias que ainda restava e deixe somente a você aquela que pertencera a minha família desde muito tempo e agora lhe ofereceria por ocasião do seu aniversário, que se daria dali a dois meses.
            Tomei as providências possíveis de minha parte e confesso que chorei muitas vezes às escondidas por deixá-la, assim tão bela e inexperiente da vida, embora ficasse sob a guarda de meu irmão, conforme solicitara secretamente a este. Caso eu faltasse, cuidaria de você até que arranjasse um casamento.
            O que realmente cumpriu com o prometido, buscando realmente ser o pai que não teve. Agora já casada quero dizer que estou feliz e posso me afastar temporariamente, pois que vi que está bem amparada, junto ao esposo carinho e bom.
            Gostaria de dizer que graças a Deus todo correu bem para todos, conquanto esta minha ausência compulsória, ainda assim consegui realmente encontrar o seu caminho e assim também fico em paz.
            Quero deixar um grande abraço a todos, de sua mãe sempre reconhecida, que nunca a esquece.

Neusa

          

            Amar a Deus não quer dizer converter-se em verdugo de si mesmo, mas abrir a porta da libertação através do trabalho. Se muitas pessoas acham que o trabalho é algo doloroso e difícil, é porque não estão suficientemente maduros para entenderem essa felicidade, que é conquistada pelo trabalho.
            Nunca se esqueça que ao abrir as luzes de um novo dia, é um momento em potencial de trabalho que começa, portanto, não o desperdice em futilidades, porque não tardará o dia em que tudo voltará a exigir mais trabalho e mais empenho do trabalhador em sua tarefa, não constituindo essa exigência privação, mas uma promoção, porque deve desempenhar uma tarefa de maior envergadura. Ainda uma vez mais se revista de coragem, de persistência para vencer suas próprias deficiências, pois que nessa procura encontrará maravilhosas oportunidades de servir, ainda que em situação difícil, pois que muitas vezes sob o fogo das provações é que encontraram o caminho para servir melhor no futuro. Quem cumpre o seu dever além do limite, compreendeu verdadeiramente o que é servir ao próximo com desinteresse.

 

Um Amigo Sempre Presente

 

 

SE FOSSE UM HOMEM DE BEM....

 

RICHARD SIMONETTI

 

            Falando de um homem mau, que escapa de um perigo, costumais dizer: “Se fosse um homem bom, teria morrido”. Pois bem, assim falando, dizeis uma verdade, pois, com efeito, muito amiúde sucede dar Deus a um Espírito de progresso ainda incipiente prova mais longa, do que a um bom que, por prêmio do seu mérito, receberá a graça de ter curta quanto possível a sua provação. Por conseguinte, quando vos utilizais daquele axioma, não suspeitais de que proferis uma blasfêmia. (Fénelon, capítulo V, item 22 de O Evangelho segundo o Espiritismo.)             Os bons vivem pouco.
            Os maus vivem mais.
            Logo, é bom praticar maldades.             Esse silogismo pode ser montado a partir de afirmativas do tipo:se fosse um homem de bem teria morrido.
            Há nela dois erros de julgamento:
            Primeiro: o acidentado não é bom, ou teria morrido.
            Segundo: Deus não é justo, porquanto mata os bons e preserva os maus.
            Nada mais distante da realidade.
            Há gente boa que vive bastante.
            Há gente má que tem existência breve.
            Não obstante, como diz Fénelon, há provações difíceis que podem ser evitadas, na medida em que as pessoas substituam a moeda da dor pela moeda Amor, que se exprime na prática do Bem, para resgate de débitos cármicos.
            Um homem bom, cumpridor de seus deveres, praticante da caridade, sofreu uma hemorragia cerebral. Embora contando com as preces e vibrações de toda uma comunidade espírita, sob sua direção, veio a falecer.
            Os familiares questionavam até que ponto vale a pena exercitar o Bem, se falta a proteção divina em situações dessa natureza.
            Suas dúvidas foram superadas quando um mentor espiritual informou-lhes que o falecido tinha por programação existencial a ocorrência de graves limitações físicas, em existência vegetativa para resgate de débitos cármicos.
            Em face de seus méritos, a misericórdia divina o liberou da penosa situação, transferindo-o para o mundo espiritual.
            Essa abordagem de Fénelon nos faz lembrar outro ditado popular:             Só o peru morre na véspera.             Faz referência ao dia anterior ao Natal, quando os perus eram sacrificados para preparo da tradicional ceia.
            Bem, amigo leitor, há aqui mais equívocos.
            Depois da invenção do freezer os perus passaram a morrer bem antes, semanas e até meses.
            E passa a impressão de que há dia certo para morrer, o que não é verdade.
            A programação biológica da raça humana atinge perto de cem anos. Raros atingem essa idade, porquanto passamos a vida inteira a brigar com o corpo, submetendo-o a maus-tratos, de várias maneiras:
            Vícios como o cigarro, o álcool, as drogas...
            Alimentação em excesso, glutonaria...
            Trabalho indisciplinado, repouso insuficiente, sedentarismo...
            Tensões nervosas, irritação...
            Mágoas, ressentimento, ódio, rancor...
            Tudo isso agride o corpo, produz males que abreviam a existência.
            Isso sem falar em gente que se mata a partir de graves desvios de comportamento.
            Basta lembrar os jovens que se envolvem com a criminalidade. A expectativa de vida para eles é de 25 anos, não por prêmio ao esforço do Bem, mas por lamentável comprometimento com o mal. Poucos ultrapassam essa idade, habilitando-se a penosos reajustes no plano espiritual e atormentados resgates em futuras reencarnações.
            Muitos, literalmente, são expulsos do corpo, como quem deixa uma casa que lhe cai sobre a cabeça, por ter cuidado mal dela.
            Diz André Luiz que quando um Espírito consegue viver plenamente o tempo de vida física que lhe foi concedido, cumprindo o que veio fazer na Terra, é recebido com festas no Além, como um completista.
            Esse é um aspecto interessante, que deve merecer nossa reflexão.
            Todos reencarnamos com algo a fazer.
            Não estamos aqui por acaso.
            Há tarefas, compromissos assumidos, destacando-se:             Família.
            Pais, irmãos, cônjuge, filhos… Há ajustes a serem feitos, relacionados com desentendimentos do pretérito e dificuldades de convivência do presente.             Sociedade.
            Além das atividades profissionais, em favor da própria subsistência, somos convocados a algo fazer em favor do bem comum, sedimentando a solidariedade em nós, a caminho do Amor, lei suprema de Deus.             Eternidade.
            Já vivíamos antes do berço; continuaremos a viver depois do túmulo, chamados ao aprimoramento incessante, no esforço de renovação, a partir do estudo, da reflexão, do empenho por superar mazelas e imperfeições, à luz do Evangelho, substituindo o Homem velho, cheio de defeitos, pelo Homem novo, o Homem cristão, capaz de refletir a luz do Cristo em seu comportamento.
            É importante, nesse particular, a autoavaliação diária:
            Estou observando o que planejei ao preparar-me para o mergulho na carne?
            Estou cumprindo meus deveres perante Deus e a minha própria consciência, habilitando-me a um retorno feliz à pátria espiritual?             Vale lembrar a advertência de Jesus (Mateus 7:21):             Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.

 

Reformador 2009

 

LIBERTA-TE DO MAL

 

Por Marco Antônio Negrão

 

            Sim, em todos os pontos do Globo vão produzir-se as subversões morais e filosóficas; aproxima-se a hora em que a luz divina se espargirá sobre os dois mundos.
            Ide, pois, e levai a palavra divina: aos grandes que a desprezarão, aos eruditos que exigirão provas, aos pequenos e simples que a aceitarão; porque, principalmente entre os mártires do trabalho, desta provação terrena, encontrareis fervor e fé. Ide; estes receberão, com hinos de gratidão e louvores a Deus, a santa consolação que lhes levareis, e baixarão a fronte, rendendo-lhe graças pelas aflições que a Terra lhes destina.
            Arme-se a vossa falange de decisão e coragem! Mãos à obra! o arado está pronto; a terra espera; arai!
Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou; mas, atenção! entre os chamados para o Espiritismo muitos se transviaram; reparai, pois, vosso caminho e segui a verdade.
            O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec, cap. XX,  item 4.             Vive-se uma atualidade muito complexa na sociedade terrestre, inicia a Benfeitora Espiritual Joanna de Ângelis, na apresentação desta obra, psicografada por Divaldo Pereira Franco, publicada pela EBM Editora, em dezembro de 2011.
            Comenta que a luz da inteligência expande-se, iluminando o conhecimento humano e, em contradição a isso, as atitudes da Humanidade demonstram que as trevas ainda estão presentes no seu dia a dia.
            Menciona as contribuições inimagináveis da medicina, nos diagnósticos de doenças, nos transplantes, nos remédios que possibilitam ao homem ter uma existência amena e saudável, enquanto alguns buscam a satisfação na drogadição, na volúpia dos prazeres desenfreados que dilapidam as energias sagradas do organismo, instrumento de progresso do Espírito imortal;
            A ciência psicológica, que avança no diagnóstico e cura dos transtornos do comportamento, onde o homem se debate na depressão, na loucura, nos desvios de todas as matizes, na fuga da vida.  Tudo isso ligado ao desassossego da sociedade que valoriza o ter em detrimento do ser;
            Novas tecnologias para a produção de alimentos enquanto ainda permanecem grandes contingentes de pessoas com fome. A FAO (Food and Agriculture Organization – órgão das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) divulgou o relatório O estado de insegurança alimentar no mundo (SOFI-2014), no qual informa que um em cada nove habitantes da Terra sofre de fome crônica.             Por que tudo isso?             A Humanidade apresenta um progresso intelectual, que lhe tem possibilitado os avanços tecnológicos porém,  não o progresso moral, que permitira ajustar todas as diferenças entre os homens, num auxílio mútuo: os mais fortes ajudando os mais fracos, os mais brilhantes ajudando os menos brilhantes.             A questão 780 a. de O livro dos Espíritos bem dimensiona a situação em que se encontram os homens:
Como pode o progresso intelectual engendrar o progresso moral?
“Fazendo compreensíveis o bem e o mal. O homem, desde então, pode escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio acompanha o da inteligência e aumenta a responsabilidade dos atos.”             Na questão 785, Kardec, com sua capacidade de questionamento, visando entender todo as dificuldades para se avançar na senda do Bem, pergunta:
            Qual o maior obstáculo ao progresso?
            “O orgulho e o egoísmo. Refiro-me ao progresso moral, porquanto o intelectual se efetua sempre.”
            Estes comentários iniciais assinalam muito bem o que Joanna de Ângelis trabalhará, nos trinta e um capítulos do livro: as dificuldades que têm origem no aspecto moral em que se situa a Humanidade.
            E sua argumentação é de que o homem precisa ir se libertando do mal, que paralisa o progresso espiritual.
            São capítulos belíssimos, dos quais destacamos Epístola ao menestrel de Deus; Tempo de renovação; Sacrifício por amor; Portal para o triunfo; Beneficência e promoção humana e Rei solar, este o que encerra a excelente obra de duzentas páginas.
            Nas palavras da própria benfeitora espiritual: Tudo quanto anotamos já tem sido apresentado por estudiosos sérios e interessados nos comportamentos felizes, assim como por sociólogos e psicólogos, religiosos e cidadãos afeiçoados ao Bem.
            O nosso trabalho encontra-se, porém, enraizado nos textos do Evangelho de Jesus e nas seguras orientações que os Espíritos trouxeram ao mundo desde o dia do surgimento de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, a 18 de abril de 1857 e as obras que foram publicadas depois pelo insigne codificador.
São o resultado da nossa própria experiência, assim como da experiência de milhões de indivíduos que optaram pelo Bem em luta incessante para a libertação do mal, que ainda vige no íntimo de todos os seres humanos, como herança doentia do processo grandioso da evolução antropológica e psicológica através das sucessivas reencarnações.
            Com este modesto contributo, esperamos cooperar com as pessoas sinceras e afeiçoadas ao amor e à verdade, a fim de que não desanimem nunca no afã da edificação e da vivência do amor, conforme o Mestre de Nazaré nos ensinou, em todas e quaisquer situações em que se encontre.
            …E o amor solucionará todos os problemas, por mais intrincados se apresentem.

 

Mundo Espírita
Março /2015

 

PREGAÇÃO PELO EXEMPLO

 

            No meio espírita, o mês de outubro se reveste de significação especial, por ser o mês do nascimento (4.10.1804) de             Hippolyte Léon Denizard Rivail, que, sob o pseudônimo Allan Kardec, apresentou ao mundo a Doutrina Espírita.
            Doutrina puramente moral, que desenvolve a ideia cristã e conclama por sua aplicação, forma bases e diretrizes das ações para a efetiva reforma íntima dos indivíduos.
            Sugere promover no ser reformas morais para melhor e, especialmente, estimular e aumentar o próprio discernimento, para se empreender esforços em domar as más inclinações, quando a cada momento da existência seja oportunidade de superação e melhoria, e não se repitam interminavelmente experiências infelicitadoras.
            Fomenta a lucidez do Espírito, para que se visualize um futuro melhor e desperta a intenção real de alcançá-lo, desatando os nós dos equívocos do ontem espiritual.
            O avanço do ser é também o crescimento da sociedade e, com a nova proposta, fixar os pilares estruturadores da ética, da moral, da família, dos costumes edificantes.
            Somos o que pensamos e sentimos!
            Allan Kardec, ao discursar aos espíritas de Lyon e Bordeaux, enfatiza:1
            A exemplo dos apóstolos, expulsai os demônios, já que tendes poder para tanto, pois eles pululam em torno de vós: são os demônios do orgulho, da ambição, da inveja, do ciúme, da cupidez, da sensualidade, que insuflam todas as más paixões e semeiam por entre vós os pomos da discórdia. Expulsai-os de vossos corações, a fim de que tenhais a força necessária para expulsá-los dos corações alheios. (…)
            (…) Despojai-vos, o quanto antes, de tudo quanto possa ainda restar em vós do velho levedo.
            Não basta a crença. É necessário sair da superfície do conhecimento inicial e se aprofundar em estudo e autoanálise, a fim de compreender o objetivo essencial do Espiritismo, que é a moral do Evangelho, desenvolvida e aplicada.
            É a Doutrina fomentadora de convicção, promotora de força capaz de vencer as más inclinações, há muito tempo enraizadas. Ela conduz ao rompimento dos velhos hábitos, e faz calar ressentimentos e inimizades.
            É Doutrina que traz substância e significado à vida! Distribui a mancheias palavras e vivência, que passam a estar em uníssono! Não mais discursos vazios de sinceridade vivencial.
            Doutrina que transcende pregação por palavras e convoca pregação pelo exemplo, quando, então, quem vê e ouve, não poderá jamais dizer que as máximas ensinadas são palavras vãs sem ressonância no coração de quem as diz.
            Doutrina reconstrutora de uma sociedade boa e justa, em que os materiais sólidos realizadores são os homens de coração, de devotamento e de abnegação, ou seja, homens de bem!
            Espiritismo não é uma teoria que se dirige ao intelecto, ele fala ao coração.
            Afinal, o Mestre dos mestres não deixou de ensinar: Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.2
            Sublinha Allan Kardec 3: Os mais perigosos inimigos do Espiritismo são, pois, os que o fazem mentir a si mesmos, não praticando a lei que proclamam.
            Como ponto de honra e condição pétrea, ao discursar aos espíritas em Lyon e Bordeaux, Kardec selou a Doutrina na redoma transparente da sua legitimidade, cujo selo de autenticidade não pode ser rompido pelas invencionices modernistas de uns, que tentam servir a dois senhores, aos homens e a Deus.
            Nem por aqueles que querem um Espiritismo à sua imagem e semelhança, que insistem em enxertias comportamentais esdrúxulas, que ainda consomem suas energias saudáveis.
            Ou por aqueles que intentam trazer para o seio do Movimento Espírita, ideologias, teorias e práticas estranhas aos seus propósitos, e sabem que ali não tem nada, doutrinariamente, que dê sustento às suas fantasias, a não ser conseguir uma e outra atenção de incautos e desavisados, então cegos que se deixam conduzir por outros cegos.
            Nem o seu sagrado arcabouço de postulados e máximas, ser profanado pelos que fazem concessões que desfigurem suas bases morais, firmemente assentadas no próprio Cristianismo; sobre o Evangelho, do qual não é mais que a aplicação.
            Com sua firmeza ímpar e bom-senso imbatível, Allan Kardec sublinhou, estatuindo:1
            O Espiritismo não procura ninguém; não se impõe a ninguém. Limita-se a dizer: Eis-me aqui, eis o que sou, eis o que trago; os que julgam precisar de mim, que se aproximem; os outros, que permaneçam em suas casas; não lhes vou perturbar a consciência, nem os injuriar. Apenas lhes peço reciprocidade.
            Do mesmo modo que Jesus registrou a liberdade de cada um em seguir-lhe ou não os passos, deixou também claro que aquele que desejasse estar com Ele, tomasse de sua cruz, renunciasse a si mesmo e O seguisse.
            O Codificador, por sua vez, pontua o Espiritismo como ele é e conclama quem não deseja ser espírita como deveria ser, que, por reciprocidade de dignidade, não perturbe nem confunda, por ignorância ou intencionalmente, seus postulados e sua real razão de ser, nem injurie suas máximas propostas aos homens de coração.
            Permaneça em sua casa …
                                                                        *
            Em síntese, cabe-nos interiorizar o que de melhor ela nos propõe que é a nossa sublimação, acolhendo ao máximo as magnas propostas de moralização, com entendimento através da grande solução de todos os tempos – o Amor!
            Sermos corajosos o suficiente para distribuir com fidelidade aquilo que o próprio Criador, que jamais descansa, coloca em nossas mãos – a Caridade!
            Não o fazermos somente por nós mesmos, mas alargando a possibilidade de um englobar imenso de todos os irmãos dessa grande família da Terra, que hoje, mais do que nunca, sonha em ser mais feliz!

 

REFERÊNCIAS
1 KARDEC, Allan. Viagem Espírita em 1862 e outras viagens de Kardec. Brasília: FEB, 2005. cap. Discursos pronunciados nas reuniões gerais dos Espíritas de Lyon e Bordeaux.
2 BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1966. cap. 15, vers. 19.
3 KARDEC, Allan. Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos. Ano 1861, v. XI. São Paulo: EDICEL, 1965. Discurso do Sr. Allan Kardec.

 

Redação do Momento Espírita.
Jornal Mundo Maior
Outubro/2020

 

 

NÃO SOMENTE

 

            “Nem só de pão vive o homem...” Jesus (Mateus, 4:4)

 

            Não somente agasalho que proteja o corpo, mas também o refúgio de conhecimentos superiores que fortaleçam a alma.
            Não só a beleza da máscara fisionômica, mas igualmente a formosura e nobreza dos sentimentos.
            Não apenas a eugenia que aprimora os músculos, mas também a educação que aperfeiçoa as maneiras.
            Não somente a cirurgia que extirpa o defeito orgânico, mas igualmente o esforço próprio que anula o defeito íntimo.
            Não só o domicílio confortável para a vida física, mas também a casa invisível dos princípios edificantes em que o espírito se faça útil, estimado e respeitável.
            Não apenas os títulos honrosos que ilustram a personalidade transitória, mas igualmente as virtudes comprovadas, na luta objetiva, que enriqueçam a consciência eterna.
            Não somente claridade para os olhos mortais, mas também luz divina para o entendimento imperecível.
            Não só aspecto agradável, mas igualmente utilidade viva.
            Não apenas flores, mas também frutos.
            Não somente ensino continuado, mas igualmente demonstração ativa.
            Não só teoria excelente, mas também prática santificante.
            Não apenas nós, mas igualmente os outros.
            Disse o Mestre: "
            Nem só de pão vive o homem".
            Apliquemos o sublime conceito ao imenso campo do mundo.
            Bom gosto, harmonia e dignidade na vida exterior constituem dever, mas não nos esqueçamos da pureza, da elevação e dos recursos sublimes da vida interior, com que nos dirigimos para a Eternidade.

 

Fonte Viva
Francisco Candido Xavier
Pelo Espírito de Emmanuel

 

 

SOLIDÃO APARENTE

 

            Em meados de 1932, o “Centro Espírita Luiz Gonzaga” estava reduzido a um quadro de cinco pessoas, José Hermínio Perácio, D. Carmen Pena Perácio, José Xavier, D. Geni Pena Xavier e o Chico. Os doentes e obsidiados surgiram sempre, mas, logo depois das primeiras melhoras, desapareciam como por encanto.
            Perácio e senhora, contudo, precisavam transferir-se para Belo Horizonte por impositivos da vida familiar. O grupo ficou limitado a três companheiros.
            D. Geni, porém, a esposa de José Xavier, adoeceu e a casa passou a contar apenas com os dois irmãos. José, no entanto, era seleiro e, naquela ocasião, foi procurado por um credor que lhe vendia couros, credor esse que insistia em receber-lhe os serviços noturnos, numa oficina de arreios, em forma de pagamento. Por isso, apesar de sua boa vontade, necessitava interromper a frequência ao grupo, pelo menos, por alguns meses.
            Vendo-se sozinho, o médium também quis ausentar-se.
            Mas, na primeira noite, em que se achou a sós no Centro, sem saber como agir, Emmanuel apareceu-lhe e disse:
            — Você não pode afastar-se.
            Prossigamos em serviço.
            — Continuar como? Não temos frequentadores...
            — E nós? — disse o Espírito amigo. — Nós também precisamos ouvir o Evangelho para reduzir nossos erros. E, além de nós, temos aqui numerosos desencarnados que precisam de esclarecimento e consolo. Abra a reunião na hora regulamentar, estudemos juntos a lição do Senhor, e não encerre a sessão antes de duas horas de trabalho.
            Foi assim que, por muitos meses, de 1932 a 1934, o Chico abria o pequeno salão do Centro e fazia a prece de abertura, às oito da noite em ponto.
            Em seguida, abria O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, ao acaso e lia essa ou aquela instrução, comentando-a em voz alta.
            Por essa ocasião, a vidência nele alcançou maior lucidez.
            Via e ouvia dezenas de almas desencarnadas e sofredoras que iam até o grupo, à procura de paz e refazimento.             Escutava-lhes as perguntas e dava-lhes respostas sob a inspiração direta de Emmanuel. Para os outros, no entanto, orava, conversava e gesticulava sozinho...
            E essas reuniões de um Médium a sós com os desencarnados, no Centro, de portas iluminadas e abertas, se repetiam todas as noites de segundas e sextas-feiras.

 

Livro Lindos Casos de Chico Xavier
Autor Ramiro Gama

 

 

O SERVIÇO DA PERFEIÇÃO

 

            Um velho oleiro, muito dedicado ao trabalho, certa feita adoeceu gravemente e entrou a passar enormes dificuldades.
            Os parentes, aos quais ele mais servira, moravam em regiões distantes e pareciam haver perdido a memória...
            Sem ninguém que o auxiliasse, passou a viver da caridade pública, mas, quando esmolava, caiu na via pública e quebrou uma das pernas, sendo obrigado a recolher-se à cama por longo tempo.
            Chorando, amargurado, fez uma prece e rogou a Deus alguma consolação para os seus males.
Então, dormiu e sonhou que um anjo lhe apareceu, trazendo a resposta pedida.
            O mensageiro do Céu conduziu-o até o antigo forno em que trabalhava, e, mostrando-lhe alguns formosos vasos de sua produção, perguntou:
            — Como é que você conseguiu realizar trabalhos assim tão perfeitos?
            O oleiro, orgulhoso de sua obra, informou:
            - Usando o fogo com muito cuidado e com muito carinho, no serviço da perfeição. Alguns vasos voltaram ao calor intenso duas ou três vezes.
            - E sem fogo você realizaria a sua tarefa?
            - Indagou, ainda, o emissário.
            - Nunca! - Respondeu o velho, certo do que afirmava.
            - Assim também esclareceu o anjo, bondoso -, o sofrimento e a luta são as chamas invisíveis que Nosso Pai Celestial criou para o embelezamento de nossas que, um dia, serão vasos sublimes e perfeitos para o serviço do Céu.
            Nesse instante, o doente acordou, compreendeu a Vontade Divina e rendeu graças a Deus.

 

Livro Pai Nosso
Francisco Candido Xavier
Pelo Espírito de Meimei

 

 

 

EDIÇÃO DO CENTRO ESPÍRITA “VALE DA ESPERANÇA”
Rua Colorado nº 488, Bairro Jardim Canadá, CEP 79112-480, Campo Grande-MS.