ACASO
Diz uma canção que “o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído”; a canção é bela, mas será que o acaso é capaz de proteger alguém ou ainda, será que ele existe realmente nas coisas importantes da vida?
Durante muito tempo o acaso foi abordado pela ciência, de forma duvidosa, como acaso biológico, para a justificar o aparecimento dos seres, das coisas e da própria vida. Naquela época a ciência tentava tirar o Princípio Inteligente da obra maravilhosa da criação divina, procurando negar, pelo avantajado orgulho científico, a Inteligência Suprema que a tudo preside.
O Homem é fruto da evolução, diferentemente da evolução que Darwin imaginara como um mecanismo cego, e já é do conhecimento humano que a evolução não retroage, nem retrocede e a própria ciência verificou os quarenta e seis cromossomas sexuais, X e Y, com vinte e três para cada sexo, sendo a criança feminina se resultar a soma de X mais X e será masculina se for o resultado de X mais Y, derrubando assim a teoria do acaso biológico.
Para evolucionar o Espírito precisa enfrentar a reencarnação inúmeras vezes, despojando-se dos vícios, do orgulho e do egoísmo e passando por provações redentoras,sendo bem auxiliado com a dinâmica do Espiritismo que lhe mostra a essência das coisas, com a vida ajustando-se a cada nova situação.
O orgulho é o responsável por escondermos Deus classificando-O como acaso; mas como compararmos o que não existe com o Ser que sempre existiu e tudo criou? Nada ocorre por acaso, e para tudo que existe há sempre uma lei regendo e a que devemos obediência, pois cada lei vem desse comando inteligente, que nada esquece.
Para existir o acaso seria preciso que alguma coisa estivesse fora dos domínios das leis de Deus, das leis Universais que regem toda a criação, e sabemos que não há nada que não fosse fruto da vontade divina. Se todo efeito tem uma causa, os efeitos inteligentes têm uma causa inteligente, disse Allan Kardec, e não há nada mais inteligente que o Universo, regido por uma Onisciência que opera harmoniosamente todas as coisas.
Já disse o Espírito Miramez que o respeito a Deus deve ser o primeiro ato de cada dia como uma oração de agradecimento por tudo que o Seu imensurável amor nos deu, estando presente em nossa vida com Sua misericórdia ajudando-nos a realizar nossa parte por nós mesmos.
Pede-nos que esqueçamos o nada e lembremo-nos do Tudo, deixando de lado a inércia e trabalhemos, esquecendo-nos do ódio, abracemo-nos vivendo o amor, que nos garantirá paz espiritual e a alegria permanente no coração.
Crispim.
Referências bibliográficas:
- Ciência da Vida à Luz do Espiritismo. Lybio Magalhães.
- Filosofia Espírita. Volume I. João Nunes Maia/Miramez.
- O Livre-arbítrio. Edgar Armond.
ESCRITO COM LÁGRIMAS
Somente o amor será capaz de superar todos os obstáculos do caminho.
Quem poderá avaliar o sofrimento daquele que muito amou e mais sofreu ainda? Mas depois será capaz de avaliar o quanto valeu essa existência profundamente vivida, onde valores puderam se acrisolar naqueles momentos de duras provas. É claro que através de sofrimentos superlativos, mas hoje longe daqueles dias de amargas lembranças, pode avaliar como fora importante aquela existência,.
Talvez a mais fecunda em termos morais, porque pode passar por duras provas e dolorosos acertos de contas de outrora, desde aquela que despedaçou coração, ou seja, dos sentimentos, até aquelas da miséria, enfermidade, abandono, vindo a morrer tendo como companhia somente um cão.
Mas cada dor dignamente vivida representa um ponto de luz que apaga uma chaga, pois que com essa resposta convincente quanto às sombras deixadas por aquelas atitudes levianas e inconsequentes do passado que tivera a resposta justa.
É claro que suportando pacientemente a prova e sem jamais ter qualquer ideia de revolta o favoreceu muito, porque pode sentir as dificuldades em sua plenitude. Desde criança já ficara órfão, criado entre estranhos que lhe ensinaram duras provas de sobrevivência.
Mas apesar de tudo, diante das dificuldades conseguira se equilibrar, ficando mais por contas das contingências da vida do que por mérito, quando completara os vinte anos de idade.
Por momento já equilibrado encontrou alguém, a qual amou enternecidamente com o sonho da primeira emoção.
Porem, ela que tanto amara resolveu seguir outro caminho, não dando a menor importância aos seus sentimentos; quase morreu, é verdade, mas devia continuar vivendo, concluiu que devia seguir em frente, mesmo com o coração sangrando de dor.
Quando a dor estava cicatrizando, ocorreu um assassinato e foi acusado de tê-lo cometido, foi preso na cadeia daquela localidade, como verdadeiro culpado, pois que o assassino era pessoa influente. Mesmo tentando se justificar passou alguns anos na cadeia sem poder se defender. Mais tarde foi reconhecido o verdadeiro autor do crime, sendo inocentado.
Começar a vida como? Naquela dura rotina da prisão o que podia aprender de bom, mas algo ocorreu que o ajudou. Pelo seu comportamento fora obrigado a trabalhar no próprio presídio. Talvez até fosse melhor, porque pelo menos não conviveria com tantos marginais.
No duro trabalho da prisão adquiriu uma enfermidade em uma das pernas, que sempre doía muito, mas, agora estava livre, e o trabalho braçal não podia executar. Onde conseguiria algo para sobreviver? Era uma pergunta que o atormentava.
Muitos dias se passaram até que conseguiu algo para fazer. Já era alguma coisa, afinal para quem passava fome esse já era um progresso.
Trabalho duro e rotineiro, mas pelo menos não estava junto de pessoa de má vida. Seu companheiro era muito rude, mas no fundo era uma boa pessoa; com o passar dos dias foi crescendo essa amizade. A vida começou a melhorar um pouco, já tinha um pouco de liberdade.
Podia sair nos fins de semana, um dia pescava num córrego próximo ou ficava na praça. Para na segunda começar a dura rotina, podia contar por feliz, afinal já sofrera muito, pois que ficara dez anos na prisão, estava assim com trinta e um anos de idade. Mas com muito sofrimento e desenganos, era o que apresentava a contabilidade da vida.
Mas a verdade é que o trabalho ficava um pouco melhor do que na prisão, porém a sua enfermidade se agravara, já sentia uma dor contínua, o que muito o incomodava, mas o que fazer? Não havia outro jeito de ganhar o pão de cada dia.
Seu estado de saúde se agravou e não pôde mais trabalhar. Tornou-se um pedinte. Mas não podia andar muito. Ficara um lugar que podia voltar à noite. Onde era chamado de “aleijadinho”, devido a sua deficiência em uma das pernas.
Mas não se preocupava com isso, porque na verdade só queria viver, ou sobreviver, ter o pão de cada dia. Foram anos de sofrimentos. Alguns corações generosos até compreendiam a sua situação, mas a maioria não o poupava de impropérios. “Porque não morre esse miserável”?.
Para resumir, no final foi acometido de uma febre altíssima como não tinha onde se abrigar, ficou realmente sem condição sequer de se mexer e naquela noite interminável delirava, já ficara uns três dias naquele estado convulsivo, mas naquela noite escura, parece que se avizinhava o final de sua jornada, até que finalmente chegou à hora, um estremecimento, um choque na cabeça e sentiu-me leve. Era o fim. Cumprira o seu compromisso até o fim.
Histórias Educativas
Pelo Espírito de Áulus
Otacir Amaral Nunes
A FORÇA DA LEI
A vida corre a frente com suas exigências e suas responsabilidades. Cada um com o seu programa de trabalho, fazendo o observar que se algo espera da vida, deve em primeiro lugar fazer-se merecedor de alguma promoção.
Ninguém subirá a alta montanha se não der o primeiro passo. Pode ser este com muito entusiasmo, ou não, mas será uma decisão que pode ter um resultado importante. Talvez esteja sempre em paz com o mundo e consigo mesmo, reconhecendo os seus limites, mas sempre pensando melhor ao seu equilibro diante da vida.
Pode mesmo diante dos seus pequeninos recursos realizar muitas coisas, desde que queira. O lavrador que espera a colheita farta deve lutar sol a sol para oferecer todas as condições para que esta se realize.
Muitos conflitos em que se envolve ao longo do caminho têm origem dentro de sua casa interior, onde não sabe relacionar ao rol de suas prioridades e o que realmente convém. Muitas vezes fica com a pior parte da herança, representada pelo orgulho e pelo egoísmo, que o coloca em antagonismo com os semelhantes.
Caso utilize o azorrague contra o próximo, com isso abdica o direito de ser livre, caindo na escravidão do erro, que sem dúvida, irá acarretar enormes sofrimentos. É da lei a pedra que atira atinge o alvo, mas verdadeiramente ela provoca um maior sofrimento naquele que arremessou. Por isso todo o cuidado é pouco.
As normas da vida são exigentes. Nada fica sem a corrigenda devida. A semelhança do escorpião que carrega o veneno que segrega, e como ele muitas vezes pratica o suicídio, inoculando em si mesmo a toxina fatal, pois ignora que a lei libertadora é o amor.
Se muitas vezes se inoculam essas reservas de veneno nos outros, representada pela falta de amor, pode a mesma força da lei preparar a uma dose letal e o constranja a bebê-la. Ninguém foge ao compromisso de rever os seus pontos de vista. É difícil compreender estas coisas. Porque na condição de escorpião que segrega o veneno, embora o próximo possa nos perdoar incondicionalmente, porém a carga de aflição é de quem praticou o mal, pois cria para si a obrigação de reparar o ato impensado.
É certo que muitas vezes age de maneira leviana e inconsequente, mas nem por isso o mal deixou de ser feito, e este trará suas consequências inevitáveis. É justo que procure sedimentar em si a semente do amor e caridade.
É claro que muitas vezes se lamenta de certas atitudes, mas nem por isso o procedimento que adota deixará de carregar o mal aos outros e disso é responsável, porque quebrou a lei de harmonia que é da lei preservar.
É imperioso assumir uma postura digna diante do próximo, porque está firmemente informado de que o mal que intenta levar aos outros será de sua inteira responsabilidade e por conta disso a lei será acionada e a cobrança inevitável.
Se porventura abusou do livre-arbítrio para perpetrar o mal, agora também deve agir em sentido contrário para restabelecer o equilíbrio. É a lei estabelecendo a regra do bem viver. A regra de ouro não manda amar o próximo como a si mesmo como norma libertadora?
Como avaliar se adotou os ensinamentos de Jesus como norma de conduta? E como age dessa maneira, sem a menor consciência?
O próprio Jesus afirmou: aquele que fez coisas reprováveis por ignorância da lei levará poucos açoites, porém aquele que a conhecia e ainda assim praticou atos condenáveis, certamente levará muitos açoites. E pode estar na condição da segunda alternativa, sem dúvida nenhuma, por isso alerte o seu coração e pense mais como age, a fim de que mais tarde não venha lamentar sobre os seus erros e dizer que realmente não sabia.
Lições De Simplicidade
Pelo Espírito de Áulus
Otacir Amaral Nunes
INTRODUÇÃO DE O EVANGELHO
SEGUNDO O ESPIRITISMO
O Espiritismo ilumina todos os conhecimentos humanos e, consequentemente, serve como poderosa ferramenta no direcionamento do progresso do planeta em todos os sentidos. Apesar de nos elucidar verdades atemporais, foi codificado em forma de Doutrina, sob o direcionamento do Cristo, no século XIX, a partir de diversos fenômenos físicos que chamaram a atenção do mundo científico em seu crescente materialismo. Esses fenômenos serviram de porta de entrada para que a Revelação Espírita chegasse ao nosso mundo. Tal revelação, entretanto, não se limita apenas a um conjunto de espetaculosas exibições da matéria, funda-se, sobremaneira, na moralidade espiritual, única capaz de desenvolver a criatura em sua jornada de progresso infinito.
As matérias contidas nos Evangelhos podem ser divididas em cinco partes: os atos comuns da vida do Cristo; os milagres; as predições; as palavras que serviram de base para o estabelecimento dos dogmas da Igreja; e o ensino moral.
Se as quatro primeiras partes têm sido objeto de controvérsias, a última permaneceu inatacável. Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É o terreno onde todos os cultos podem reunir-se, a bandeira sob a qual todos podem abrigar-se, quaisquer que sejam suas crenças, porque jamais constituiu matéria das disputas religiosas, sempre e por toda parte suscitadas pelas questões dogmáticas.
O Espiritismo tem por objetivo o esclarecimento e o progresso intelecto-moral da criatura em seu inevitável avançar evolutivo. Sendo assim, a moral evangélica é indissociável da Doutrina Espírita, pois que de tal maneira ambas são a mesma coisa, em que a ausência daquela eliminaria necessariamente a outra: “O fim essencial do Espiritismo é tornar melhores os homens. Nele não se procure senão o que possa concorrer para o seu progresso moral e intelectual.”
Todo o mundo admira a moral evangélica; todos lhe proclamam a sublimidade e a necessidade, mas muitos o fazem por confiança, baseados no que ouviram dizer ou sobre a fé em algumas máximas que se tornaram proverbiais. Poucos, no entanto, a conhecem a fundo e menos ainda são os que a compreendem Tema 3 – O evangelho segundo o espiritismo: prefácio e introdução e sabem deduzir as suas consequências. A razão disso está, em grande parte, na dificuldade que apresenta a leitura do Evangelho, ininteligível para grande número de pessoas. A forma alegórica e o misticismo intencional da linguagem fazem com que a maioria o leia por desencargo de consciência e por dever, como leem as preces, sem as entender, isto é, sem proveito. Os preceitos de moral, disseminados aqui e ali, intercalados no conjunto das narrativas, passam despercebidos; torna-se, então, impossível compreendê-los inteiramente e deles fazer objeto de leitura e meditações especiais.
Todos os ensinamentos evangélicos trazidos por meio da Doutrina Espírita se baseiam nas Leis Divinas existentes desde todos os tempos, às quais temos por dever e destino nos integrar. Leis que nos foram exemplificadas em grau maior há mais de dois mil anos, quando da vinda do Senhor Jesus: “Em todas as circunstâncias, lembrar-se de que o Espiritismo expressa, antes de tudo, obra de educação, integrando a alma humana nos padrões do Divino Mestre”.55
Em 1864, Allan Kardec, acompanhando a expansão do Espiritismo e a necessidade de evidenciar os ensinos morais espíritas como verdades cristãs já manifestadas ao mundo, publica a obra intitulada Imitação do evangelho segundo o espiritismo.56 Nessa obra, o codificador busca elucidar o ensino moral cristão à luz da nova revelação, estimulando-nos à inevitável reforma moral íntima.
Para os homens, em particular, aquele código é uma regra de conduta que abrange todas as circunstâncias da vida pública e privada, o princípio de todas as relações sociais que se fundam na mais rigorosa justiça. É, finalmente e acima de tudo, o roteiro infalível para a felicidade vindoura, o levantamento de uma ponta do véu que nos ocultava a vida futura. É essa parte que será o objeto exclusivo desta obra.57
Nesta meta, o famoso pedagogo organiza metodicamente os versículos bíblicos para explicitar a moral cristã à luz da Doutrina Espírita, retirando os véus seculares que as limitações humanas impuseram ao conhecimento universal. Esses véus, não raro, até hoje turvam o entendimento dos estudiosos dos Evangelhos, visto que, em boa parte, trazem mais referências materiais que espirituais em suas interpretações.
Muitos pontos do Evangelho, da Bíblia e dos autores sacros em geral só são ininteligíveis, parecendo alguns até irracionais, por falta da chave que nos faculte compreender o seu verdadeiro sentido. Essa chave está completa no Espiritismo, como já puderam convencer-se os que o estudaram seriamente, e como todos reconhecerão melhor ainda, mais tarde.
O Espiritismo é a chave de muitos mistérios ocultos de nossa ciência até os dias atuais, entretanto, acima de tudo e principalmente, ele é a chave dos O Evangelho Redivivo – Livro I
corações humanos. Conforme relata o Espírito Vicente de Paulo: “Sede bons e caridosos, pois essa é a chave dos Céus, chave que tendes em vossas mãos.
Toda a eterna felicidade se acha contida neste preceito: Amai-vos uns aos outros [...]”. O conhecimento espírita apenas alcança seu objetivo quando leva o Espírito à transformação moral que o conduzirá, naturalmente, às obras da caridade sincera.
O evangelho segundo o espiritismo preocupa-se em exaltar a moralidade cristã das escrituras. Eis como Allan Kardec se pronuncia a respeito.
[...] em vez de nos atermos a uma ordem cronológica impossível, e sem vantagem real em semelhante assunto, as máximas foram agrupadas e classificadas metodicamente, segundo a natureza de cada uma, de modo que possam ser deduzidas umas das outras, tanto quanto possível. A indicação dos números de ordem dos capítulos e dos versículos permite que se recorra à classificação vulgar, caso seja necessário. Esse, entretanto, seria um trabalho material que, por si só, teria apenas utilidade secundária. O essencial era colocá-lo ao alcance de todos, mediante a explicação das passagens obscuras e o desdobramento de todas as consequências, tendo em vista a aplicação dos ensinos às diversas situações da vida. Foi o que tentamos fazer, com a ajuda dos Espíritos bons que nos assistem.
Essa primorosa obra dos Espíritos nos educa a visão espiritista sobre a Bíblia e a sua mensagem imortal. Chama-nos ao olhar espiritual. Afasta-nos das interpretações teológicas vinculadas a fenômenos da temporalidade material para nos mostrar que a força do Evangelho de Jesus está em sua moralidade e na modificação do universo íntimo de cada criatura, transcendendo o tempo e vencendo todas as edificações perecíveis que o conhecimento limitado da Humanidade possa construir.
Compreendendo que a Bíblia, obra milenar de profetas e apóstolos, é uma ferramenta divina para auxílio das criaturas em sua transformação como Espírito, Kardec nos incita à modificação moral, à absorção da luz do Evangelho em nosso íntimo, transformando-nos no homem novo que o apóstolo Paulo fala: “E revesti-vos do homem novo, criado segundo Deus, na justiça e santidade da verdade”.
Esta obra é para uso de todos. Dela podem todos haurir os meios de conformar com a moral do Cristo o respectivo proceder. Aos espíritas oferece aplicações que lhes concernem de modo especial. Graças às relações estabelecidas, doravante e permanentemente, entre os homens e o mundo invisível, a lei evangélica, que os próprios Espíritos ensinaram a todas as nações, já não será letra morta, porque cada um a compreenderá e se verá incessantemente compelido a pô-la em prática, a conselho de seus guias espirituais [...].
Tema 3 – O evangelho segundo o espiritismo: prefácio e introdução Kardec, quando do lançamento de O evangelho segundo o espiritismo, com o peculiar discernimento que lhe era próprio, discorre sobre o objetivo da publicação recém-nata, consolando-nos e clamando-nos à responsabilidade do aprendiz esforçado e sincero de Jesus Cristo. E conclui:
Como complemento de cada preceito, acrescentamos algumas instruções escolhidas dentre as que os Espíritos ditaram em vários países e por diferentes médiuns. Se essas instruções tivessem emanado de uma fonte única, poderiam ter sofrido uma influência pessoal ou do meio, ao passo que a diversidade das origens prova que os Espíritos dão seus ensinos por toda parte e que ninguém goza de qualquer privilégio a esse respeito [...].
Livro Evangelho Redivivo
FEB
PSICOGRAFIA
Num momento impensado cometem-se tantos erros que só terá de lamentar. A minha história é igual a tantas outras, que não soube Ter paciência, nem maturidade para suportar as primeiras decepções amorosas e vim em consequência disso, cometer um ato tresloucado contra mim mesma, ou seja, atentei contra minha própria vida, imaginando que não mais sentiria a dor da decepção, aliás, a bem da verdade só queria impressionar os outros, pois que assim puniria aquele ingrato quando me visse sofrendo, pois que me trocou por outra, tanto quanto aquela que se dizia minha amiga.
Estudávamos no mesmo colégio, eu e o Márcio e logo que completei treze anos, comecei a namorar ele, passou-se um ano. Tudo bem! Até que um dia soube que Márcio estava namorando outra, justamente a Camila, minha amiga.
Fiquei possessa da vida, logo ela. Como pode fazer isso comigo? Afinal ele não disse que me amava e que me amaria sempre e aproveita as férias escolares para me trocar por outra, muito bem! Como pode me esquecer tão depressa, como pode ser tão volúvel, não me conformo que ele possa Ter feito isso comigo. Mas eu vou me vingar, eu também vou fazê-los sofrer pela maldade que fizeram comigo, vão se arrepender e nunca mais esquecerão que não se deve brincar com os sentimentos dos outros.
Pensei em muitas alternativas, mas a dor misturada com vingança fazia bater forte o meu coração.
Lembrei-me do revólver de meu pai. Ah! Vou fingir que me suicidei para chamar a sua atenção e todo o mundo vai ficar sabendo e ele irá ficar com pena de mim.
Queria mesmo era chamar a sua atenção sobre a minha pessoa, então decidi num momento de maior revolta, é hoje. Como não tinha muita habilidade no manejo da arma, aliás, nunca pegara uma coisa dessas, a bem da verdade, aquilo me assustava. Fui para o meu quarto e pensei muito, será que valia a pena, mas não aceitava que ele me trocasse por outra. Vou só dar um tiro de mentirinha, ele vai ficar apavorado e viria correndo para mim, eu o conheço bem.
E levei a arma até a altura de minha cabeça e disparei, com o impacto cai no chão. As vizinhas ouviram e correram todos para dentro de minha casa para ver o que acontecera, porque meus pais não estavam em casa. Quando ouvi uma vizinha dizer: Mas o que essa menina foi fazer! Chamem o médico! Dirigindo-se as outras pessoas e vamos procurar os pais dela, o caso é grave! Queria pedir socorro, mas não podia falar, a verdade não queria morrer e tentava pedir socorro, mas não podia falar, nem me movimentar mais. Queria pedir para que não me deixasse morrer, mas não podia. Agora perdoaria todo mundo, o Márcio e namorado e todo mundo, mas que não me deixasse morrer. Pedi perdão a Deus, a minha mãe e ao meu pai, mas nada adiantava. Ainda ouvi a voz de minha mãe, minha filha! Porque fez isso? Não ouvi mais nada. O projétil havia atravessado o cérebro. Nada mais podia ser feito.
Uma terrível confusão se abateu sobre mim. Ouvia o estampido do tiro ensurdecedor e depois o silêncio em seguida e os gritos dos que tentavam me socorrer, depois o desespero de mamãe. Nada mais podia ser feito.
Nessas poucas linhas minha pequena história, tão banal, também por um motivo tão banal, mas a dor que sofro até hoje é muito, mas muito real, aliás, são sofrimentos inomináveis e o pior que ainda levarei por muitos anos este estigma. Agora se tivesse um pouco de paciência e menos orgulho e egoísmo, talvez tivessem superado com êxito aquela pequena provação do meu caminho, porque hoje sei que Márcio não ficaria com Camila, como de fato não ficou.
Márcio ficou bastante tempo abalado e esqueceu a namorada e resolveu tocar a vida, mesmo porque não tem outro jeito, mais tarde ele casou com outra jovem.
Eu sofro muito ainda, pois que sinto todas as angústias daquele ato infeliz e infantil de minha parte, que fez sofrer muito meus familiares. Eu continuo a sofrer muito ainda e não adiantou nada.
Espero que um dia nova oportunidade seja me concedida, para reparar o enorme mal que causei a mim e aos outros, principalmente este ato cometido contra mim mesmo e contra as Leis de Deus.
Adeus.
Sheila
CIRURGIAS ESPIRITUAIS DE JOSÉ ARIGÓ
A autora, Leida Lúcia de Oliveira, conviveu com José Arigó, pois o médium era amigo íntimo de sua família. Dos 10 aos 23 anos assessorou-o em suas cirurgias e acompanhou bem de perto, com muita dedicação, os fenômenos e testemunhos de amor do médico alemão (Espírito) e de José Arigó.
Diagnósticos sem anamneses, prescrições surpreendentes, cirurgias com corte sem anestesia e assepsia e, no entanto, sem dor, infecções ou complicações cirúrgicas e com relatos de alta eficácia. Dois processos e duas condenações por curandeirismo e exercício ilegal da medicina. Um trabalho de amor e caridade durante 21 anos.
Este é um livro de memórias, nascido do coração de quem participou de perto e acompanhou por 13 anos um dos maiores fenômenos mediúnicos do Brasil e do mundo: José Pedro de Freitas ou, popularmente, Zé Arigó, através do qual atuavam o Espírito do Dr. Fritz e sua equipe, realizando curas e prodígios dignos de nota por cientistas, médicos, juristas, e, sobretudo pelo povo simples e humilde que acorria de toda parte do Brasil e do mundo a Congonhas, em Minas Gerais, em busca de socorro para o corpo e para a alma.
Publicação da AME Editora.
Mundo Espírita
Novembro/2015
SEMEADURA
“Mas, tendo sido semeado, cresce.” — Jesus. (MARCOS, capítulo 4, versículo 32.)
É razoável que todos os homens procurem compreender a substância dos atos que praticam nas atividades diárias. Ainda que estejam obedecendo a certos regulamentos do mundo, que os compelem a determinadas atitudes, é imprescindível examinar a qualidade de sua contribuição pessoal no mecanismo das circunstâncias, porquanto é da lei de Deus que toda semeadura se desenvolva.
O bem semeia a vida, o mal semeia a morte. O primeiro é o movimento evolutivo na escala ascensional para a Divindade, o segundo é a estagnação.
Muitos Espíritos, de corpo em corpo, permanecem na Terra com as mesmas recapitulações durante milênios. A semeadura prejudicial condicionou-os à chamada “morte no pecado”.
Atravessam os dias, resgatando débitos escabrosos e caindo de novo pela renovação da sementeira indesejável. A existência deles constitui largo círculo vicioso, porque o mal os enraíza ao solo ardente e árido das paixões ingratas.
Somente o bem pode conferir o galardão da liberdade suprema, representando a chave única suscetível de abrir as portas sagradas do Infinito à alma ansiosa.
Haja, pois, suficiente cuidado em nós, cada dia, porquanto o bem ou o mal, tendo sido semeados, crescerão junto de nós, de conformidade com as leis que regem a vida.
Livro "Caminho, Verdade e Vida"
Pelo Espírito Emmanuel
Francisco Cândido Xavier
ANTE O SUBLIME
“Não faças tu comum o que Deus purificou.” (Atos dos Apóstolos, 10:15)
Existem expressões no Evangelho que, à maneira de flores a se salientarem num ramo divino, devem ser retiradas do conjunto para que nos deslumbremos ate o seu brilho e perfume peculiares.
A voz celeste, que se dirige a Simão Pedro, nos Atos, abrange horizontes muito mais vastos que o problema individual do apóstolo.
O homem comum está rodeado de glórias na Terra, entretanto, considera-se num campo de vulgaridades, incapaz de valorizar as riquezas que o cercam.
Cego diante do espetáculo soberbo da vida que lhe emoldura o desenvolvimento, tripudia sobre as preciosidades do mundo, sem meditar no paciente esforço dos séculos que a Sabedoria Infinita utilizou no aperfeiçoamento e na seleção dos valores que o rodeiam.
Quantos milênios terá exigido a formação da rocha?
Quantos ingredientes se harmonizam na elaboração de um simples raio de sol?
Quantos óbices foram vencidos para que a flor se materializasse?
Quanto esforço custou a domesticação das árvores e dos animais?
Quantos séculos terá empregado a Paciência do Céu na estruturação complexa da máquina orgânica em que o Espírito encarnado se manifesta?
A razão é luz gradativa, diante do sublime.
Não te esqueças, meu irmão, de que o Senhor te situou a experiência terrestre num verdadeiro paraíso, onde a semente minúscula retribui na média do infinito por um e onde águas e flores, solo e atmosfera te convidam a produzir, em favor da multiplicação dos Tesouros Eternos.
Cada dia, louva o Senhor que te agraciou com as oportunidades valiosas e com os dons divinos.
Pensa, estuda, trabalha e serve.
Não suponhas comum o que Deus purificou e engrandeceu.
Fonte Viva
Francisco Candido Xavier
Pelo Espírito de Emmanuel
PEDINDO ESMOLA PARA ENTERRAR O EXPATRÃO
Chico levantara-se cedo e, ao sair, de charrete, para a Fazenda, encontra-se no caminho com o Flaviano, que lhe diz:
— Sabe quem morreu?
— Não!...
— O Juca, seu expatrão.
Morreu na miséria, Chico, sem ter nem o que comer.
— Coitado! E Chico tira do bolso o lenço e enxuga os olhos.
— A que horas é o enterro?
— Creio que vão enterrá-lo a qualquer hora, como indigente, no caixão da Prefeitura, isto é, no rabecão...
Chico medita, emocionado, e pede:
— Flaviano, faça-me um favor: vá à casa onde ele desencarnou e peça para esperarem um pouco. Vou ver se lhe arranjo um caixão, mesmo barato.
Flaviano despede-se e parte.
Chico desce da charrete. Manda um recado para seu Chefe.
Recorda seu expatrão, figura humilde de bom servidor, que tanto bem lhe fizera. E ali mesmo, no caminho, envia uma prece a Jesus:
“Senhor, trata-se de meu expatrão, a quem tanto devo; que me socorreu nos momentos mais angustiosos; que me deu emprego com o qual socorri minha família; que tanto sofreu por minha causa. Que eu lhe pague, em parte, a gratidão que lhe devo. Ajude-me, Senhor”.
E, tirando o chapéu da cabeça e virando-o de copa para baixo, à guisa de sacola, foi bater de porta em porta, pedindo uma esmola para comprar um caixão para enterrar o extinto amigo.
Daí a pouco, toda Pedro Leopoldo sabia do sucedido e estava perplexa, senão comovida com o ato do Chico.
Seu pai soube e veio ao seu encontro, tentando demovê-lo daquele peditório.
— Não, meu pai, não posso deixar de pagar tão grande dívida a quem tanto colaborou conosco.
Um pobre cego, muito conhecido em Pedro Leopoldo, é inteirado da nobre ação do Chico, a quem estima.
Esbarra com ele:
— Por que tanta pressa, Chico?
— Meu nêgo, estou pedindo esmolas para enterrar meu expatrão.
— Seu Juca? Já soube. Coitado, tão bom! Espere aí, então, Chico. Tenho aqui algum dinheiro que me deram de esmolas ontem e hoje.
E despejou no chapéu do Chico tudo o que havia arrecadado ate ali. Chico olhou-lhe os olhos mortos e sem luz. Viu-os cheios de lágrimas.
Comoveu-se mais.
— Obrigado, meu nêgo! Que Jesus lhe pague o sacrifício.
Comprou com o dinheiro esmolado o caixão. Providenciou o enterro. Acompanhou-o
Até o cemitério. E já tarde, regressou à casa.
Tinha vivido um grande dia.
Sentou-se à entrada da porta. Lá dentro, os irmãos e o pai, observavam-no comovidos.
Em prece muda, agradeceu a Jesus. Emmanuel lhe aparece e lhe sorri. O sorriso de seu bondoso Guia lhe diz tudo. Chico o entende.
Ganhara o dia, pagará uma dívida e dera de si um testemunho de humildade, de ratidão e de amor ao Divino Mestre.
Livro Lindos Casos de Chico Xavier
Autor Ramiro Gama
A NECESSIDADE DO ESFORÇO
Conta-se que, no principio da vida terrestre, o alimento das criaturas era encontrado como oferta da Divina Providência, em toda parte.
Em troca de tanta bondade, o Pai Celeste rogava aos corações mais esforço no aperfeiçoamento da vida.
O povo, no entanto, observando que tudo lhe vinha de graça, começou a menosprezar o serviço.
O mato inútil cresceu tanto, que invadia as casas, onde toda a gente se punha a comer e dormir.
Ninguém desejava aprender a ler.
A ferrugem, o lixo e o mofo apareciam em todos os lugares.
Animais, como os cães que colaboram na vigilância, e aves, como os urubus que auxiliam nas obras de limpeza, eram mais prestativos que os homens.
Vendo que ninguém queria corresponder à confiança divina, o Pai Celestial mandou retirar as facilidades existentes, determinando que os habitantes da Terra se esforçassem na conquista da própria manutenção.
Desde esse tempo, o ar e a água, o Sol e as flores, a claridade das estrelas e o luar continuaram gratuitos para o povo, mas o trabalho forçado da alimentação passou a vigorar como sendo uma lei para todos, porque, lutando para sustentar-se, o homem melhora a terra, limpa a habitação, aprende a ser sábio e garante o progresso.
Deus dá tudo.
O solo, a chuva, o calor, o vento, o adubo e a orientação constituem dádivas dEle à Terra que povoamos e que devemos aprimorar, mas o preparo do pão de cada dia, através do nosso próprio suor e da nossa própria diligência, é obrigação comum O a todos nós, a fim de que não olvidemos o nosso divino dever de servir, incessantemente, em busca da Perfeição.
Livro Pai Nosso
Francisco Candido Xavier
Pelo Espírito de Meimei
ORANDO A CADA DIA
Faze-me perceber que o trabalho do bem me aguarda em toda parte.
Não me consintas perder tempo, através de indagações inúteis.
Lembra-me, por misericórdia, que estou no caminho da evolução, com os meus semelhantes, não para consertá-los e sim para atender à minha própria melhoria.
Induze-me a respeitar os direitos alheios a fim de que os meus sejam preservados.
Dá-me consciência do lugar que me compete, para que não esteja a exigir da vida aquilo que não me pertence.
Não me permita sonhar com realizações incompatíveis com os meus recursos, entretanto, por acréscimo de bondade, fortalece-me para a execução das pequeninas tarefas ao meu alcance.
Apaga-me os melindres pessoais, de modo que não me transforme em estorvo diante dos irmãos, aos quais devo convivência e cooperação.
Auxilia-me a reconhecer que cansaço e dificuldade não podem converter-me em pessoa intratável, mas mostra-me, por piedade, quanto posso fazer nas boas obras, usando paciência e coragem, acima de quaisquer provações que me atinjam a existência.
Concede-me forças para irradiar a paz e o amor que nos ensinaste.
E, sobretudo, Senhor, perdoa as minhas fragilidades e sustenta-me a fé para que eu possa estar sempre em ti, servindo aos outros.
Assim seja.
Autor desconhecido
A VELHICE
Que os velhos sejam sóbrios, respeitáveis, sensatos, fortes na fé, na caridade e na perseverança. Paulo. Tito,2:2 (Bíblia de Jerusalém)
Marta Antunes Moura
O número de pessoas idosas vem aumentado significativamente nas duas últimas décadas, no Brasil e fora do país. O relatório nacional sobre envelhecimento da população brasileira — documento elaborado pelo Ministério das Relações Exteriores e representantes oficiais dos estados e da sociedade civil — indica que os brasileiros com idade acima de 60 anos que representava, em 1940, 4% da população, passou para 9% no ano 2000. Além disso, tem aumentado o número de pessoas com idade acima de 80 anos que totalizava 166 mil, em 1940, e quase 1,8 milhões em 2000 (representando 12,6% da população idosa e 1% da população total). O prestigioso U.S. Bureau of Census informa que cerca de três milhões de americanos têm atualmente 85 anos de idade ou mais. É o segmento da população dos Estados Unidos que revela maiores taxas de crescimento, abrangendo o surpreendente valor de 274% entre 1960 e 1994, período no qual a população idosa duplicou e a população total cresceu somente 45%. E vejam: esses são dados do início do século! A situação, hoje, ampliou.
Divaldo Pereira Franco entende que a “questão da idade é mais psicológica do que real. Certamente [afirma], do ponto de vista fisiológico, o organismo, à medida que o tempo avança, tende a diminuir a sua flexibilidade, o seu equilíbrio, a harmonia das funções. Entretanto, preservadas suas atividades pelo trabalho e equilíbrio emocional, logra manter-se sem maiores danos. É possível conservar a memória ativa, adquirir novos conhecimentos e realizar abençoadas experiências.”1 Essas palavras do dedicado médium brasileiro guardam sintonia com os atuais estudos de gerontologia que apontam o trabalho ou atividade laboral como elemento de equilíbrio físico e psíquico dos idosos, desde que cause satisfação e que possa ser exercida de acordo com possibilidades de cada um.
Ante tais concepções, com a aprovação do Estatuto do Idoso em 1.º de janeiro de 2004, o poder público e privado vem desenvolvendo projetos, programas e ações com a finalidade de melhorar a qualidade de vida dos idosos, inclusive com o desenvolvimento de programas de profissionalização voltados para maiores de 60 anos. Foram criados estímulos para que as empresas privadas admitam trabalhadores idosos (artigo 28).
Importa destacar, porém, que os programas sociais não se restringem a designar, pura e simplesmente, uma atividade qualquer ao idoso, para que ele se “distraia”, “ocupe” ou “movimente-se”. Ao contrário, os projetos e programas sérios, inclusive os desenvolvidos nas instituições espíritas, visam favorecer o real envolvimento da pessoa nas atividades. Assim, é importante também destacar estas ideias de Emmanuel quanto ao assunto:
Hoje, porém, sabemos que a lei do trabalho é roteiro da justa emancipação. Sem ela o mundo mental dorme estanque.
[…]
Não vale, contudo, agir por agir.
As regiões infernais vibram repletas de movimento.
Além do trabalho-obrigação que nos remunera de pronto, é necessário nos atenhamos ao prazer de servir.
Nas contingências naturais do desenvolvimento terrestre, o espírito encarnado é compelido ao esforço incessante, para o sustento do corpo físico.
[…]
Cativo, embora, às injunções do plano de obscura matéria em que transitoriamente respira, pode, porém, desde a Terra, fruir a ventura do serviço voluntário aos semelhantes todo aquele que descerre o espelho da própria alma aos reflexos da Esfera Divina.
O trabalho-ação transforma o ambiente.
O trabalho-serviço transforma o homem.”2
Por preconceito ou desinformação, há quem confunda a fragilidade física dos idosos com desequilíbrio psíquico. Uma coisa não guarda relação com a outra. Em países atentos à essa realidade, inclusive no Brasil, já existem programas sérios, governamentais e não-governamentais, destinados à promoção, valorização e preservação da saúde física e mental dos mais velhos: “No Japão, a idade avançada é símbolo de status. […] Na comemoração do sexagésimo aniversário de um homem, ele veste colete vermelho que simboliza o renascimento para uma fase avançada da vida. […].”3
Felizmente, uma nova mentalidade está surgindo em nível mundial, com propostas inovadoras e humanitárias de combate ao preconceito ou à discriminação de pessoas idosas.4 Vemos assim que, a despeito do aumento significativo do número dos lares e organizações destinados ao abrigo idosos, a mentalidade vigente distancia, cada vez mais, da antiga e triste constatação de serem locais para “depósito de idosos”. Neste sentido, o Espiritismo orienta-nos que o equilíbrio espiritual se obtém pelo conhecimento aliado à prática da caridade. Qualquer um de nós, independentemente da idade ou saúde, temos condições de fazer o bem, preservando, assim, o próprio equilíbrio. O modelo a seguir, ainda segundo Emmanuel, é simples:
E, inspirados na lição do Senhor, os vanguardeiros do bem substituem os vales da imundície pelos hospitais confortáveis; combatem vícios multimilenários, com orfanatos e creches; instalam escolas, onde a cultura jazia confiada a escravos; criam institutos de socorro e previdência, onde a sociedade mantinha a mendicância para os mais fracos. E a caridade, como gênio cristão na Terra, continua crescendo com os séculos, através da bondade de um Francisco de Assis, da dedicação de um Vicente de Paulo, da benemerência de um Rockfeller ou da fraternidade do companheiro anônimo da via pública, salientando, valorosa e sublime, que o Espírito do Cristo prossegue agindo conosco e por nós.4
Considerando que o Centro Espírita é escola de formação espiritual e moral, um núcleo de estudo e de fraternidade, de oração e trabalho, deve, nesse contexto, desenvolver ações de atendimento aos idosos, amparando-os na velhice. São, pois, atuais estas orientações transmitidas por Jesus a Simão Pedro, registradas por Humberto de Campos:
— Simão — disse o Mestre com desvelado carinho — poderíamos acaso perguntar a idade do nosso Pai? E se fôssemos contar o tempo, na ampulheta das inquietações humanas, quem seria o mais velho de todos nós? A vida, na sua expressão terrestre, é como uma árvore grandiosa. A infância é a sua ramagem verdejante. A mocidade se constitui de suas flores perfumadas e formosas. A velhice é fruto da experiência e da sabedoria. Há ramagens que morrem depois do primeiro beijo do sol, e flores que caem ao primeiro sopro da primavera. O fruto, porém, é sempre uma bênção do Todo-Poderoso. A ramagem é uma esperança; a flor uma promessa; o fruto é realização. Só Ele contém o doce mistério da vida, cuja fonte se perde no infinito da Divindade!…5
REFERÊNCIAS
1 - FRANCO, Divaldo P. Laços de família. Por autores diversos. Org. Antonio César Perri de Carvalho. São Paulo: USE, 1994, p.53.
2 - XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 19. ed. Brasília: FEB, 2013. Cap. 7, p. 31-32.
3 - PAPALIA, Diane E. e OLDS, Sally W. Desenvolvimento humano. Traduzido por Daniel Bueno. 7.ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. Cap. 16, p. 492.
4 - XAVIER, Francisco C. Roteiro. Pelo Espírito Emmanuel. 14. ed. Brasília: FEB, 2012. Cap. 16, p.73.
5 - _____. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 37. ed. Brasília: FEB, 2013. Cap. 9, p.60-61.
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