"Luzes do Amanhecer"

ANO V - Nº53– Campo Grande/MS – Junho de 2010.
EDIÇÃO DO CENTRO ESPÍRITA “VALE DA ESPERANÇA”
Rua Colorado n o 488, Bairro Jardim Canadá, CEP 79112-480, Campo Grande-MS.


           “Amor com amor se paga”, mas aquele que compreendeu o sentido exato do Evangelho sabe que o mais afortunado é aquele que ama sem esperar ser amado. Blandina.


 

DURA, PORÉM É A LEI.

               Repetir aqueles fatos dolorosos pelos quais fizeram os outros passarem. A princípio se exasperou, mas depois compreendeu que é o caminho justo ao espírito duro e recalcitrante, como fora. Em tempos recuados, muitas vezes negara o mais elementar conforto aos outros. Essa maneira desumana que obrigava aos seus subordinados viverem, aliás, tinha um secreto prazer de que fossem sempre humilhados para que, assim, se julgar num patamar mais elevado.
               Não sabia que estava plantando para colher mais tarde. Assim que a vida passou rapidamente e de repente se viu a frente daqueles mesmos que infelicitara, quando atrevidamente alguns deles lhe insultavam, e não tinha forças sequer para revidar ou se defender das ofensas e agressões, porque sentia na própria consciência que eles tinham razão e sentia tolhido em sua liberdade de expressão.
               Chegavam lhe agredir fisicamente de maneira mais cruel, isso lhe causava dolorosa impressão, queria resistir, mas no fundo sabia que devia, mas aos poucos foi se acovardando, pois que cansara de ser humilhado, quando todos sabiam suas atitudes, sua vida era um livro aberto, mas também não havia como fugir daquela situação, em alguns momentos de lucidez observava que também fizera o mesmo aos míseros cativos de sua senzala e que viviam sob sua dependência.
               Agora sofria a lei do talião e era justo o castigo a alguém autoritário, egoísta, e orgulhoso, de outros tempos, sofreu muito embora quisesse se fazer de forte, mas chegou um momento que não pode mais e implorou ao Criador clemência.
               Isto, porém ocorreu depois de muitos anos que não soube precisar, então uma suave consolação visitou o seu coração e banhou-se rosto em lágrimas de reconhecimento, afinal, sua vida naqueles anos todos se convertera num verdadeiro inferno, como também percebeu que só fora o começo, porque voltaria à arena de provas, para resgatar a duras penas aquele passado de tantos desatinos, justamente com aquelas criaturas que infelicitara.
               Voltaria sim e seria por sua vez subordinado que não teria maneira de se libertar, seja pelo constrangimento moral, seja pelas deficiências físicas, porque fizera todo o mal que quisera aos outros em seus momentos de supostas vitórias.
               Teria que provar do remédio amargo que fora ele mesmo que fabricara e somente usara largamente contra o direito dos outros.
               Mas também compreendeu que somente assim poderia começar a ressarcir o imenso débito que contraíra na sua existência pregressa, pois que não tivera piedade de ninguém. Não suportava que alguém o contrariasse. Sua palavra era lei, ai de quem a não a cumprisse o que determinava, era severamente punido no mesmo instante, sem piedade nenhuma.
               Tempos depois...
               Finalmente renascera. Começara uma nova etapa, os pais o abandonaram quanto criança e fora criado por uma família daquela região, mais tarde, na espiritualidade, reconhecera que se criara justamente na família daqueles que maltratara tanto, aliás, que fora suas vítimas.
               Agora eles filhos do patrão e ele o criado da casa. Cabia lhe todas as obrigações. Trabalhava dia e noite. Sem direito a descansar, sempre havia trabalho extra. Não constituíra família, sempre que falavam “esse neguinho não bate bem”, mas com a chibata ele entende.
               Obedecia porque aprendera que era melhor, porque se não obedecesse apanhava e tinha que fazer tarefa redobrada. Assim obedecia às ordens, a princípio muito contrariado, depois de muito sofrer com isso, concluiu que era melhor cumprir a tarefa, mesmo porque não tinha como resolver aquela situação.
               Não tinha família. Era melhor ficar ali mesmo. Principalmente depois que soubera que sua mãe morrera ainda jovem, razão porque nunca mais o procurou e ainda se sentiu mais só e abandonado. Mas o que fazer? Continuaria com a corda no pescoço até o fim.
               Mais tarde já velho começou a ter algumas regalias, mesmo porque já tinha limitações físicas, mas nunca deixara de ser o escravo da casa.
               Parece que perdera o orgulho de outras épocas, ou aquele orgulho não podia se manifestar. Na juventude muitas vezes a revolta visitou seu coração, mas sempre era constrangido a obedecer, talvez em resposta ao que fizera duramente aos outros.
               Mas sofrera tanto por causa disso que acabou se adaptando aquele tipo de vida que realmente seria um burro de carga e sem perspectiva e nada mais.
               Talvez fosse a vida mais proveitosa do ponto de vista moral, porque encaminhado no endereço certo de suas grandes deficiências, e pode de alguma forma construir alguma coisa dentro de si, principalmente quando compreendera que não sofrera em vão.
               Certamente que nessa outra vida futura deveria voltar melhor, porque esta que vivera fora de muito sofrimento.                Não existe mais a escravidão naquele sentido antigo, mas nascera na situação ideal para continuar o aprendizado que ainda será longo e difícil, porque a semeadura é livre, porém a colheita é obrigatória, disso estava ciente e não havia como negar.
               A dívida que contraíra por livre vontade cedo ou tarde deverá ser paga, é isso que realmente importa. Por isso que continua lutando por se melhorar. A vida é árdua, mas conta apesar de tudo que tenha esperança de superar os obstáculos do caminho.
               Crê firmemente mesmo que com esforço poderá vencer. Como também encontrará muitas dificuldades para resolver aqueles problemas que estão na sua quota, por isso espera que tenha bastante força de vontade para continuar lutando por dias melhores, certamente em resposta às dificuldades que criara no passado, terá que remover a duras penas esse empecilho que num momento de ignorância e insensatez criara no caminho do próximo. Dura, porém é a lei, mas a única capaz de restabelecer a paz naquele coração atormentado.

Áulus.
Otacir Amaral Nunes
Campo Grande/MS

VÍTIMAS DO AMOR

               Por onde passes abençoa as situações, agradecendo a Deus pelas oportunidades recebidas...
               Hoje, a provação a exigir-te a disciplina do coração, amanhã os problemas agravando os temperamentos no círculo doméstico em que vives, solicitando-te a serenidade, até que possas compreender as causas de tais comportamentos...
               Quantos não se entregam à fúria da violência, quando, no entanto, bastaria apenas um toque de amor?
               Viajantes desfigurados pelo próprio egoísmo, distanciam-se do bem complicando os seus destinos, nas provas de cada dia.
               Homens dilacerados pelo ódio, procuram a satisfação de intimidade doentia para apagar a ira do seu mundo com respostas mais agressivas.
               E crianças crescem sem rumo, desconhecendo as verdades do lar, porque desertaram de suas vidas os pais endividados, a fugirem do próprio acerto!
               Esposas abandonadas vagueiam entre os espinheiros do mundo a reclamarem o auxilio do coração insubstituível, nos momentos de reflexão!
               Tantos casos de idiotice e doença que não se encontram catalogados no livro da vida e afirmam entre outros, a incompetência dos seus mestres.
               Façamos valer o Evangelho!
               O pão da alma é alimento que vem de Deus em nosso auxilio... As ilusões são almas sem ideais que nascem de nossa própria ignorância e perdem-se no anonimato dos dias, quando recordamos que as vítimas da própria vida são as mesmas vítimas do amor ferido.
               Prossigamos na fé...
               E edificaremos um mundo novo a nos amparar com as bênçãos dos céus.

Ezequiel
Do livro “Flores da Primavera”, de Jesus de Deus.

 

PÁGINAS DE SAUDADE E TERNURA

               Minha querida filha:

               Deus abençoe a vocês todos, concedendo-lhes muita saúde, alegria e paz.
               Suas preces e pensamentos me buscam, na vida espiritual, como vivos apelos do coração.
               Nossas lagrimas de saudade se confundem.
               Morrer, minha filha, n ao é descansar, porque o amor, principalmente das mães, é sempre uma aflição permanente do espírito.
               Ainda não pude habituar-me à idéia de que nos separamos, no mundo, apesar de sentir-me amparada, incessantemente, por minha mãe e pelo carinho do seu pai.
               Quando você se encontra a sós, pensando... Pensando... muitasMuitas vezes, sou atraída por suas meditações e, em minha companhia, revejo nossos dias escuros e difíceis em mina viuvez iniciante. Uma ansiedade dolorosa me constrange o coração, nesses encontros...
               É que desejava fazer-me visível aos seus olhos e acariciar seus cabelos, como em outro tempo. Em vão, procuro dizer a você, que estou viva, que a morte é ilusão. Inutilmente busco um meio de arrancá-la das reflexões tristes, arrebatando-a das sombras íntimas, para restituir seu espírito à alegria; mas sou forçada a receber suas perguntas doloridas e esperar...
               Filha de meu coração, rogo-lhe se reanime.
               Não estamos separadas para sempre.
               O túmulo é apenas uma porta que se abre no caminho da vida, da vida que continua sempre vitoriosa.
               Quando você puder, interessa-se pelos estudos da alma eterna.
               Guarde a sua fé em Deus, como lâmpada acesa para todos os caminhos do mundo.
               Tudo na terra é passageiro.
               Ainda ontem estávamos juntas, conversando, unidas, quanto aos nossos problemas; e, hoje, tão perto pelo coração, mas tão longe pelos olhos da carne, ma da outra, somos obrigadas a colocar a saudade e a recordação no lugar da presença e da comunhão mais íntima, em nossa alma.
               Tenha paciência, minha filha, e nunca perca a serenidade.
               Estarei com você, em todos os seus passos.
               Abraçada às suas orações e às lembranças carinhosas, eu me fortalecem para a jornada nova, e rogando a você muita tranqüilidade e confiança em Deus, sou a mamãe muito amiga, que vive constantemente com você pelo coração.

Noêmia.
Do livro “Relicário de Luz”, de Francisco Cândido Xavier.

 

 

DOENÇAS E CORPO ESPIRITUAL

               GENTILE: Dr. Elias Barbosa, as doenças antes de aparecerem no corpo físico se manifestam no corpo espiritual? Terão, acaso, origem nos mecanismos da mente?

               DR. ALIAS: Não temos dúvida de que antes de aparecer no corpo físico, que se constitui uma veste do espírito, a doença se manifeste na mente. Isto é compreensível se analisarmos o indivíduo, por exemplo, que se desencarna numa situação de violência, ingerindo, suponhamos substância cáustica.
               Depois de atravessar períodos de sofrimento nas regiões purgatoriais da Espiritualidade, por tempo mais ou menos longo, quando retorne à Terra, é natural que ele traga a região comprometida do trato digestivo com alterações funcionais ou muitas vezes anatômicas, porque houve lesão do corpo físico que ele deixou na Terra em circunstâncias drásticas, com repercussão no corpo espiritual.
               Por exemplo, se ele ingeriu um metal pesado, cuja eliminação se faz principalmente por via renal, é claro que ele deverá renascer, com órgãos comprometidos, apresentarão muitas vezes alterações embrionárias, acarretando a esse espírito reencarnado sofrimento e dificuldade.
               E, de um modo geral, no que se refere às doenças mentais, ou indivíduos portadores de complexos de culpa muito intensos, no Mundo Espiritual, reencarnam em situações por vezes deploráveis, tentando fugir à realidade ou tornando-se psicóticos. Essa situação de pânico se instalou na vida dele em decorrência da pratica de autodestruição ou do mal, contra quem quer que seja. E, ainda, se verificarmos todos os tipos de enfermidades, concluiremos que para a doença se instalar, é evidente que terá de ser primariamente no espírito.
               E, a propósito, queremos nos lembrar que de um livro de Carl Gustav Jung, intitulado “Psicologia e Religião”.
               Nesse livro, Jung considera que num individuo portador de qualquer processo blastomatoso, semelhante processo não pode estar localizado somente no corpo. E acrescenta que no individuo deverá existir um corpo espiritual e na tessitura desse corpo deverá existir também esse tumor, primariamente. Julga o notável psicanalista que para existir o tumor no corpo físico, deverá também existir na tessitura do corpo espiritual.
               Em Doutrina Espírita, esta é a realidade que os Espíritos Amigos nos informam.
               O problema das doenças decorre da gravidade da culpa. Quer dizer, conforme a gravidade da prática do mal, será o tipo de doença.
               A doença surge na Terra, a beneficio da própria pessoa, às vezes para salva-la de certas situações em que ela cairia, conforme caiu em mais de dez, vinte existências anteriores.
               O indivíduo nasce com determinada doença, como medida curativa do espírito.
               A criatura, acostumada, durante existências e existências, a roubar, a lançar mão do alheio, poderá em certa existência pedir para nascer sem mãos, a fim d e que e aprenda a não roubar. Antes de nascer sem as mãos, possivelmente haja passado por mais de dez ou vinte existências sofrendo do que nós chamamos cleptomania.
               Vejamos uma outra possibilidade, qual acontece naquele caso descrito em “Memórias de um Suicida”, em que um companheiro havia subtraído a vida da esposa; os complexos de culpa foram tão intensos, que a mão se lhe foi ressecando no Plano Espiritual, e quando renasceu na Terra, trazia consigo a lesão conseqüente.

Do livro “A Terra e o Semeador”, de Francisco C. Xavier.

A VOCÊ QUE ESTÁ CHEGANDO

               Hoje a palavra é para você, companheiro de muitas procuras, que chega à Casa Espírita em busca do bálsamo que alivie uma grande dor, da palavra que ajude a superar um momento de crise ou que preencha algum "não sei quê?" esquisito que lhe deixa enorme vazio cá dentro do peito.
               Talvez esta seja a derradeira porta, após tantas tentativas de encontrar o equilíbrio, a paz, enfim, o sentido da vida.                E o seu coração se divide agora entre esperanças e temores. Afinal, foram tantas as frustrações... Mas, como diz a canção da Zizi Possi... "Vá, e entre por aquela porta ali, não tem caminho fácil não, é só dar um tempo que o amor chega até você"...
               Pois é, amigo, grupos espíritas não são igrejas. São espaços fraternos de vivência do Evangelho de Jesus, à luz da Doutrina Espírita, uma espécie de oficinas do bem, onde se busca, em conjunto, aprender e exercitar esse tão decantado amor ao próximo. Então, por favor, não nos idealize. Não espere uma bondade e elevação que ainda não possuímos.
               O espírita professa uma fé racional que, facilitando a compreensão dos porquês da existência, aumenta também a responsabilidade de uma mudança de atitude para melhor diante dos desafios cotidianos da vida. Porém, não nos enganamos, nem queremos lhe enganar a respeito de quem somos. Somos exatamente como você. Sentimos as mesmas dificuldades afetivas, emocionais, sexuais, espirituais e tantas outras, inerentes à nossa condição humana de seres em evolução. Estamos todos no mesmo barco, amigo, mas remar juntos para chegarmos em segurança à outra margem da vida que é o nosso destino e lugar de origem - certamente fará toda a diferença. E isto nós queremos e podemos fazer.
               Não temos rituais ou chefes religiosos. Trabalhamos em regime de cooperação fraterna e voluntária, conforme as aptidões e disponibilidades de cada um, em benefício de todos os que aqui chegam. Por isto, querido amigo, ao entrar por aquela porta, não espere encontrar sacerdotes in¬vestidos de superioridade ou poder. Não espere encontrar um grupo seleto de iniciados em "mistérios do Além" ou indivíduos infalíveis que lhe digam, a todo tempo, o que fazer, pois encontrará apenas pessoas comuns, com muitas certezas e convicções sim, mas também com crises e inseguranças, tais como as suas.                Aqui você vai encontrar aprendizes na arte de servir. Gente que se sente feliz em contribuir para a felicidade alheia, pessoas sempre prontas a acolher, ouvir e amparar. Não suponha, porém, que estejamos isentos de provas e problemas.                Assim como você, lutamos e sofremos. Apenas optamos pela ação no bem como forma de trabalhar em nós mesmos o próprio aperfeiçoamento, contribuindo para a construção de uma sociedade melhor, ao mesmo tempo em que busca¬mos, no estudo e no trabalho, as respostas e a coragem necessárias para enfrentar as nossas próprias batalhas na arena da vida.
               Entre nós, encontrará também companheiros esforçados na tarefa de consolar e esclarecer.
               Não nos tenha, porém, como sábios inquestionáveis ou seres san¬tificados. Assim como você, não vivemos alheios às dificuldades do mundo. Creia, amigo, o nosso maior desafio é exemplificar, na prática, as verdades espirituais que conhecemos e pregamos. No dia-a-dia, sobretudo lá fora, esforçamo-nos por ser pessoas mais pacificadoras, generosas, fraternais, e, sinceramente, nem sempre o conseguimos...
               Mas, se é grande ainda a nossa imperfeição, maior é a alegria de vê-lo chegar. E assim como Pedro, o apóstolo rude e sincero de Jesus, apesar do reconhecimento da nossa pequenez humana e espiritual, é muito bom poder aconchegá-lo com carinho e lhe dizer do fundo do co¬ração: "Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho vos dou". (Atos, 3:6.)
               Caminhemos juntos!

Joana Abranches
Fonte: Revista Reformador, da FEB, de dezembro de 2009.


O PAI E O CONSCRITO

               No começo da guerra da Itália, em 1859, um negociante de Paris, pai de família, gozando de estima geral por parte dos seus vizinhos, tinha um filho que fora sorteado para o serviço militar. Impossibilitado de o eximir de tal serviço, ocorreu-lhe a idéia de suicidar-se a fim de o isentar do mesmo, como filho único de mulher viúva. Um ano mais tarde, foi evocado na Sociedade de Paris a pedido de pessoa que o conhecera, desejosa de certificar-se da sua sorte no mundo espiritual.
               (A S. Luís.) — Podereis dizer-nos se é possível evocar o Espírito a que vimos de nos referir? — R. Sim, e ele ganhará com isso, porque ficará mais aliviado.
               1. Evocação. — R. Oh! Obrigado! Sofro muito, mas... É justo. Contudo, ele me perdoará.
               O Espírito escreve com grande dificuldade; os caracteres são irregulares e malformados; depois da palavra mas, ele pára, e, procurando em vão escrever, apenas consegue fazer alguns traços indecifráveis e pontos. É evidente que foi a palavra Deus que ele não conseguiu escrever.
               2. Tende a bondade de preencher a lacuna com a palavra que deixastes de escrever.
               — R. Sou indigno de escrevê-la.
               3. Dissestes que sofreis; compreendeis que fizestes muito mal em vos suicidar; mas o motivo que vos acarretou esse ato não provocou qualquer indulgência?
               — R. A punição será menos longa, mas nem por isso a ação deixa de ser má.
               4. Podereis descrever-nos essa punição?
               — R. Sofro duplamente, na alma e no corpo; e sofro neste último, conquanto o não possua, como sofre o operado a falta de um membro amputado.
               5. A realização do vosso suicídio teve por causa unicamente a isenção do vosso filho, ou concorreram para ele outras razões?
               — R. Fui completamente inspirado pelo amor paterno, porém, mal inspirado. Em atenção a isso, a minha pena será abreviada.
               6. Podeis precisar a duração dos vossos padecimentos?
               — R. Não lhes entrevejo o termo, mas tenho certeza de que ele existe, o que é um alívio para mim.
               7. Há pouco não vos foi possível escrever a palavra Deus, e no entanto temos visto Espíritos muito sofredores fazê-lo: será isso uma conseqüência da vossa punição?
               — R. Poderei fazê-lo com grandes esforços de arrependimento.
               8. Pois então fazei esses esforços para escrevê-lo, porque estamos certos de que sereis aliviado. (O Espírito acabou por traçar esta frase com caracteres grossos, irregulares e trêmulos: — Deus é muito bom.)
               9. Estamos satisfeitos pela boa vontade com que correspondestes à nossa evocação, e vamos pedir a Deus para que estenda sobre vós a sua misericórdia.
               — R. Sim, obrigado.
               10. (A S. Luís.) — Podereis ministrar-nos a vossa apreciação sobre esse suicídio?
               — R. Este Espírito sofre justamente, pois lhe faltou a confiança em Deus, falta que é sempre punível. A punição seria maior e mais duradoura, se não houvera como atenuante o motivo louvável de evitar que o filho se expusesse à morte na guerra. Deus, que é justo e vê o fundo dos corações, não o pune senão de acordo com suas obras.
               Observações — À primeira vista, como ato de abnegação, este suicídio poder-se-ia considerar desculpável.                Efetivamente assim é, mas não de modo absoluto. A esse homem faltou a confiança em Deus, como disse o Espírito S. Luís. A sua ação talvez impediu a realização dos destinos do filho; ao demais, ele não tinha a certeza de que aquele sucumbiria na guerra e a carreira militar talvez lhe fornecesse ocasião de adiantar-se. A intenção era boa, e isso lhe atenua o mal provocado e merece indulgência; mas o mal é sempre o mal, e se o não fora, poder-se-ia, escudado no raciocínio, desculpar todos os crimes e até matar a pretexto de prestar serviços.
               A mãe que mata o filho, crente de o enviar ao céu, seria menos culpada por tê-lo feito com boa intenção? Aí está um sistema que chegaria a justificar todos os crimes cometidos pelo cego fanatismo das guerras religiosas.
               Em regra, o homem não tem o direito de dispor da vida, por isso que esta lhe foi dada visando deveres a cumprir na Terra, razão bastante para que não a abrevie voluntariamente, sob pretexto algum. Mas, ao homem — visto que tem o seu livre-arbítrio — ninguém impede a infração dessa lei. Sujeita-se, porém, às suas conseqüências. O suicídio mais severamente punido é o resultante do desespero que visa a redenção das misérias terrenas, misérias que são ao mesmo tempo expiações e provações. Furtar--se a elas é recuar ante a tarefa aceita e, às vezes, ante a missão que se devera cumprir. O suicídio não voluntário que produz a morte instantânea, mas em tudo quanto se faça conscientemente para apressar a extinção das forças vitais.
               Não se pode tachar de suicida aquele que dedicadamente se expõe à morte para salvar o seu semelhante: primeiro, porque no caso não há intenção de se privar da vida, e, segundo, porque não há perigo do qual a Providência nos não possa subtrair, quando a hora não seja chegada. A morte em tais contingências é sacrifício meritório, como ato de abnegação em proveito de outrem. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, itens nos 5, 6, 18 e 19.)

Do livro “O Céu e o Inferno”, de Allan Kardec, edição FEB

DOLOROSO CRIME

               “- e aborto provocado, Assistente? – inquiriu Hilário, sumamente interessado. – Diante da circunspeção com que a sua palavra reveste o assunto, é de se presumir seja ele falta grave...
               - Falta grave?! Será melhor dizer doloroso crime. Arrancar uma criança ao materno seio é infanticídio confesso. A mulher que o promove ou que venha a coonestar semelhante delito é constrangida, por leis irrevogáveis, a sofrer alterações deprimentes no centro genésico de sua alma, predispondo-se geralmente a dolorosas enfermidades, quais sejam a metrite, o vaginismo, a metralgia, o enfarte uterino, a tumoração cancerosa, flagelos esses com os quais, muita vez, desencarna, demando o Além para responder, perante a Justiça Divina, pelo crime praticado. É, então,que se reconhece rediviva, mas doente e infeliz, porque, pela incessante recapitulação mental do ato abominável, através do remorso, reterá por tempo longo a degenerescência das forças genitais.
               - E como se recuperará dos lamentáveis acidentes dessa ordem?
               O Assistente pensou por momentos rápidos e acrescentou:
               - Imaginem vocês a matriz mutilada ou deformada, na mesa de cerâmica. Decerto que o oleiro não se utilizará dela para a modelagem de vaso nobre, mas aproveitar-lhe-á o concurso em experimentos de segunda e terceira classe... A mulher que corrompeu voluntariamente o seu centro genésico receberá de futuro almas que viciaram a forma que lhes é peculiar, e será mãe de criminosos e suicidas, no campo da reencarnação, regenerando as energias sutis do perispírito, através do sacrifício nobilitante com que se devotará aos filhos torturados e infelizes de sua carne, aprendendo a orar, a servir com nobreza e a mentalizar a maternidade pura e sadia, que acabará reconquistando ao preço de sofrimento e trabalho justos...” ”

André Luiz
Do livro “Ação e Reação”, de Francisco Cândido Xavier.

 

 

 

EDUCAÇÃO NO LAR

“Vós fazeis o que também vistes junto de vosso pai.” – Jesus. (João, 8:38.)

               Preconiza-se na atualidade do mundo uma educação pela liberdade plena dos instintos do homem, olvidando-se, pouco a pouco, os antigos ensinamentos quanto á formação do caráter no lar; a coletividade, porém, cedo ou tarde, será compelida a reajustar seus propósitos.
               Os pais humanos têm de ser os primeiros mentores da criatura. De sua missão amorosa, decorre a organização do ambiente justo. Meios corrompidos significam maus pais entre os que, a peso de longos sacrifícios, conseguem manter, na invigilância coletiva, a segurança possível contra a desordem ameaçadora.
               A tarefa doméstica nunca será uma válvula para gozos improdutivos, porque constitui trabalho e cooperação com Deus. O homem e a mulher que desejam ao mesmo tempo ser pais e gozadores da vida terrestre, estão cegos e terminarão seus loucos esforços, espiritualmente falando, na vala comum da inutilidade.
               Debalde se improvisarão sociólogos para substituir a educação no lar por sucedâneos abstrusos que envenenam a alma. Só um espírito que haja compreendido a paternidade de Deus, acima de tudo, consegue escapar à lei pela qual os filhos sempre imitarão os pais, ainda quando estes sejam perversos.
Ouçamos a palavra do Cristo e, se tendes filhos na Terra, guardai a declaração do Mestre, como advertência.

Emmanuel
Do livro “Caminho, Verdade e Vida”, de Francisco Cândido Xavier, edição FEB.

EXCESSO E VOCÊ

               Amigo, Espiritismo é caridade em movimento.
               Não converta o próprio lar em museu.
               Utensílio inútil em casa será utilidade na casa alheia.
               O desapego começa das pequeninas coisas, e o objeto conservado, sem aplicação no recesso da moradia, explora os sentimentos do morador.
               A verdadeira morte começa na estagnação.
               Quem faz circular os empréstimos de Deus, renova o próprio caminho.
               Transfigure os apetrechos, que lhe sejam inúteis, em forças vivas do bem.
               Retire da despensa os gêneros alimentícios, que descansem esquecidos, para a distribuição fraterna aos companheiros de estômago atormentado.
               Revista o guarda-roupa, libertando os cabides das vestes que você não usa, conduzindo-as aos viajores desnudos da estrada.
               Estenda os pares de sapatos, que lhe sobram, aos pés descalços que transitam em derredor.
               Elimine do mobiliário as peças excedentes, aumentando a alegria das habitações menos felizes.
               Revolva os guardados em gavetas ou porões, dando aplicação aos objetos parados de seu uso pessoal.
               Transforme em patrimônio alheio os livros empoeirados que você não consulta, endereçando-os ao leitor sem recursos.
               Examine a bolsa, dando um pouco mais que os simples compromissos da fraternidade, mostrando gratidão pelos acréscimos da divina misericórdia que você recebe.
               Ofereça ao irmão comum alguma relíquia ou lembrança afetiva de parentes e amigos, ora na pátria espiritual, enviando aos que partiram maior contentamento com tal gesto.
               Renovemos a vida constantemente, cada ano, cada mês, cada dia...
               Previna-se hoje contra o remorso amanhã.
               O excesso de nossa vida cria a necessidade do semelhante.

André Luiz.
Do livro “O Espírito de Verdade”, de Francisco Cândido Xavier.

EXPIAÇÃO

               Considerando que a vida no corpo só se justifica para o Espírito se se levar em conta à necessidade que tem de evoluir, até ao ponto de não mais estar sujeito à esteira extensa das reencarnações, é de voa oportunidade transcrever-se também o caso em frente, narrado no livro de Adelino (Chico de Francisco), Adelino da Silveira.
               Chico visitou durante muitos anos um jovem que tinha o corpo totalmente deformado e que morava num barraco à beira de uma mata. O estado de alienado mental era completo. A mãe deste jovem era também muito doente e o Chico a ajudava a banhá-lo, alimentá-lo e a fazer a limpeza do pequeno cômodo em que moravam.
               O quadro era tão estarrecedor que, numa de suas visitas em que um grupo de pessoas o acompanhava, um médico perguntou ao Chico:
               - Nem mesmo neste caso a eutanásia seria perdoável?
               - Não creio, doutor, respondeu-lhe o Chico. Este nosso irmão, em sua última encarnação, tinha muito poder. Perseguiu, prejudicou e com torturas desumanas tirou a vida de muitas pessoas. Algumas o perdoaram, outras não e o perseguiram durante toda sua vida. aguardaram o seu desencarne e, assim eu ele deixou o corpo, eles o agarraram e o torturaram de todas as maneiras durante muitos anos. Este corpo disforme e mutilado representa uma bênçâo para ele. Foi o único jeito que a Providência Divina encontrou para esconde-lo de seus inimigos. Quanto mais tempo agüentar, melhor será. Com o passar dos anos, muitos de seus inimigos o terão perdoado. Outros terão reencarnado. Aplicar a eutanásia seria devolve-lo às mãos de seus inimigos para que continuassem a tortura-lo.
               - E como resgatará ele seus crimes? – Inquiriu o médico.
               - Irmão X costuma dizer que Deus usa o tempo e não a violência.

Weimar Muniz de Oliveira
Revista reformador, outubro de 1994.

BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO BRANDOS E PACÍFICOS

               1. Bem-aventurados os que são brandos, porque possuirão a Terra. (S. Mateus, 5:5.)
               2. Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus. (S. Mateus, 5:9.)
               3. Sabeis que foi dito aos antigos: não matareis e quem quer que mate merecerá condenação pelo juízo. – Eu, porém, vos digo que quem quer que se puser em cólera contra seu irmão merecerá condenação no juízo; que aquele que disser a seu irmão: Racca, merecerá condenado pelo conselho; e que aquele que lhe disser: És louco, merecerá condenado ao fogo do inferno. (S. Mateus, 5:21 e 22).
               4. Por estas máximas, Jesus faz da brandura, da moderação, da mansuetude, da afabilidade e da paciência, uma lei. Condena, por conseguinte, a violência, a cólera e até toda expressão descortês de que alguém possa usar para com seus semelhantes. Racca, entre os hebreus, era um termo desdenhoso que significava homem que não vale nada, e se pronunciava cuspindo virando para o lado a cabeça. Vai mesmo mais longe, pois que ameaça com o fogo do inferno aquele que disser a seu irmão. És louco.
               Evidente se torna que aqui, como em todas as circunstâncias, a intenção agrava ou atenua a falta; mas, em que pode uma simples palavra revestir-se de tanta gravidade que mereça tão severa reprovação? É que toda palavra ofensiva exprime um sentimento contrário à lei do amor e da caridade que deve presidir às relações entre os homens e manter entre eles a com concórdia e a união; é que constitui um golpe desferido na benevolência recíproca e na fraternidade; é que entretém o ódio e a animosidade; é, enfim, que, depois da humildade para com Deus, a caridade para com o próximo é a lei primeira de todo o cristão.

Allan Kardec
Do livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

EVANGELIZAÇÃO DA CRIANÇA

               Encontramos no movimento de Evangelização da criança, aquele verdadeiro movimento de formação espiritual da infância, diante do futuro!.
                  Com essas palavras, o nosso querido companheiro Chico Xavier inicia sua entrevista concedida ao Triangulo Espírita, a propósito do mais sério movimento espírita nacional: a evangelização da criança. Eis, na íntegra, a entrevista.
                Formação Espiritual da Infância
               P – Como o senhor vê o movimento de Evangelização da criança?
               R – Há muitos anos, nós todos, os companheiros da Doutrina Espírita, encontramos no movimento de Evangelização da Criança, aquele verdadeiro movimento de formação espiritual da infância, diante do futuro. Há muito tempo acompanho o Departamento de Infância e Juventude da Federação Espírita do Estado de São Paulo, e admiro profundamente o trabalho que ali se realiza neste setor.
               Apoio aos Evangelizadores
               P – Qual a tarefa do dirigente espírita junto aos evangelizadores?
               R – Cremos que o dirigente de Instituição Espírita, a nosso ver, deveria prestigiar no máximo o trabalho dos evangelizadores, porque eles funcionam dentro da Organização Espírita-Cristã, como legítimos educadores dos pequeninos que amanhã tomarão o nosso lugar, em todos os setores da experiência terrestre.
               Esse trabalho é grande e sublime demais para ser subestimado, por isso mesmo nós admitimos, que o assunto não pode escapar do apoio dos dirigentes espíritas, que, naturalmente, se estão devidamente conscientizados de suas tarefas, hão de apoiar os professores como sendo companheiros dos mais estimáveis na Seara Espírita evangeliza.
                Simpósio sobre Evangelização da Criança.
               P – O que o senhor acha na realização do Simpósio sobre a Evangelização da Criança?
               R- Nós acreditamos que o Simpósio é uma necessidade, porque favorece a troca de pontos de vista e dos estudos experimentais que possam ser realizados em torno da educação espírita-cristã, dedicada à criança; antes da ministração de ensinamentos mais claros e mais definitivos da Doutrina Espírita, aplicada à nossa própria vivência, no caminho comum da Terra.
               O Simpósio é como se fora uma reunião de pais ou responsáveis observando eu tipo de alimentação pode ser dado a de terminadas comunidades infantis. Antes das lições em si, o Simpósio é sempre uma preparação de contatos. E nós não podemos esquecer isto, sem nos perdermos na precipitação, que acaba sempre em prejuízo e em atividade inútil dentro de nossas instituições.
               Programa de Estudos
               P- Quais as matérias que os espíritos gostariam que fossem estudadas neste Simpósio?
               R- Temos ouvido o espírito de Emmanuel há muitos anos com respeito a estes assuntos, e ele admite, sem nenhuma exigência, porque os nossos amigos espirituais não nos violentam em atitude alguma, ele considera que seria muito interessante os professores encarnados na Terra, e que se encontram nessa maravilhosa tarefa de preparação do futuro na mente infantil, ele considera que seria interessante reuniões deles, selecionando os temas espíritas, dentro da atualização dos nossos processos atuais de vivencia, para que a criança possa se desenvolver para a vida adulta, com o conhecimento possível das estradas da experiências que a esperam no dia de amanhã.Nós sempre nos desvelamos em nossas casas, no ensino da bondade, do perdão, das atitudes evangélicas em si, mas precisávamos descobrir um meio de comunicar à criança, algum ensinamento em torno da Lei de Causa e Efeito, mostrando determinados tópicos dos mais expressivos para o mundo infantil, com respeito à reencarnação, o problema da imortalidade da alma.
               Muitas vezes, encontramos crianças traumatizadas pela perda de irmãos pequeninos, pela perda de pais, pela perda de amigos, de parentes próximos, e nos esquecemos de que os pequeninos, também, esperam uma palavra de consolo e de esclarecimento, qual acontece com os adultos, diante dos processos de desencarnação.
                E muitas vezes, nós esquecemos de conduzir a criança para este tipo de lição, para este tipo de comentários, com receio de apressar na mente da criança determinados pensamentos com relação à morte do corpo. Precisávamos estudar quais os meios de começar a oferecer à criança, bases para que ele se conheça no mundo em que está vivendo e naquele mundo social em que ela vai viver.
               Mas, é assunto dos professores, porque os espíritos amigos dizem sempre que, aqueles que se reencarnam na Terra para determinadas tarefa, não devem ser incomodados com opiniões estranhas a eles mesmos, desde que, se eles receberam estes encargos, é porque eles os merecem, e está na órbita das responsabilidades deles.
               Os professores espíritas reencarnados têm essa responsabilidade, esse encargo a cumprir, selecionar os assuntos, para fortalecer e amparar a criança diante do futuro.

Emmanuel
Do livro “A Terra e o Semeador”, de Francisco Cândido Xavier

 

“O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza.”

O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec.

 

 

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ANO V - Nº53– Campo Grande – MS – Junho de 2010.
EDIÇÃO DO CENTRO ESPÍRITA “VALE DA ESPERANÇA”
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